quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

É o Mundo esta virado será o inicio de um fim longo???????

Ucrânia: 26 mortes em 24 horas

Madrugada desta quarta-feira (19) foi marcada por protestos violentos em Kiev. Governo decretou luto nacional e anunciou operação antiterrorista em todo país

REDAÇÃO ÉPOCA, COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
19/02/2014 12h25 - Atualizado em 19/02/2014 12h58
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A Praça da Independência, em Kiev, se transformou em um campo de batalha (Foto: EFE/SERGEY DOLZHENKO)
Kiev vivenciou nesta quarta-feira (19) a madrugada mais sangrenta desde a eclosão das manifestações populares contra o governo ucraniano, em novembro do ano passado. Foram 26 mortes nas últimas 24 horas, segundo balanço oficial dos ministérios do Interior e da Saúde da Ucrânia. Entre os mortos, há nove policiais - a maioria, vítima de ferimentos causados por armas de fogo. Além das vítimas fatais, os confrontos violentos entre manifestantes e tropas de choque resultaram em centenas de feridos - entre eles, 74 policiais e cinco jornalistas.
A violência no centro de Kiev começou pela manhã, quando a polícia  tentou impedir a passagem de uma grande passeata de pessoas que reivindicavam a restituição da Constituição de 2004, que limitaria os poderes do presidente e retornaria com o sistema presidencial-parlamentar.
Os enfrentamentos entre os manifestantes e o batalhão de choque da polícia rapidamente se intensificaram e seguiram noite adentro nas proximidades da Praça da Independência, também conhecida como Maidan, o coração dos grandes protestos populares contra o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, após sua recusa em assinar o Acordo de Associação com a União Europeia para estreitar relações comerciais com a Rússia (Abaixo, entenda melhor a crise na Ucrânia).
Barricadas e barracas foram incendiadas e uma grande parede de fogo serviu como barreira para separar policiais e opositores. Os manifestantes alimentavam o fogo com pneus e lançavam pedras, bombas caseiras, coquetéis molotov e morteiros contra a polícia, que respondia com bombas de efeito moral e caminhões com jatos d'água. Segundo testemunhas, havia pessoas com armas de fogo, de ambos os lados. Milhares de antigovernistas atacaram diversos prédios da administração pública, como a sede regional dos serviços secretos da Ucrânia, onde ocuparam os despachos e levaram os móveis para rua para construir barricadas. Ao amanhecer, milhares de manifestantes ainda resistiam na Praça da Independência às investidas do batalhão de choque.
Os protestos antigoverno atravessaram as fronteiras da capital e chegaram a cidades do oeste do país, como Lviv, Odessa, Rivne, Ivano-Frankivsk e Úzhgorod, onde centenas de pessoas ficaram feridas, também na madrugada desta quarta (19). Para conter a chegada de mais manifestantes a Kiev - voluntários convocados para ajudar a oposição -, as autoridades da capital ucraniana fecharam, na noite de terça (18), toda a rede de metrô, e restringiram o acesso à cidade pelas estradas desde o oeste do país.

Os protestos violentos seguiram madrugada adentro na Praça da Independência, em Kiev (Foto: AP Photo/Sergei Chuzavkov)
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Manifestantes antigoverno lançam pedras contra a tropa de choque da polícia da Ucrânia durante novo protesto na Praça da Independência, em Kiev.  Saldo de mortes dos recentes e violentos protestos no país já chega a 25 (Foto: AP Photo/Efrem Lukatsky)
Manifestantes depredam delegacia da cidade de Lviv, no Oeste da Ucrânia (Foto: AP Photo/ Pavlo Palamarchuk)
Diante das 26 mortes, o presidente Viktor Yanukovich declarou um dia de luto nacional para quinta-feira (20). Em comunicado, ele afirma que as mortes foram causadas pela oposição e que os líderes oposicionistas vão responder nos tribunais de Justiça por convocarem os manifestantes a usarem armas de fogo para enfrentar as forças de segurança. "Eles passaram dos limites quando convocaram o povo a recorrer às armas. Isso é uma clara violação da lei. Os criminosos devem comparecer perante à Justiça, que determinará sua punição. Não é um capricho meu, é minha obrigação como fiador da Constituição", disse o líder ucraniano. Yanukovich exige que os manifestantes renunciem à luta armada e se entreguem às forças de ordem do país. Os líderes da oposição negam que tenham convocado os manifestantes a usarem armas de fogo nos protestos.
O presidente ucraniano reafirmou sua oferta de diálogo com os líderes dos três principais partidos de oposição no Parlamento - Batkivshina, UDAR e Svoboda - mas com a condição de que cumpram com suas exigências sobre o fim da violência. "Já não podemos trazer de volta os mortos. Já pagamos um preço muito alto pelas ambições daqueles que aspiram ao poder. Para que esse preço não seja ainda mais alto, faço um apelo ao equilíbrio. É preciso sentar à mesa de negociações para salvar a Ucrânia", disse Yanukóvich.

O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, anunciou luto nacional em homenagem às 25 mortes causadas durante os protestos da madrugada desta quarta-feira (19) (Foto:  EFE/ANDRIY MOSIENKO / POOL)


Ação antiterrorista
Após a eclosão dos distúrbios violentos desta madrugada, as forças de segurança da Ucrânia anunciaram uma operação antiterrorista que será aplicada em todo o território nacional. De acordo com o chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), Aleksandr Yakimenko, a justificativa para a adoção da medida são os recentes ataques registrados em  sedes dos edifícios governamentais, delegacias de polícia, escritórios dos serviços de segurança, procuradorias, unidades militares e arsenais. Segundo ele, só nas últimas 24 horas mais de 1.500 armas de fogo e cerca de 100 mil balas caíram em mãos de criminosos, após ataques a delegacias e prédios das Forças Armadas.
Reação internacional
Principal aliado do governo de Yanukóvich, a Rússia condenou a ação violenta dos manifestantes  e afirmou que a oposição ucraniana está tentando dar um "golpe de Estado".  "Moscou condena firmemente a violência dos elementos radicais", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Segundo ele, na opinião do presidente da Rússia, Vladimir Putin, "toda a responsabilidade do que ocorre atualmente na Ucrânia é dos extremistas".
O agravamento da crise política da Ucrânia levará os ministros de Relações Exteriores da União Europeia (UE) a se reunir neste quinta-feira (20), de forma extraordinária, para analisar a situação do país e estudar que medidas adotar diante do agravamento da repressão policial e da violação dos direitos humanos no país. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, disse que existe a possibilidade de a UE impor sanções contra a Ucrânia.
A Organização das Nações Unidas (ONU) também se manifestou diante do aumento da violência na Ucrânia. A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, apelou para uma solução pacífica à crise por meio do diálogo. "Condeno fortemente esses assassinatos e insisto que o governo e os manifestantes ajam para aliviar a tensão e adotem um novo plano de ação rumo a uma solução pacífica para a crise", afirmou Navi, em comunicado divulgado em Genebra. A comissária também pediu uma investigação "urgente e independente" para estabelecer responsabilidades sobre o ocorrido, incluindo o uso excessivo da força, para garantir que suas autoridades prestem contas à justiça.
A madrugada de guerra vivida em Kiev também teve destaque na audiência geral do papa Francisco, realizada às quartas-feiras na Praça São Pedro, no Vaticano. Francisco pediu que "todas as partes cessem qualquer tipo de ação violenta e que busquem a concórdia e a paz do país". "Com preocupação, sigo nestes dias o que está se sucedendo em Kiev e asseguro minha proximidade com o povo ucraniano e rezo por todas as vítimas da violência, por seus familiares e pelos feridos", disse o pontífice. Enquanto o papa discursava, os protestos continuavam em Kiev.

Manifestantes se protegem atrás de escudos durante protesto contra o governo da Ucrânia (Foto: AP Photo/Sergei Chuzavkov)
A crise política na Ucrânia
As primeiras manifestações contra o atual governo da Ucrânia eclodiram em novembro do ano passado, quando a Ucrânia, em meio a uma grave crise econômica, desistiu, após anos de negociações, de se tornar o 29º membro da UE para intensificar relações econômicas com a Rússia, que pressionou o governo ucraniano com ameaças de restrições comerciais, principalmente vinculadas ao fornecimento de gás natural. Desde a independência da antiga União Soviética, em 1990, o país ficou dependente da importação de gás natural e petróleo da Rússia.
Aparentemente dividido sobre a questão, o governo ucraniano havia afirmado que sua intenção era assinar "em breve" o acordo de associação, desde que recebesse garantias financeiras que sua implementação não prejudicaria a fragilizada economia ucraniana - o que não ocorreu. No final de dezembro, a Ucrânia assinou o acordo com a Rússia, esfriando as esperanças de ingresso ao bloco europeu.
O tratado com a Rússia garantiu o barateamento em 30% do gás pago pela Ucrânia ao monopólio russo Gazprom. Além do desconto da tarifa de gás, a Ucrânia recebeu da Rússia US$ 15 bilhões em títulos da dívida pública ucraniana. Para o governo, o tratado comercial não poderia ter sido melhor e salvou, de vez, a economia da Ucrânia. A oposição entendeu o acordo como uma forma de suborno e passou a acusar o presidente ucraniano de vender o país.
Em três meses, as manifestações pelo centro da capital ganharam força, com a adesão de novos adeptos a todo momento. Na mesma proporção, a repressão policial e a violência dos protestos só aumenta, transformando o centro de Kiev num verdadeiro campo de guerra.

Manifestante se protege atrás de lata de lixo durante confronto, em dia de chuva, com policiais em Kiev, na Ucrânia (Foto: AP Photo/Efrem Lukatsky)

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