ESTILO
Nº edição: 800 |
Estilo |
08.FEV.13 - 10:00
| Atualizado em 09.02 - 13:39
Mansões al mare
Diamantes nas maçanetas, mármore italiano no chão, obras de arte nas paredes. Até onde pode chegar o requinte nos superiates de luxo?
Por Fabiano MAZZEI
O cliente – um muitíssimo bem-sucedido empresário
nova-iorquino do setor automotivo e que recém-adquirira um iate de 200
pés – chega ao estaleiro da Azimut-Benetti, em Viareggio, Itália,
pedindo sem cerimônias aos designers de interiores contratados pelo
estaleiro: “Quero diamantes em todos os cantos do barco!” Mesmo
acostumados com extravagâncias vindas da mente fértil de sheiks do
petróleo, neobilionários asiáticos ou de megainvestidores de Wall
Street, a solicitação deixou a turma de olhos arregalados. Mas, como se
diz na quitanda, o freguês sempre tem razão.
Diamonds are forever: o superiate da Azimut-Benetti (ao lado) usa pedras preciosas na decoração
Foi assim que nasceu o Diamonds Are Forever, nome da embarcação de
61 metros de comprimento que ganhou os mares em Cannes, no ano passado.
Por fora, uma joia da alta tecnologia náutica, com cinco andares, seis
suítes e um deque panorâmico a 12 metros da linha d’água. Por dentro,
uma suntuosidade só vista em palacetes renascentistas. “Pedidos
extravagantes não são tão raros”, diz Francesco Ansalone, diretor de
marketing da empresa italiana. “Houve um cliente que pediu um teto para
abrir à noite. O dono do barco amava astronomia e queria jantar sob a
luz das estrelas”, conta.
A Azimut-Benetti conta com um centro de estilo com sete designers
especializados na customização interna e externa dos barcos. Entre os
principais clientes estão os americanos, os árabes e os asiáticos. No
caso dos grandes iates, acima dos 100 pés, é possível não só caprichar
no “make up”, usando revestimentos produzidos por maisons da
alta-costura – como Missoni e Ermenegildo Zegna, além de mobiliário do
quilate de uma poltrona Frau ou objetos da marca francesa Lalique –,
como também redefinir a configuração dos ambientes: número de suítes,
salas, deques.
Tânia Ortega: "Eike Batista quis um estilo mais clean para o barco dele (acima). Só pediu para não ter nada preto"
No Brasil, a empresa tem um estaleiro em Itajaí (SC). Segundo
Ansalone, o mercado nacional absorve mais lanchas menores, por conta do
calado das marinas do litoral brasileiro. O que não significa que a
sofisticação no décor interno seja diminuída. Há, contudo, uma outra
característica típica do cliente daqui. “O brasileiro busca e
entende sobre o design italiano, mas o requisito mais frequente é com as
áreas externas”, diz Ansalone. “Ele quer reunir os amigos para tomar
sol, ouvir uma boa música e fazer um churrasco. O brasileiro sabe se
divertir.”
O BARCO DO EIKE Para se ter tanto requinte e
conforto embarcados, o investimento é alto. No entanto, definir um valor
padrão é impossível, dada a gama de possibilidades na customização. “O
céu é o limite”, afirma Tânia Ortega. A empresária brasileira, após 20
anos decorando os barcos da italiana Ferretti no Brasil, abriu em 2007
sua própria empresa de design, a Tutto a Bordo, que aposta em
revestimentos premium para os seus projetos. Ela explica que, hoje,
existem tecidos desenvolvidos com tanta tecnologia que sua durabilidade
aumentou bastante.
Achilles Salvagni: "Os ambientes do Numptia (acima) dão sensação de calma", diz. Paz e glamour em alto-mar
“São linhos, veludos e cheniles que resistem ao sol e à chuva, à
água do mar e a taças de vinho”, diz. Tânia foi a responsável por
decorar um dos barcos mais cobiçados dos mares brasileiros. A lancha,
uma italiana Pershing de 115 pés, quatro suítes, home theater e
impulsionada por uma turbina de avião, pertence ao bilionário carioca
Eike Batista. Entre os pedidos dele, um escritório para trabalhar em
alto-mar e um banheiro com chuveiros. “Ficou com um estilo mais clean,
com móveis todos comprados na Itália. Ele só me pediu que não usasse
nada de preto”, lembra ela.
ARCA DE NOÉ Do contrário, Tânia já atendeu
clientes com orientações mais exóticas. Em um dos casos, o barco tinha
tudo para virar uma espécie de homenagem à Arca de Noé. “A mulher queria
que todos os tecidos fossem com estampas de zebra, onça, uma selva!” Há
encomendas ainda mais curiosas. O estaleiro italiano CRN, da divisão de
grandes iates do grupo Ferretti, construiu há seis anos um
navio-dormitório com nada menos que 28 quartos para um sheik árabe. Ele
pediu também um engenhoso sistema de passagens secretas entre os
andares, tudo para abrigar todo o seu harém e impedir que as famílias de
suas muitas esposas se encontrassem no barco.
Premiado: o iate Diamonds, da Azimut-Benetti, foi eleito o mais luxuoso no Cannes Boat Show, em 2012
Outra história contada pelos funcionários da empresa de Ancona é a
da instalação de um radar antimíssil em uma superlancha de outro barão
árabe do petróleo. “Aqui falamos com senhores que têm mais de € 80
milhões para custear seus brinquedos”, diz Matteo Belardinelli, diretor
de marketing do CRN. “No mundo, podemos dizer que temos apenas mil
clientes potenciais”, complementa. Extravagante ou não, o que é regra
comum nos projetos é o requinte em cada detalhe. E, entre todas essas
mansões flutuantes, o iate Numptia, de 229 pés, é o suprassumo. O
interior é assinado por Achilles Salvagni, um dos papas do setor.
Para o barco ele levou só o melhor: tapetes de seda feitos no
Tibete para os seis quartos, mármore para os banheiros, quartzo no piso
da cozinha, tampo de prata para a mesa de jantar, obras de arte nos
ambientes sociais, tela de 103 polegadas full HD na sala de tevê,
espelhos de cristal no elevador que une os cinco andares e uma banheira
oval na suíte principal. Há ainda um lounge-bar no segundo andar com
teto de madeira e sofisticado sistema de iluminação que dá um ar de
clube nova-iorquino. “No Numptia, todos os detalhes foram pensados. As
salas conversam entre si e cada deque tem sua personalidade”, diz
Achille. “Procuro não só o conforto, mas criar uma sensação de calma.”
De fato, não há estresse a bordo de um iate desses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário