Ciência
Aquecimento global
Temperatura do planeta atingiu níveis letais no Período Triássico
Há 250 milhões de anos, temperatura na região tropical do planeta chegava a 60ºC, impedindo a vida nos trópicos do planeta
Fóssil de um conodonte: por meio da análise química de
dentes do peixe pré-histórico, os pesquisadores foram capazes de
descrever a temperatura do planeta há milhões de anos
(Divulgação/UFRGS)
CONHEÇA A PESQUISAOs pesquisadores já sabiam que o aquecimento do planeta havia sido uma das principais causas da extinção em massa no final do Permiano, mas agora descobriram que níveis letais de calor foram responsáveis pelos cinco milhões de anos de dificuldades que se seguiram. Durante esse período a temperatura nos continentes na região dos trópicos variava entre 50 graus Celsius e 60 graus Celsius. No mar, chegava a 40 graus Celsius. "Já sabíamos que o aquecimento global estava ligado à extinção em massa do fim do Permiano, mas esse estudo é o primeiro a mostrar que temperaturas extremas impediram a vida de recomeçar nas baixas latitudes durantes milhões de anos", disse Yadong Sun, pesquisador da Universidade de Leeds e um dos autores do estudo.
Título original: Lethally Hot Temperatures During the Early Triassic Greenhouse
Onde foi divulgada: revista Science
Quem fez: Yadong Sun, Michael M. Joachimski, Paul B. Wignall, Chunbo Yan, Yanlong Chen, Haishui Jiang,Lina Wang, Xulong Lai
Instituição: Universidade de Leeds, na Inglaterra
Dados de amostragem: Análise química de 15.000 dentes de peixes do Período Triássico. Por meio dos isótopos de oxigênio presentes nos fósseis, os cientistas conseguiram prever a temperatura no passado da Terra
Resultado: Os pesquisadores descobriram que, na região tropical do planeta, a temperatura variava entre 50ºC e 60ºC nos continentes e chegava 40ºC no mar.
Antes da grande extinção, a Terra era intensamente povoada por plantas e animais, com uma grande população de répteis e anfíbios primitivos nos continentes e uma grande variedade de criaturas no mar. Após o aquecimento, a zona morta se estendeu por toda região tropical do planeta, que se tornou uma área extremamente quente e úmida. Foi o fim das florestas. Sobraram apenas pequenos arbustos e samambaias. Nenhum animal conseguiu sobreviver em terra. Os peixes e répteis marinhos fugiram para regiões mais frias, deixando os oceanos tropicais para serem habitados apenas por animais invertebrados, como os moluscos. Nesse período, as regiões polares se tornaram o último refúgio da biodiversidade.
Forno triássico — Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram os dentes de 15.000 conodontes, peixes pré-históricos que se parecem com as enguias, encontrados no sul da China. Nesses animais, a quantidade de isótopos de oxigênio encontrada no esqueleto depende da temperatura do ambiente. Logo, por meio da análise química dos dentes os pesquisadores conseguiram prever a temperatura da Terra há milhões de anos.
Esse é o primeiro estudo a mostrar que a temperatura nos oceanos poderia chegar a letais 40 graus Celsius — uma temperatura tão elevada que a maioria dos animais morre e a fotossíntese não é mais possível. Para efeitos de comparação, hoje a temperatura média nos mares equatoriais vai de 25 a 30 graus Celsius.
"Nunca ninguém havia ousado dizer que o clima do passado havia atingido níveis tão altos. Se tivermos sorte, a atual tendência de aquecimento global não vai nos levar nem perto da temperatura de 250 milhões de anos atrás. Mas, se chegar, nós mostramos que a Terra pode demorar alguns milhões de anos para se recuperar", disse Paul Wignall, professor da Universidade de Leeds e um dos autores do estudo.
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