Sociedade em estado bruto
Em duas semanas, o Brasil
assiste a dois “justiçamentos”. A onda de barbárie mostra que a
população está à beira da saturação: na segurança, na economia, nos
transportes, o país dá um passo à frente e dois para trás
Leslie Leitão e Fernanda Allegretti
Adolescente preso a um poste com uma tranca de bicicleta, no Flamengo, Zona Sul do Rio
(Reprodução)
Mesmo nas sociedades mais avançadas a civilização e a barbárie
travaram quedas de braço. Os gregos clássicos do século IV antes de
Cristo, que inventaram o pensamento abstrato, colocando a humanidade em
um patamar superior, conviviam sem remorsos com a escravidão e o
genocídio — as cidades inimigas sitiadas podiam escolher entre a
rendição, caso em que apenas os homens adultos seriam mortos, e a
resistência, que significava o massacre pela espada de todos: homens,
mulheres e crianças. Na Roma dos Césares, que atingiu um nível de
qualidade de vida que só seria equiparado com o advento da Revolução
Industrial na Inglaterra dezesseis séculos mais tarde, a diversão mais
popular era ver pessoas serem devoradas por leões famintos no Coliseu.
As sociedades modernas também foram palco do mesmo fenômeno de
contrastes. No começo dos anos 60, a União Soviética, no auge, foi capaz
de colocar um homem em órbita, mas mandava dissidentes para morrer de
fome e exaustão do trabalho escravo em infernos na Terra, os “gulags”.
Mesmo nos Estados Unidos do pós-guerra, em que pessoas comuns tinham
mais luxos do que os monarcas do começo do século XX, o ódio racial
separava brancos e negros, que comumente eram alvo de organizações
secretas assassinas, sendo a Ku Klux Klan a mais notória. Mas tudo isso
é história. A tendência do progresso atualmente é aplainar as
diferenças mais gritantes entre os estágios civilizatórios em um mesmo
território. No Brasil não vinha sendo diferente. Mas, de uns tempos para
cá, os episódios de barbárie têm sido tão frequentes e crescentemente
cruéis que há sinais alarmantes de que o país pode estar vivendo um
processo de ruptura social grave, cujo sintoma clássico é o
amortecimento das consciências, um transe coletivo em que as pessoas já
não se chocam com mais nada.
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