Dilma e Sarney tornaram-se modelitos ‘prêt-à-porter’
Lula Marques/Folha
A expressão vem do francês: prêt (pronto) + à-porter (para levar). No idioma da moda, significa “pronto para vestir”.
Transposta para o universo da política, tornou-se representação animada de sentimentos contraditórios.
Sob o pretexto de que não governam sem governabilidade, os inquilinos do Planalto recorrem ao prêt-à-porter da política.
Sempre na moda, pronto para vestir qualquer governo, o PMDB tornou-se a peça mais sensual do mostruário do Congresso.
Continuadora de Lula, Dilma Rousseff recobre o torso de sua gestão com um modelito que há muito rompeu as comportas do proibido.
Nesta quarta (2), a presidente permitiu-se ultrapassar a fronteira da permissividade. Desfilou no terreno das impudicas e ecléticas relações políticas.
Dilma discursou ao lado do tetrapresidente do Congresso, José Sarney. Expôs as prioridades de seu governo para 2011.
Depois, ela ouviu o pronunciamento dele. Em meio a digressões históricas, Sarney discorreu sobre ética e moralidade.
Disse coisas assim: “Volto a repetir aqui que o nosso trabalho exige a sedimentação de uma profunda consciência moral de nossas responsabilidades...”
“...E a obstinada decisão que devemos ter cada um de não cometer erros, de jamais aceitar qualquer arranhão nos procedimentos éticos”.
Ou assim: “Enquanto nos outros Poderes as decisões são objeto de uma transparência relativa, nossos trabalhos sempre se realizam em público...”
“...À luz do exame e do escrutínio do eleitor. Não temos lições de transparências a receber”.
Dilma e Sarney são sobreviventes da ditadura. Ela resistiu à tortura. Ele escapou da Arena para o PDS.
Depois, obteve do PMDB um prontuário novo, passaporte para o Brasil pós-redemocratização.
Agora, Dilma e Sarney confraternizam-se numa relação de amor politicamente livre. Ela dá de ombros para o amor-próprio.
Ele enxerga o casamento de conveniência como herança do contrato de compra e venda firmado sob Lula. Reza a cláusula 1ª: amor com amor se paga.
Mesmo para os padrões do prêt-à-porter da política moderna, a junção parece anacrônica. Porém...
Porém, como no mundo das passarelas, na política nada se cria, tudo se copia.
Se uma ideologia já não está dando, aplica-se uma renda na bainha e –pronto!— volta a ficar em alta no mercado, pronta para usar.
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Escrito por Josias de Souza às 05h43
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