Parlamentar condenado à prisão renuncia. Em Brasília? Não, em Londres
O liberal-democrata Chris Huhne achou que um pequeno pecado, cometido dez anos atrás, seria esquecido. Não foi
O público brasileiro, diante de um Congresso de escassa credibilidade, adoraria ver um deputado pagando por um crime, com a renúncia e uma sentença de prisão. Pois foi o que se viu nesta segunda-feira (4). Não em Brasília, mas em Londres. O parlamentar e ex-ministro britânico Chris Huhne, antes uma respeitável voz na discussão sobre os problemas do país, saiu da sede de um tribunal para falar rapidamente com a imprensa: “Eu me declarei culpado”, disse. “Tendo assumido a responsabilidade por algo que aconteceu dez anos atrás, a única atitude apropriada para mim é renunciar ao meu assento no Parlamento.” Huhne, de 58 anos, espera agora ser condenado à prisão. E o que aconteceu dez anos atrás que o fez renunciar? Em 2003, o carro do parlamentar foi pego em excesso de velocidade, e ele convenceu sua mulher a assumir a culpa para não ser processado. Chris Huhne perdeu o mandato e aguarda por um período atrás das grades porque tentou fraudar pontos da sua carteira de motorista.
O caso indignou os britânicos. Huhne era um importante integrante da coalizão governista liderada pelo premiê conservador David Cameron. Como titular da pasta de Energia e Mudanças Climáticas, de 2010 a 2012 foi um dos principais representantes no governo dos liberais-democratas, o menor partido da coalizão. Formado na francesa Sorbonne e na inglesa Oxford, Huhne quase chegou à liderança do partido Liberal-Democrata, uma legenda reconhecida por um passado de correção na atividade político-partidária. Parecia um parlamentar perfeito, que segue tudo como manda o figurino. Tudo, porém, foi por água abaixo por causa de alguns pontos na carteira de habilitação.
Há um ano, Huhne deixou o cargo de ministro para se defender das acusações. Dizia ser inocente e, nos meses seguintes, fez de tudo para tentar derrubar o processo. Dizia ser vítima de uma falsa acusação e prometia limpar o seu nome – comportamento corriqueiro entre figuras públicas, de Silvio Berlusconi a Lance Armstrong. Na semana passada, ele ainda negava ter cometido qualquer crime, o que ele admitiu apenas nesta segunda-feira, no início do julgamento. Ao falar da gravidade do crime e da pena que o parlamentar deve receber, o juiz não economizou na dose. Dirigiu-se ao ex-ministro e disse: “Você não deve ter nenhuma ilusão sobre o tipo de sentença que você provavelmente receberá. Entendeu?”. O agora ex-parlamentar balançou a cabeça, sinalizando ter entendido. Como se vê, vida de parlamentar não é tão fácil quanto se imagina. Pelo menos no Reino Unido.
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