29/02/2012 - 19:31
Exploração espacial
Cientistas usam a Terra para descobrir vida alienígena
Novo método utiliza a Terra como modelo e aumenta precisão das técnicas de identificação de vida em outros planetas

Cientistas usam técnica para descobrir que há vida na
Terra. Apesar da conclusão óbvia, novo método vai permitir procurar por
ambientes semelhantes ao planeta em locais distantes do Sistema Solar
(Thinkstock)
Astrônomos usaram a própria Terra para aumentar a precisão dos modelos
que procuram pela vida em outros planetas. Os cientistas analisaram a
radiação terrestre refletida pela Lua como se estivessem estudando um
planeta fora do Sistema Solar e concluíram... que existe vida na Terra. A
"descoberta" mostra que a técnica poderá ser usada na procura por
ambientes semelhantes fora do Sistema Solar. O trabalho será publicado
em março na revista britânica
Nature.
ESO
A Lua aparece acima do VLT, o maior telescópio ótico do mundo, no deserto do Atacama, no Chile
Lâmpada brilhante — A técnica tira vantagem do
bate-rebate da luz entre estrelas, planetas e satélites naturais. No
Sistema Solar, o Sol ilumina a Terra e essa radiação é refletida para a
superfície da Lua. Por sua vez, a superfície lunar atua como um espelho
gigante e reflete a radiação terrestre de volta à Terra. Os métodos
tradicionais analisam apenas o quão brilhante é a radiação ao ser
rebatida pelos corpos celestes. Ao ser refletida inúmeras vezes, a luz
vai perdendo intensidade. Contudo, é muito difícil dizer se a luz
observada vem da estrela ou foi refletida pelo planeta, daí a
imprecisão. "A radiação emitida por um planeta distante é muito fraca em
relação ao brilho da sua estrela, por isso ela é muito difícil de
analisar. É um pouco como estudar um grão de poeira que se encontre ao
lado de uma lâmpada muito brilhante", diz Stefano Bagnulo, do
Observatório Armagh, na Irlanda do Norte, e coautor do estudo.
Ao rebater em diferentes astros, a radiação é capaz de absorver
informações específicas que denunciam as características dos lugares
onde passou. No caso da Terra, essas informações se traduzem na presença
de água, nuvens, vegetação e moléculas necessárias à vida. Para
identificar com grande precisão a diferença entre a radiação que sai da
estrela e a que é rebatida pela Lua, em vez de analisar apenas quão
brilhante é a radiação refletida, os cientistas agora estudaram sua
polarização.
Sem dúvidas — Dizer que a radiação é polarizada
significa dizer que seus campos elétrico e magnético têm uma mesma
orientação, ao contrário da radiação não polarizada. Ao fazer essa
diferenciação, os cientistas conseguem dizer exatamente de onde a
radiação vem — da estrela, planeta ou refletida pelo satélite natural.
"A radiação refletida pelo planeta é polarizada enquanto que a radiação
emitida pela estrela não é", explica Bagnulo. O método, segundo os
autores, não deixa margem de dúvidas sobre as informações que apontam
para a presença de vida na Terra.
ESO/L. Calçada
Bate-rebate: Analisar a polarização da luz solar
refletida pela Terra permite mais precisão na busca por sinais de vida. O
modelo será utilizado para analizar a luz refletida por outros planetas
fora do Sistema Solar
A equipe utilizou o
Very Large Telescope, o maior telescópio ótico do mundo,
do Observatório Europeu do Sul, para estudar a radiação emitida pela
Terra após a reflexão pela Lua, tal como se a luz viesse de um
exoplaneta. Eles conseguiram deduzir que a atmosfera terrestre é
parcialmente nublada, que parte da superfície se encontra coberta por
oceanos e — mais importante ainda — que existe vegetação. A equipe
conseguiu inclusive detectar variações na cobertura de nuvens e na
quantidade de vegetação em épocas diferentes, correspondentes a
diferentes regiões da Terra. Como a técnica identificou com sucesso a
vida na Terra, os especialistas esperam que ela tenha o mesmo sucesso ao
analisar a luz refletida por mundos fora do Sistema Solar.
Vida simples — "Este trabalho é um passo importante
para atingirmos a capacidade de detectar vida fora da Terra", diz o
coautor Enric Palle, do Instituto de Astrofisica de Canarias, na
Espanha. A nova técnica poderá dizer se há vida vegetal — baseada em
processos de fotossíntese — em outras partes do universo. Contudo, "não
estamos à procura de homenzinhos verdes ou evidências de vida
inteligente", diz. É que a técnica permite apenas a procura por formas
mais simples de vida.
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