Não pode ser coincidência |
Ver um gato preto desperta uma sensação desagradável em muita gente; estudos mostram por que a crença no sobrenatural é tão enraizada: supor associações, inclusive onde elas não existem, pode ter suas vantagens |
por Thomas Grüter |
[continuação] MELHOR NÃO CORRER RISCO Beck e Forstmeier supõem que para seres humanos a visão de mundo e o conhecimento sobre relações causais também influenciam a forma como as coincidências são avaliadas. Quem, portanto, sabe que na região não há tigres naturalmente também não precisa fugir. Essa avaliação, por sua vez, exerce influência sobre o conhecimento de mundo e melhora os fundamentos para todos os julgamentos seguintes. Tais considerações ocorrem extensamente de forma inconsciente e são constantemente reajustadas. Se a tendência à superstição é uma vantagem para a sobrevivência, ela naturalmente também poderia ser hereditária. No início de 2009, os biólogos Kevin Foster e Hanna Kokko, da Universidade Harvard e da Universidade de Helsinque, respectivamente, publicaram um modelo matemático com o qual calcularam se a herança de comportamentos supersticiosos oferecia vantagens evolucionárias. “Supersticioso” significa aqui que os animais reagem a um estímulo ambíguo preferencialmente como se estivessem diante de um perigo real. Os pesquisadores partiram do pressuposto de que indícios reais de uma ameaça nem sempre podem ser diferenciadosdos falsos. Um predador que se aproxima sorrateiro pela mata pode ser percebido pelo farfalhar dos ramos, então existe um grande perigo. Mas o vento também provoca o movimento das árvores – uma situação totalmente inofensiva. Se ambos os sons não podem ser diferenciados com certeza, a reação supersticiosa a qualquer farfalhar é a variante mais segura.Com isso, um comportamento aparentemente supersticioso, segundo os pesquisadores, seria uma parte inevitável da capacidade de adaptação de toda espécie animal, inclusive dos humanos. Caso isso esteja correto, todos os homens deveriam ser supersticiosos na mesma medida, mas a maioria das pesquisas mostra o oposto: a tendência à superstição está distribuída de forma muito desigual e depende também da psique de cada um. Os psicólogos Marjaana Lindeman e Kia Aarnio, da Universidade de Helsinque, perguntaram em 2006 a mais de 200 pessoas se compreendiam afirmações como “móveis antigos conhecem o passado” ou “um pensamento malvado está contaminado” literal ou metaforicamente. Eles queriam, com isso, descobrir se os sujeitos misturavam categorias como “vivo”, “espiritual” ou “inanimado”, ou seja, se atribuíam características imateriais a objetos. Além disso, as pessoas testadas tinham de decidir se, em sua opinião, haveria um sentido por trás de acontecimentos casuais – como por exemplo “os freios do seu carro não funcionam e você bate no carro de um desconhecido, com quem você mais tarde se casa” |
quinta-feira, 25 de março de 2010
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