domingo, 5 de junho de 2011

Deve ter sido uma decisão muito forte mais foi o começo e foi o exemplo para muitoos paises quem sabe torne uma bola de neve e acenda as outras naçoes.

A escolha alemã

O anúncio do fim do programa nuclear da Alemanha gera decisões semelhantes em outras partes do mundo - e pode mudar planos do Brasil em relação às suas usinas

André Julião

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CONDENADAS
Todas as 17 usinas nucleares alemãs serão desativadas até 2022
A Alemanha tomou uma decisão histórica na semana passada ao anunciar o desligamento progressivo de todos os seus reatores nucleares até 2022. A medida, anunciada pela chanceler Angela Merkel, prevê a aposentadoria das 17 instalações atualmente em funcionamento no país – responsáveis por mais de 20% do fornecimento da energia elétrica local. As fontes renováveis devem tomar o lugar da fissão, embora ainda não seja claro como isso vai ocorrer.

O desafio é grande. Mesmo que a Alemanha dobre a participação da energia eólica, solar e de biomassa (atualmente de 18%), como promete, não dará conta de suprir a necessidade do país. Por isso, o governo aposta também em medidas de estímulo à redução do consumo, como incentivos fiscais a construções com baixo gasto de eletricidade. Segundo o plano, o consumo deve cair 10% até 2020.

Especialistas, no entanto, acreditam que nos próximos anos a desativação deve provocar o aumento do uso de energia termoelétrica, obtida a partir da queima do carvão e responsável por grande parte das emissões globais de gases do efeito estufa (leia quadro). Essa forma de geração energética responde hoje pela maior parte do abastecimento local. Isso, porém, se daria apenas nos primeiros anos da década, quando as alternativas renováveis então ganhariam mais espaço. “A Alemanha tem um bom potencial para energia eólica e solar”, diz o físico nuclear José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP).
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FUTURO
A chanceler Angela Merkel aposta nas energias limpas.
Nas outras fotos, protestos antinucleares em Berlim
O anúncio de Angela Merkel ocorre num momento de crescimento do Partido Verde alemão – que deve sua origem à luta antinuclear – e de pressões populares. Há dois anos, a chanceler havia revisto uma decisão de 2002 do então mandatário Gerhard Schroeder, que previa o encerramento da atividade nuclear da nação até 2030. Em vez disso, ela decidiu prorrogar a atividade dos reatores até 2042. A medida desagradou ao ministro do Meio Ambiente e organizações ambientalistas. Dois dias antes da decisão, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em 20 cidades alemãs para pedir o fim da energia atômica no país.

Dos 17 reatores alemães, oito estão no chamado “estado de hibernação”. Isso ocorre desde março, quando as instalações nucleares de Fukushima, no Japão, entraram em colapso. A parada nas atividades, que seria temporária, agora será definitiva. Dos nove ainda em funcionamento, seis serão desativados até 2021 e os últimos três, em 2022 (leia gráfico abaixo). Depois do vazamento japonês, Suíça, Áustria e Dinamarca também se comprometeram a abandonar a fissão nuclear. Já a Itália, China, Tailândia e Malásia adiaram planos de construir novas instalações. Por sua vez, França, Grã-Bretanha e os países do Leste Europeu se recusam a abrir mão de seus reatores.

A escolha alemã de se tornar a primeira nação europeia a abandonar a energia nuclear ressoou também no Brasil. A construção de quatro novas usinas nucleares até 2030 está sob reavaliação na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão submetido ao Ministério de Minas e Energia e responsável pelo novo Plano Nacional de Energia (PNE), com a estratégia para o setor até 2035. As quatro novas usinas – duas no Nordeste e duas no Sudeste – podem ser excluídas das prioridades. “É um bom sinal, mas isso não quer dizer, ainda, que as usinas não serão mais construídas”, explica Ricardo Baitelo, especialista em energia do Greenpeace.

A decisão brasileira, porém, só será anunciada no ano que vem. O plano era construir mais quatro usinas, além de Angra 3, que teve as obras retomadas após uma interrupção de 20 anos. Os equipamentos dessa usina e de Angra 2 são alemães, mas não devem ser afetados pelo fim do programa nuclear do país europeu do ponto de vista tecnológico – todo o material já estaria no Brasil. O problema é financeiro. Cerca de 30% do valor da usina cerca de (R$ 3,4 bilhões) viria de investimentos da França, garantidos por um mecanismo de crédito do governo alemão. Sem uma definição sobre o futuro nuclear no País, a oposição alemã pressiona para que o crédito seja cancelado. Por isso, o BNDES já se comprometeu a pagar essa parte, arcando com todo o custo da obra – cerca de R$ 10,4 bilhões. A Alemanha provou que o fim das usinas tem um poder de se espalhar maior do que o da radiação.
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SUJAS
Usinas termoelétricas alemãs serão mais usadas
Limpa por um lado, suja por outro
Uma notícia pode abalar o clima de festa que se seguiu ao anúncio do fim do programa nuclear alemão. A Agência Internacional de Energia (AIE) advertiu que 2010 foi o ano com as maiores emissões de gases do efeito estufa da história. Os defensores da energia atômica podem argumentar que o desligamento das usinas alemãs vai aumentar as emissões por causa do aumento da queima de carvão. Com alguma razão. Antes do anúncio do fim do programa nuclear alemão, a AIE já havia advertido que a “hibernação” dos sete reatores iria acrescentar 25 milhões de toneladas por ano às emissões de dióxido de carbono do país. “Se considerarmos o ciclo inteiro, da mineração até o descarte do material radioativo, porém, ela emite muito mais do que qualquer outra fonte energética”, diz Ricardo Baitelo, do Greenpeace. Para José Goldemberg, da USP, as piores consequências do aquecimento global serão sentidas em 30 ou 40 anos. “Mas um acidente nuclear tem desdobramentos imediatos.”
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