Dano causado pela degradação da Amazônia está subestimado
BRUNO CALIXTO
10/06/2014 07h00
- Atualizado em
10/06/2014 07h45
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Na semana passada, a ONU e a Union of Concerned Scientists publicaram um relatório
mostrando que o Brasil é um exemplo para o mundo na forma como vem
conservando a Amazônia. O elogio não é infundado. Desde 2004, as medidas
ambientais brasileiras conseguiram reduzir e controlar as altíssimas
taxas de desmatamento da floresta Amazônia. Estima-se que o Brasil conseguiu reduzir em 70% o desmatamento.
Com menos árvores sendo derrubadas, o país passou a emitir uma
quantidade menor de carbono, gás responsável pelo aquecimento global.
Isso colocou o Brasil a caminho de cumprir sua meta de redução de
emissões definida na ONU. Só tem um problema: segundo um novo estudo,
publicado na revista científica Global Change Biology, esses dados estão subestimados.De acordo com o estudo, o governo brasileiro calculou as emissões causadas pelo desmatamento - a supressão total da floresta - mas não considerou as emissões causadas pela degradação florestal. Quando uma área é degradada, ela perde árvores nobres pela derrubada seletiva, sofre queimadas e vai perdendo árvores aos poucos, mas grande parte da cobertura florestal se mantém. Esse processo também emite carbono. "Há uma perda muito grande de carbono nas florestas degradadas que não está sendo contabilizada pelo governo brasileiro", diz Erika Berenguer, pesquisadora da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e autora do estudo.
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Foram três anos de análise, sendo que mais da metade em campo, em Santarém e Paragominas, no Pará. Uma equipe de mais de cinquenta pessoas trabalhou na metodologia recomendada pelo IPCC. Eles literalmente mediram as árvores, as folhas mortas e o solo para saber quanto carbono se perde em cada situação. Com base nesses dados, eles calcularam o quanto isso representaria para toda a Amazônia. O resultado: o governo deixa de contar 54 milhões de toneladas de carbono equivalente.
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Floresta não perturbada x degradada
Um dos pontos que chama a atenção no estudo é que a degradação muda a estrutura da floresta. As florestas não perturbadas, sem sinal de fogo ou desmatamento, têm árvores grandes e um cenário que parece saído de um documentário. Já as degradadas têm árvores pequenas e densas, com muito mato e poucas árvores nobres. As duas fotos abaixo mostram a diferença entre elas.
O fato dos cálculos estarem subestimados não tira o êxito da política brasileira de controle no desmatamento. Segundo Erika, é na verdade uma oportunidade para o Brasil prestar atenção nas florestas degradadas. "A queda no desmatamento funcionou, resultado de políticas públicas eficientes e o comprometimento de empresas. Agora, precisamos dar o próximo passo, com políticas voltadas para o controle da degradação". Ela acredita que o primeiro passo poderia ser uma medida para controlar o uso do fogo na agricultura, que frequentemente se alastra nas florestas, degradando a Amazônia.