segunda-feira, 29 de outubro de 2012

É bom esta sempre por dentro de certos acontecimentos que muitas vezes não sabemos.????

seg, 29/10/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
Sempre que falamos na possibilidade de um asteroide se chocar com a Terra, imediatamente pensamos em como escapar dessa colisão. Estatisticamente falando, impactos de objetos entre 5 m e 10 m de diâmetro ocorrem uma vez por ano e, apesar de eles terem energia equivalente à bomba atômica de Hiroshima, esses pequenos asteroides explodem na alta atmosfera e quase todos os destroços são vaporizados.
Objetos com mais de 50 m caem na Terra a cada mil anos e podem causar um belo estrago. Foi o que deve ter acontecido em Tunguska, na Sibéria, em 1908. Nesse evento, acredita-se que um asteroide tenha explodido na alta atmosfera, e a onda de choque arrasou a floresta a quilômetros de distância, provocando incêndios que escureceram a atmosfera. Além disso, mesmo não tendo atingido o solo, esse impacto produziu um terremoto de 5 graus de magnitude, com a energia liberada correspondendo à mil bombas de Hiroshima. Se essa explosão tivesse ocorrido sobre alguma cidade, teria causado uma tragédia e tanto.
Impactos na Terra de objetos com 1 km ou mais ocorrem a cada 500 mil anos e poderiam causar muitos estragos em escala global. Já choques com potencial de destruição em massa ocorrem a cada 10 milhões de anos. São estatísticas, mas podemos ficar tranquilos que colisões assim são realmente muito raras.

Mas o que fazer caso um desses asteroides resolva furar as estatísticas e seja descoberto em rota de colisão com a Terra?
A primeira ideia é mandar ao espaço, ou plantar, bombas nucleares para partir o asteroide. As dificuldades técnicas são imensas. Imagine acertar um alvo móvel, de 1 km, a uma distância de milhares ou mesmo milhões de km com um míssil que sai da Terra, que também se movimenta no espaço. Além disso, esse método poderia criar mais problemas.
As explosões não serão suficientes para desintegrar o asteroide. Na verdade, elas devem parti-lo em alguns pedaços ainda bem grandes, que continuarão em rota de colisão com a Terra. Um choque com uma rocha de 1 km é muito ruim, mas imagine uma chuva de destroços com centenas de metros de diâmetros! Seria muito pior.
Primeiro, as chances de grandes cidades serem atingidas aumentam. Segundo, com tantos impactos potentes acontecendo simultaneamente, terremotos fortíssimos devem acontecer por toda a Terra. Sem falar nos incêndios e tsunamis. Enfim, uma verdadeira hecatombe.
A solução mais segura é desviar, e não destruir, o asteroide. Essa técnica também usaria bombas nucleares, que explodiriam perto do objeto e não sobre ele. Outra técnica possível seria usar um trator gravitacional., que funciona colocando uma nave com muita massa na órbita do asteroide. A força gravitacional da nave, embora pequena, pode desviar aos poucos a trajetória dele. Com o passar dos anos, o desvio deve ser suficiente para que não haja uma colisão. Mas o grande problema desse método é a quantidade de combustível necessária para manter a nave no curso adequado.
Uma quarta estratégia, porém, foi anunciada esses dias: “paintball”! A ideia é esquisita e surgiu em um concurso promovido pelo Instituto de Tecnologia de Massachussetts, o famoso MIT. O estudante de doutorado Sung Wook Paek, do Departamento de Aeronáutica e Astronáutica, propôs que, caso um asteroide com alto poder destrutivo fosse identificado em órbita potencialmente perigosa, cápsulas de tinta branca deveriam ser disparadas em sua direção. Não a partir da Terra, mas do espaço, talvez da própria Estação Espacial Internacional (ISS), em uma estratégia que cobriria completamente de branco a superfície do asteroide.
De que isso adianta? A explicação é que o poder de refletir a luz do Sol (chamado de albedo) do asteroide aumenta muito. Praticamente tudo o que chega, é refletido. Quando a luz é refletida por um objeto qualquer, ele é empurrado levemente em sentido contrário. É o princípio de ação e reação da terceira lei de Newton. Acontece que esse empurrão é sutil demais para fazer alguma diferença instantânea, mas, com o passar dos anos, em objetos no espaço, esse efeito vai se acumulando e, aos poucos, a trajetória do objeto vai se alterando. Em 10 a 20 anos, o asteroide ruma por outra órbita e deixa de representar um perigo.
Paek usou o asteroide Apophis para testar numericamente sua teoria. Esse objeto tem massa de 27 bilhões de toneladas e 450 metros de diâmetro, e deve passar próximo à Terra em 2029 e 2036. De acordo com as simulações, cobrindo todo o asteroide de branco, levaria uns 20 anos para afastá-lo definitivamente.
Esse método (e o do trator gravitacional) não serve para situações de emergência ou de impacto imediato. Ele é adequado para os objetos com órbitas rasantes à Terra que, depois de dezenas ou centenas de anos, podem vir a colidir com a Terra. A grande vantagem é que asteroides desse tamanho, além de raros, são mais fáceis de descobrir.
A ideia do “paintball” ainda está no campo da ficção, pois as técnicas de disparo e as próprias  cápsulas ainda precisam ser desenvolvidas. A ilustração acima mostra como deveriam ser os disparos: uma “nuvem” esférica de cápsulas deve ser disparada em sincronia com a rotação do objeto, para que elas possam pintá-lo por inteiro, maximizando o impulso recebido da luz solar.
Mesmo parecendo piada, talvez essa fosse uma boa ideia estudar o método. As estatísticas são favoráveis, mas nunca se sabe…

Programa de fim de semana


sex, 19/10/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
Uma dica rápida para o fim de semana, se o tempo permitir é claro.
Na madrugada de sábado para domingo (20-21 de outubro) a Terra deve atravessar a órbita do cometa Halley,  famoso por ter sido o primeiro cometa a ter sua órbita calculada e, com isso, ter sua periodicidade conhecida: a cada 76 anos (mais ou menos) ele passa próximo da Terra. Em 1910 ele deu show; em 1986 ele decepcionou, quando todos esperavam outro show. Enfim…
Quando um cometa viaja pelo Sistema Solar, deixa um rastro de pedaços de rocha e gelo Toda vez que a Terra cruza essa trilha de destroços, ela os captura. Essas rochas e pedaços de gelo adentram a atmosfera terrestre, se aquecem tanto com o atrito com o ar que queimam rapidamente, brilhando no céu por pouco tempo.
É bem verdade que alguns desses pedaços de rocha são grandes o suficiente para brilhar por alguns segundos, sendo chamados de bólidos ou bolas de fogo, mas a grande maioria queima em menos de um segundo e são chamados de meteoros.


Se você estiver em um lugar escuro, já deve ter notado que volta e meia um desses meteoros cruza o céu, a famosa estrela cadente. São pedaços de rocha desgarrados no espaço, mas nos dias em que a Terra cruza a órbita de um cometa, a atividade de meteoros aumenta muito. Nesses dias temos o máximo de uma chuva de meteoros.
A “chuva” deste final de semana é chamada de Orinoídeas, pois os meteoros todos parecem surgir de um mesmo ponto do céu (chamado de radiante) localizado na constelação de Órion. Para achar essa constelação, lá para a meia noite, entre sábado e domingo, olhe para a direção sudeste e procure pelas Três Marias, que formam o cinturão de Órion, o caçador.
O radiante se localiza nas proximidades da estrela Betelgeuse, uma estrela de brilho forte e amarelado abaixo das Três Marias. A Lua estará em seu quarto crescente e deve se por à meia noite, mais ou menos, deixando o céu mais escuro.
Para observar qualquer chuva de meteoros, basta ir para um lugar afastado das luzes e olhar para a região de Betelgeuse. Leve uma cadeira de praia para evitar um torcicolo e dependendo da região, um cobertor e chocolate quente. Não é necessário nenhum tipo de equipamento, mas se você tiver um binóculo ou luneta, você pode aproveitar para observar a Lua, antes dela se por, a Nebulosa de Órion,  Júpiter e as Plêiades, por exemplo.
Bom fim de semana.

Aconteceu!


ter, 16/10/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
Alpha Centauri é uma estrela muito conhecida. Ela vem a ser a estrela mais brilhante da constelação do Centauro. Junto com a Beta Centauri, é conhecida popularmente como a “guardiã” do Cruzeiro do Sul e uma das estrelas mais brilhantes do céu. Todo mundo que já pesquisou qual é a estrela mais próxima do Sol sabe que a resposta é Alpha Centauri, com uma distância aproximada de 4,4 anos-luz.
Na verdade, a Alpha Centauri é um sistema estelar triplo, em que a componente principal, Alpha Centauri A, é uma estrela muito parecida com o Sol; a secundária, Alpha Centauri B, é uma estrela um pouco mais fria; e a mais distante de todas e mais fria ainda é chamada de Próxima Centauri. Ela é, na verdade, a estrela mais próxima do Sol, a uns 4,2 anos-luz.
De tão popular, no final da década de 199  havia um jogo de computador em que o estágio final de avanço da civilização seria enviar um foguete até a Alpha Centauri para colonizar um planeta em sua órbita. Além disso, referências a essa estrela aparecem na “Fundação e a Terra”, de Isaac Asimov, em “Avatar”, no livro e no filme “Contato”, de Carl Sagan, e no saudoso seriado de TV “Perdidos no espaço”, cujo destino original da missão da nave Júpiter 2 era descer em um planeta em torno da Alpha Centauri.
Por ser tão parecida com o Sol, a Alpha Centauri A é, desde o século 19, motivo de especulação a respeito da possibilidade de haver um sistema planetário ao seu redor. O fato de existir outra estrela muito próxima (a Alpha Centauri B) seria um problema grave para a estabilidade desse sistema. Há alguns anos, saiu um estudo de dinâmica orbital mostrando que, sob determinadas condições, seria perfeitamente plausível encontrar um sistema planetário dinamicamente estável. Com o desenvolvimento e o aprimoramento dos instrumentos de busca por exoplanetas, começou a procura.
Em um estudo que sai nesta quarta-feira (17)  na prestigiosa revista “Nature”, astrônomos usando instrumentos do Observatório Europeu do Sul, o famoso ESO, descobriram um planeta rochoso orbitando a Alpha Centauri B. Mais do que rochoso, a massa desse planeta é comparável à da Terra!
A equipe usou o espectrógrafo de alta resolução Harps, talvez o principal instrumento de detecção de exoplanetas em funcionamento, acoplado a um telescópio de 3,6 metros no Chile. Esse instrumento mede os “puxões” gravitacionais provocados pelo planeta, conforme ele muda de posição em sua órbita em torno da estrela. Esse puxões fazem a posição da própria estrela se alterar periodicamente, fazendo-a “bambolear” no céu. Claro, são movimentos praticamente imperceptíveis.
“Foram necessários mais de 4 anos de observações e, ainda assim, detectamos um sinal minúsculo, mas real”, disse Xavier Dumusque, do Observatório de Genebra, Suíça.Esse sinal “minúsculo” indica que um planeta com massa semelhante à da Terra orbita a Alpha Centauri B a cada 3 dias e 5 horas aproximadamente.
Infelizmente, com um período orbital desses, esse planeta está perto demais da estrela para poder abrigar vida, mesmo sendo a Alpha Centuri B uma estrela ligeiramente mais fria que o Sol.
E quão “minúsculo” foi esse sinal? O Harps detectou variações de posição da estrela (o “bamboleio” gravitacional) com velocidade de 51 centímetros por segundo, ou 1,8 quilômetro por hora, algo como a velocidade de um bebê engatinhando!
Apesar de esse planeta ser quente demais para abrigar vida (pelo menos, a vida como conhecemos), a descoberta é muito importante porque representa um enorme passo na direção da detecção de um planeta “gêmeo” da Terra nas vizinhanças do Sistema Solar.

Um show de imagens ‘nebulosas’


qui, 11/10/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
Qual será o futuro do Sol? O que deve acontecer com ele daqui a uns 5 bilhões de anos?
A evolução de uma estrela é ditada pela quantidade de massa que ela possui. Estrelas com pouca massa, como o nosso Sol por exemplo, devem transformar hidrogênio em hélio durante bilhões de anos.
Quando o reservatório de hidrogênio de uma estrela dessas se esgota, ela se torna uma gigante vermelha, expele suas camadas exteriores, e seu núcleo se contrai em uma anã branca. Para o nosso Sol, esse processo todo deve levar 10 bilhões de anos, mais ou menos. Como ele já viveu 5 bilhões de anos, ainda terá outros 5 bilhões de vida.
Estrelas com mais massa que o Sol, umas 10 vezes mais pelo menos, devem evoluir muito mais rápido, em escalas de tempo da ordem de milhões de anos. Nas fases finais, acabam explodindo em supernovas e podem terminar a vida como uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.
Quando uma estrela do tipo do Sol chega à fase de gigante vermelha, suas camadas exteriores são lançadas ao espaço, e o núcleo se contrai em uma anã branca que produz um vento intenso. Esse vento é responsável por  “esculpir” o gás ejetado da gigante vermelha, formando imagens fantásticas. Essas são as nebulosas planetárias.
Algumas das nebulosas mais famosas e bonitas foram agora estudadas pelo telescópio espacial Chandra, que observa em raios X. A ideia desse projeto da Nasa é observar a emissão de raios X  causada pelas ondas de choque que surgem da colisão do vento rápido da anã branca com o gás ejetado durante a fase de gigante vermelha.
Os resultados do estudo revelam que as nebulosas que têm emissão difusa de raios X mostram estruturas esféricas, com a borda estreita e bem definida – tudo rodeado por halos pouco brilhantes, isso nas imagens ópticas. Todas as estruturas esféricas parecem ter menos de 5 mil anos, o que representa mais ou menos a escala de tempo para o vento começar a produzi-las. Uma nebulosa dessas deve ser o destino final do nosso Sol.
Adicionalmente, quase metade das nebulosas planetárias desse estudo possuem fontes pontuais emitindo em raios X, bem no centro. Entretanto, dentre todas as 21 nebulosas observadas, 20 parecem ter uma fonte central dupla, ou seja, a maior parte das estrelas que ejetam suas partes externas e criam nebulosas planetárias deve ter uma companheira.
As quatro nebulosas da foto deste post foram observadas pelo Hubble e pelo Chandra, e suas imagens foram combinadas para produzir uma imagem composta. As observações ópticas, feitas pelo Hubble, estão representadas pelas cores vermelho, verde e azul, já a emissão em raios X, detectada pelo Chandra, está em rosa.

Hubble faz história mais uma vez


sex, 28/09/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
Em 1995, uma equipe de astrônomos liderada por Robert Williams, o diretor do Instituto do Telescópio Espacial, teve a fantástica ideia de observar uma região “vazia” do céu. Quando usou o termo “vazia”, a equipe se referia a uma região despovoada de estrelas, nebulosidades ou qualquer outro objeto da nossa própria galáxia ou de seus arredores. O que os cientistas queriam era uma região que pudesse ser observada pelo telescópio Hubble durante algum tempo, para produzir a imagem mais “profunda” já obtida até então.
Em astronomia, quando dizemos que uma imagem é mais profunda, é o mesmo que dizer que ela foi obtida com tempo exposição maior da câmera. Com isso, a imagem revela objetos mais fracos – ou mais distantes. Observando durante muito tempo uma região sem objetos da nossa galáxia, estaríamos vendo objetos de um universo muito distante e jovem. Essa foi a motivação da imagem que foi chamada de Campo Profundo do Hubble, ou HDF na sigla em inglês. Uma pequena região do céu do hemisfério norte, na constelação da Ursa Maior, foi escolhida e a imagem final foi produzida juntando 342 imagens, após dez dias consecutivos de observações feitas pelo Hubble.
No HDF, foram encontradas por volta de 3 mil galáxias, algumas delas a distâncias aproximadas de 12 bilhões de anos-luz. O HDF marcou a cosmologia para sempre. Em 1998, outra imagem idêntica foi feita, mas no hemisfério sul, na direção exatamente oposta à do HDF, e foi batizada de Campo Profundo Sul do Hubble (HDF-S). A comparação entre os dois campos não mostrou nenhuma diferença no que diz respeito à densidade de galáxias, à morfologia e à sua distribuição, por exemplo. Essa foi uma constatação muito importante, pois veio a confirmar o Princípio Cosmológico, a hipótese de que, em largas escalas, o universo é homogêneo. Em outras palavras, seria impossível distinguir o HDF do HDF-S, considerando a densidade ou distribuição de galáxias, por exemplo.
Depois dos dois HDFs, o Hubble foi um pouco mais fundo e observou o Campo Ultraprofundo do Hubble, ou HUDF em inglês, reunindo imagens coletadas durante 16 dias. O HUDF foi lançado em 2005 e, durante esses sete anos, permaneceu como a imagem mais profunda já feita pelo ser humano, mostrando objetos como galáxias e quasares no instante em que o universo possuía por volta de 600 milhões de anos.
Mas o HUDF foi finalmente superado. Na última terça (25), o Instituto do Telescópio Espacial liberou a imagem do Campo Extremamente Profundo do Hubble, ou XDF. Observando uma pequena região, na parte central do HUDF, o XDF combina observações feitas entre 2002 e 2012, totalizando 22,5 dias de observação. A imagem revela em torno de 5 mil galáxias, algumas delas a 13,2 bilhões de anos-luz, o que significa observar o universo quando ele tinha meros 500 milhões de anos.
A essa distância, a maioria das galáxias a se mostra jovem, pequena, mas em crescimento, às vezes de forma bem violenta, por meio de colisões com outras galáxias. Nessa idade, o universo vivenciou a formação de galáxias, constituídas de estrelas quentes e azuis, muito mais brilhantes que o nosso Sol. A galáxia mais jovem encontrada no XDF tem apenas 450 milhões de anos.
Antes de o Hubble ser lançado em 1990, os astrônomos conseguiam enxergar galáxias a 7,5 bilhões de anos luz, ou seja, galáxias com metade da idade do universo. Com o telescópio espacial e suas sucessivas imagens profundas, os astrônomos foram formando uma sequência cada vez mais profunda de imagens, mostrando instantes diferentes do universo, dando a possibilidade de enxergar como o universo foi evoluindo. O XDF é, agora, a imagem do Universo mais distante já feita pela humanidade.

A pedra no meio do caminho


seg, 24/09/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
A caminho de Glenelg, saindo de Bradbury Landing, o jipe exploratório Curiosity se deparou com uma pedra. Uma pedra é uma pedra, mas essa, vista pelas câmeras do jipe tem algo incomum: seu formato lembra muito uma pirâmide. Imagine o alvoroço que uma pirâmide em Marte não está causando por aí. Já vi gente afirmando que ela foi deliberadamente esculpida dessa maneira em tempos remotos, ou até que se trata de um artefato, parte de um equipamento marciano.
Claro que isso tudo é bobagem, mas a pedra, batizada de Jacob Matijevic, em homenagem ao engenheiro chefe de operações de superfície da Curiosity, falecido em 20 de agosto, se tornou o centro das atenções. Encontrada 2,5 metros à frente do jipe, a pedra deverá ser analisada nos próximos dias. Os geólogos da Nasa vão inspecionar a pedra com o espectrômetro de partículas alfa e a câmera laser para análises químicas. Ambos os instrumentos pretendem desvendar os elementos químicos presentes na pedra. Os resultados obtidos serão comparados entre si, como uma checagem dos instrumentos. Além deles, uma câmera montada em um braço mecânico deve tirar fotos em close-up para matar a curiosidade.
O jipe segue caminho em direção a Glenelg, percorrendo entre 22 e 37 metros por dia, um ritmo muito superior a qualquer um dos seus predecessores, já que “esse jipe foi feito para rodar”, como disse Richard Cook, gerente do projeto. Chegando a Glenelg, o time de geólogos pretende escolher uma rocha para que o jipe explore, pela primeira vez, sua capacidade de extrair e analisar poeira do interior de rochas.
Glenelg é uma área peculiar, pois possui três tipos de terrenos. Um deles, de coloração mais clara, é de especial interesse, pois de acordo com dados de sondas em órbita de Marte, ele retém o calor do dia e o libera vagarosamente durante a noite. Isto sugere uma composição química diferenciada. Mas até chegar a essa região mais clara, o Curiosity tem encontrado bandas estreitas de material geológico escuro, aumentando o número de alvos em potencial.
Mas não é só para o chão que as câmeras do Curiosity estão apontadas. O jipe também tem olhado para cima. Em dois diferentes dias, o Curiosity observou os dois satélites de Marte – Fobos e Deimos – efetuarem trânsitos. Em outras palavras, observou ambos passarem diante do disco solar – seriam eclipses, se as luas de Marte fossem tão grandes quanto a nossa. Observações de trânsitos como esses têm sido feitas desde 2004, com os jipes Opportunity e o “finado” Spirit, que já não tem mais contato com a Terra. Essas observações de longo termo são usadas em análises das órbitas dos dois satélites. Fobos faz com que o formato de Marte se altere, o que depende do material no seu interior e que não é bem compreendido. Essas deformações, por sua vez, alteram a órbita de Fobos, introduzindo incertezas nas observações e, mais do que isso, provocando um decaimento na sua órbita. Em algum tempo, Fobos deve cair sobre Marte.
Mais notícias sobre Jacob, a pedra-pirâmide, devem chegar esta semana, mas posso apostar que não teremos nenhuma surpresa aterrorizante.

Lua azul


sex, 31/08/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
Quem costuma fuçar os calendários durante o ano – no meu caso, atrás dos feriados – deve ter notado que o mês de agosto terá duas Luas cheias. A primeira foi logo no dia 2 e a segunda vai ser no dia 31. Esta segunda Lua cheia em um mês é chamada de “Lua azul”. Mas por quê?
A expressão “Lua azul” tem sido usada há pelo menos 400 anos, mas não como sendo a segunda Lua cheia do mês. Este significado nasceu de um erro ocorrido em 1946 e se tornou popular nos últimos 20 anos. Já vi muita gente graúda dizendo que este hábito remonta aos fenícios ou egípcios, mas é pura bobagem.
Veremos o porquê.
No século 16, dizer que a Lua era azul significava exprimir algum tipo de exagero. Dizia-se: “fulano é tão desligado que diria que a Lua é azul!” Esse conceito levou a outra expressão que indicava uma probabilidade bem remota de algo acontecer. Por exemplo, no século 18, dizia-se: “eu pagarei minha dívida com você quando a Lua estiver azul”.
Apesar de parecer muito estranho, já houve algumas vezes em que a Lua realmente se tornou azul no céu. Em 1883, quando o vulcão Krakatoa explodiu na Indonésia, a atmosfera ficou carregada por partículas de poeira que fizeram o pôr do Sol ficar esverdeado e deixaram a Lua azul no mundo todo por quase dois anos. Sempre que há uma grande quantidade de poeira na atmosfera, esse efeito se repete. Foi assim em 1927, na Índia, quando uma tempestade depois de uma enorme seca levantou toneladas de poeira na atmosfera. Ou em 1951, quando um enorme incêndio florestal no Canadá lançou uma quantidade de cinzas que deixou a Lua azul.
Em tempos mais modernos a expressão Lua azul se tornou um sinônimo de coisa rara, mas também de tristeza. Várias músicas usam esta expressão para associar tristeza e solidão, basta checar algumas músicas de Elvis Presley.
Já no final dos anos 1980, nos EUA, a expressão “Lua azul” se tornou moda. Foi uma febre que deu nome a milhares de restaurantes e mostras de arte no país. Quem for do meu tempo vai se lembrar daquela série de TV com a Cybill Shepherd e o Bruce Willis em começo de carreira, que no Brasil se chamava “A Gata e o Rato”. Eles tinham uma agência de investigação particular que se chamava “Blue Moon” (literalmente, “Lua azul”) e o nome original da série era “Moonlighting” (expressão que significa “segundo emprego” e faz um trocadilho com a palavra “luar”).
Já a partir desta época, Lua azul também significava uma segunda Lua cheia em um mesmo mês. Mas nem sempre foi assim.
Esse é um daqueles casos em que uma definição nasce de um erro. A definição de Lua azul aparece em um livro chamado “Almanaque do Fazendeiro do Maine” nas edições anuais entre 1819 e 1962. Em nenhum destes exemplares a definição é esta que conhecemos. A definição que aparece neste almanaque é bem diferente e tem mais a ver com as estações do ano, do que com os meses. É assim: “Em primeiro lugar considera-se o ano tropical, aquele que começa em um solstício de inverno (mais ou menos no dia 21 de dezembro para o Hemisfério Norte) e vai até o solstício de inverno seguinte. A maioria dos anos tropicais consegue conter 12 Luas cheias, três em cada estação do ano. Cada uma delas tem um nome específico para a atividade humana da época. Ocasionalmente, temos um ano tropical com 13 Luas cheias, o que significa que uma das estações do ano deverá ter quatro delas, ao invés de três. Nesta estação com quatro Luas cheias, a terceira a acontecer é chamada de Lua azul”, diz o almanaque.
Essa definição começou a se moldar em julho de 1943 em uma coluna de perguntas e respostas da revista Sky & Telescope nos EUA. Laurence J. Lafleur citou o fato de ocasionalmente haver 13 Luas cheias em um ano, mas não disse que se tratava de um ano tropical. Ainda assim, ele não falou nada de duas Luas cheias em um mesmo mês. Mas a vaca foi para o brejo mesmo em março de 1946. Na página 3 da edição deste mês, James Pruett, um astrônomo amador que escrevia costumeiramente para a revista, em um especial sobre meteoros, resolveu falar sobre Luas azuis. Ele repetiu uma conclusão do tal almanaque, que dizia que: “Em 19 anos, sete vezes aconteceu (e ainda acontece) de haver 13 Luas cheias em um ano. Isto dá 11 meses com uma Lua cheia em cada um e um mês com duas”. Mas concluiu erroneamente: “esta segunda Lua cheia do mês, assim eu interpreto, foi chamada de Lua azul.”
Talvez por ser mais fácil de se entender, a própria revista encampou esta nova definição e passou a tratar a Lua azul desta maneira em suas páginas. Na década de 1980, a onda se espalhou e agora não tem mais volta.
Isto não é uma coisa ruim de todo, quantas pessoas aí não acharam que o novo milênio começava em primeiro de janeiro de 2000? Este erro tem sim implicações mais práticas do que confundir uma Lua cheia. Entretanto, uma diferença fundamental pode ser notada das definições. Pelo almanaque, uma Lua azul pode ocorrer em qualquer mês do ano, basta ser a terceira Lua cheia da estação. Pela definição da revista, não é possível que ocorra uma Lua azul em fevereiro e os meses de 31 dias são os mais prováveis de ter uma Lua azul. Isto porque o intervalo de tempo entre duas Luas cheias consecutivas – uma lunação – é de 29 dias – e uns quebrados. Como fevereiro não pode ter mais que 29 dias, não tem jeito.
A Lua azul deste dia 31 de agosto é muito especial. Ela vai acontecer no mesmo dia do enterro de Neil Armstrong, o primeiro ser humano a dar o primeiro passo na Lua – com o pé esquerdo. Será uma boa oportunidade para render uma homenagem a ele. Basta se lembrar de ver a Lua cheia azul, lembrar-se de Armstrong e dar uma piscadela.

Saudades


ter, 28/08/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
“A próxima vez que você der um passeio em uma noite clara e vir a Lua sorrindo para você, lembre-se de Neil Armstrong e dê uma piscadela para ele.”
Essa é uma singela homenagem do blog Observatório ao primeiro homem a pisar na Lua.

As gêmeas da Via Láctea


sex, 24/08/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
A nossa galáxia, a Via Láctea, é de um tipo bem comum de ser encontrado no Universo. Ela é uma espiral com uma barra central. Existe uma certa controvérsia a respeito do número de braços que nossa galáxia possui. Um debate atual, o qual eu participo com alguns resultados, tenta definir se a Via Láctea tem dois ou quatro braços. Estou na turma que defende apenas dois braços para ela.
Mas quando consideramos o conjunto da Via Láctea e suas as galáxias satélites, as Nuvens de Magalhães, temos um sistema triplo, e isso sim é raro. Não havia até agora nenhum caso conhecido, o que não chega a surpreender. Apenas recentemente os astrônomos conseguiram condições para procurar sistemas de galáxias parecidos com o nosso sistema triplo.
Essas condições todas tiveram de vir de uma vez. É preciso ter telescópios bons o suficiente para detectar não apenas as galáxias dominantes, mas também suas companheiras, que são muito mais fracas. Além disso, era preciso olhar em grandes áreas do céu e, mais importante, ter certeza que candidatas suspeitas não passassem despercebidas. Identificar essas candidatas no meio de uma quantidade imensa de galáxias de todos os tipos é um desafio e tanto. Métodos automáticos de identificação são falhos, por melhores que sejam, e olhar uma a uma essas candidatas é praticamente impossível.
Simulações sofisticadas de formação de galáxias não produzem muitos exemplos similares ao sistema da Via Láctea, o que já indica que esta é uma ocorrência rara. Ainda assim os astrônomos não conseguiam quantificar o quão rara é essa configuração. Isso até agora.
Com a descoberta de não apenas um, mas dois sistemas gêmeos da Via Láctea, ficou estabelecido que somente 3% das galáxias parecidas com a nossa tem companheiras como as Nuvens de Magalhães. Várias galáxias possuem satélites menores, mas poucas têm duas galáxias tão grandes quanto as satélites da Via Láctea. De 14 sistemas galácticos parecidos, apenas dois são quase iguais.
De acordo com Aaron Robotham, da Universidade do Oeste da Austrália e líder da pesquisa que identificou as gêmeas da Via Láctea: “A galáxia em que vivemos é bem comum, mas a presença das Nuvens de Magalhães é um acontecimento raro e possivelmente de curta duração. Elas não durarão para sempre e devemos aproveitar o espetáculo enquanto podemos.”
Tanto a Pequena, quanto a Grande Nuvem de Magalhães são visíveis no hemisfério sul e estarão por aqui ainda por alguns bilhões de anos.

Meteoros no fim de semana


sex, 10/08/12
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório
A chuva de meteoros Perseidas começa a atingir sua plenitude neste fim de semana. O seu máximo deve ocorrer por volta das 3h, na madrugada de sábado (11) para domingo (12), quando uma taxa de um ou dois meteoros por minuto é esperada. O problema é que a Lua vai atrapalhar um pouco. Estamos na fase minguante e apenas os meteoros mais brilhantes poderão ser vistos.
Mas como acontece uma chuva de meteoros?
Sempre que um cometa trilha sua órbita no Sistema Solar, ele deixa um rastro de destroços, pequenos pedaços de rocha e gelo. Esse rastro não é exatamente uma linha, nem um caminho estreito. Pelo contrário, os destroços vão se espalhando, ainda mantêm o traçado da órbita, mas lembram muito mais uma nuvem de detritos.
Todas as vezes que a Terra cruza esse rastro de destroços, aumenta o número de meteoros que entram na nossa atmosfera. Em um lugar escuro, é possível observar um ou outro meteoro riscando o céu – as populares estrelas cadentes. Porém, quando a Terra atinge esse rastro, é possível notar muito mais meteoros cruzando os céus.
Neste fim de semana, a Terra cruza a órbita do cometa Swift-Tuttle, e com isso vai “varrer” seus pedaços. Olhando para o céu, os meteoros vão parecer surgir de uma região específica, chamada de radiante, neste caso na constelação de Perseu. Daí o nome de Perseida.
A constelação de Perseu está muito ao norte, portanto quanto mais para o norte você estiver, melhor será para observar. A Terra começa a adentrar a nuvem de destroços já nessa sexta-feira e será possível notar um aumento no número de meteoros cruzando o céu. O máximo é esperado para a madrugada de domingo, mas ainda na noite de segunda será possível observar a chuva.
E como observar os Perseidas? Antes de tudo, procure um local escuro e olhe para o norte – você pode se guiar pela Lua. O norte estará à esquerda e abaixo, quanto mais tarde melhor. Para compor o cenário, lá pelas 3 da manhã, Júpiter estará abaixo e à direita da Lua.
Curiosity
E falando do assunto do momento, o jipe Curiosity pousou são e salvo, conforme você acompanhou aqui no G1. Mas uma coisa tem intrigado. Alguns amigos me perguntam por que a primeira imagem do Curiosity foi uma foto meio tosca de uma das rodas do jipe. Esse é um procedimento padrão para todas as sondas que pousam na superfície de um planeta ou mesmo da Lua. Ela serve para verificar se a sonda – no caso, o jipe – pousou em terreno seguro. Outras fotos subsequentes também focaram o chão embaixo do jipe para verificar se há rochas ou crateras que possam impedir seus movimentos.
Antes de sair para executar sua missão, o Curiosity está passando por vários testes para verificar a integridade dos equipamentos, e ainda vai demorar um pouco para começarem as pesquisas em Marte. Mas ele já mandou muitos dados que estão sendo analisados na Nasa. Pela primeira vez, uma sonda para Marte foi equipada com instrumentos para medir o nível de radiação interplanetária. O intuito dessa pesquisa é justamente verificar a gravidade e as consequências de uma longa exposição a esta radiação no espaço, exatamente a mesma exposição que os astronautas sofrerão durante a viagem quando forem a Marte.

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