Crise no mundo árabe
O líder líbio Muammar Kadafi voltou à TV estatal nesta terça-feira para dizer novamente que não irá renunciar. Durante a fala de mais de uma hora (aparentemente improvisada), Kadafi - que comanda a Líbia desde 1969 - fez várias referências a si mesmo e disse que, "no final, vai morrer como mártir". "Muamar Kadhafi é o líder da revolução, Muamar Kadhafi não tem nenhum posto oficial ao qual renunciar. Ele é o líder da revolução para sempre", afirmou.
Kadafi, 68 anos, fez várias referências ao valor do país e não poupou as nações ocidentais. "Este é o meu país. É o país dos meus bisavós e dos seus. Nós valemos muito mais do que os ratos pagos por agências internacionais", brandou, enquanto agitava os braços e apontava o dedo para o alto. Vestindo sua clássica túnica marrom, ele chamou os manifestantes de "traficantes" e disse que um pequeno grupo de "doentes" está estimulando os jovens a imitar o que aconteceu na Tunísia e no Egito.
"Se esses vermes continuarem, a Líbia vai retonar à escuridão dos anos 50", disse, em um pronunciamento exaltado mas inconstante, aparentemente feito diante de um prédio bombardeado por aviões norte-americanos em 1986. "Vocês querem Benghazi destruída, sem eletricidade nem água?", ameaçou, dizendo que vai lutar até a sua "última gota de sangue". Para Kadafi, a Líbia pode se transformar em um novo Afeganistão ou em uma nova Somália, em caso de guerra civil. "Vocês querem que os americanos venham e ocupem a Líbia como fizeram no Afeganistão?"
"O povo líbio está comigo", afirmou Kadhafi, convocando seus partidários para uma manifestação na quarta-feira. "Capturem os ratos! Saiam de suas casas e ataquem!", gritou o ditador, há mais de 40 anos no poder. "Se vocês amam Kadafi, saiam às ruas da Líbia para protegê-las", disse, acrescentando que os oposicionistas devem ser executados. "Eu sequer dei a ordem para usar balas de verdade!".
"Que vergonha. Vocês são uma gangue? Liberem Benghazi. Larguem as armas ou haverá um massacre", disse, enfatizando como os manifestantes estão destruindo o país. "Não destruam o seu próprio país por nenhuma razão - qual o problema de vocês? Nós temos nossa água nosso petróleo." Ele ameaçou os rebeldes com uma resposta similar à de Tiananmen (na China) e de Fallujah (no Iraque) - dois históricos massacres.
Para Kadafi, cujo regime vem enfrentando protestos sem precedentes em várias cidades do país, o Ocidente quer apenas controlar o petróleo da Líbia. Segundo ele, o povo líbio pode decidir para onde vai o lucro do petróleo do país. Apesar da postura inflexível, ele demonstrou aceitar fazer concessões aos protestos, dizendo que "uma nova adminstração será formada" e que "conselhos municipais" serão criados.
Mundo árabe em convulsão
A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Ali e do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.
No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.
Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafi foi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.
Outro foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.
| ISTOÉ Online | 22.Fev.11 - 16:49 | Atualizado em 23.Fev.11 - 00:10
Na TV, Kadhafi exclui renúncia e defende morte de opositores
"Muamar Kadhafi é o líder da revolução para sempre, Muamar Kadhafi não tem nenhum posto oficial ao qual renunciar", disse o ditador
Do portal TerraO líder líbio Muammar Kadafi voltou à TV estatal nesta terça-feira para dizer novamente que não irá renunciar. Durante a fala de mais de uma hora (aparentemente improvisada), Kadafi - que comanda a Líbia desde 1969 - fez várias referências a si mesmo e disse que, "no final, vai morrer como mártir". "Muamar Kadhafi é o líder da revolução, Muamar Kadhafi não tem nenhum posto oficial ao qual renunciar. Ele é o líder da revolução para sempre", afirmou.
Kadafi, 68 anos, fez várias referências ao valor do país e não poupou as nações ocidentais. "Este é o meu país. É o país dos meus bisavós e dos seus. Nós valemos muito mais do que os ratos pagos por agências internacionais", brandou, enquanto agitava os braços e apontava o dedo para o alto. Vestindo sua clássica túnica marrom, ele chamou os manifestantes de "traficantes" e disse que um pequeno grupo de "doentes" está estimulando os jovens a imitar o que aconteceu na Tunísia e no Egito.
"Se esses vermes continuarem, a Líbia vai retonar à escuridão dos anos 50", disse, em um pronunciamento exaltado mas inconstante, aparentemente feito diante de um prédio bombardeado por aviões norte-americanos em 1986. "Vocês querem Benghazi destruída, sem eletricidade nem água?", ameaçou, dizendo que vai lutar até a sua "última gota de sangue". Para Kadafi, a Líbia pode se transformar em um novo Afeganistão ou em uma nova Somália, em caso de guerra civil. "Vocês querem que os americanos venham e ocupem a Líbia como fizeram no Afeganistão?"
"O povo líbio está comigo", afirmou Kadhafi, convocando seus partidários para uma manifestação na quarta-feira. "Capturem os ratos! Saiam de suas casas e ataquem!", gritou o ditador, há mais de 40 anos no poder. "Se vocês amam Kadafi, saiam às ruas da Líbia para protegê-las", disse, acrescentando que os oposicionistas devem ser executados. "Eu sequer dei a ordem para usar balas de verdade!".
"Que vergonha. Vocês são uma gangue? Liberem Benghazi. Larguem as armas ou haverá um massacre", disse, enfatizando como os manifestantes estão destruindo o país. "Não destruam o seu próprio país por nenhuma razão - qual o problema de vocês? Nós temos nossa água nosso petróleo." Ele ameaçou os rebeldes com uma resposta similar à de Tiananmen (na China) e de Fallujah (no Iraque) - dois históricos massacres.
Para Kadafi, cujo regime vem enfrentando protestos sem precedentes em várias cidades do país, o Ocidente quer apenas controlar o petróleo da Líbia. Segundo ele, o povo líbio pode decidir para onde vai o lucro do petróleo do país. Apesar da postura inflexível, ele demonstrou aceitar fazer concessões aos protestos, dizendo que "uma nova adminstração será formada" e que "conselhos municipais" serão criados.
Mundo árabe em convulsão
A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Ali e do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.
No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.
Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafi foi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.
Outro foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.
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