domingo, 12 de junho de 2011

Isso não vai subir para a cabeça não, vamos ver?????

N° Edição:  2170 |  10.Jun.11 - 21:00 |  Atualizado em 12.Jun.11 - 09:12

O casal mais poderoso da República

Casados há 13 anos, o ministro das Comunicações e a nova ministra da Casa Civil têm nas mãos programas prioritários do governo Dilma e vão administrar um orçamento do tamanho do Bolsa Família

Alan Rodrigues (Curitiba) e Sérgio Pardellas

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DE MUDANÇA
Paulo Bernardo e Gleisi já alteram rotinas para se adaptar à nova vida em Brasília
Às 6h10 minutos da quarta-feira 8, o telefone tocou na casa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Ele atendeu e, ainda sonolento, ouviu do outro lado da linha: “É o assessor da ministra Gleisi?”, perguntava a jornalista de uma rádio da capital, em busca de uma entrevista com a nova titular da Casa Civil, que seria empossada no cargo horas mais tarde. “Claro que não, minha senhora. Assessor a esta hora da manhã?”, resmungou o ministro. Foi um sinal de que as coisas estavam mudando naquela casa. Escolhida pela presidente Dilma Rousseff para substituir Antônio Palocci, abatido pelo escândalo da multiplicação de seu patrimônio, Gleisi Hoffmann formará, com Paulo Bernardo, o primeiro casal ministerial da República. Casados há 13 anos, os dois se transformaram no par mais poderoso da Esplanada dos Ministérios. O orçamento administrado pelo casal soma nada menos do que R$ 11,7 bilhões, valor equiparável ao montante reservado pelo governo este ano para o programa Bolsa Família. “Nessa sociedade, eu entro no máximo com 10%”, já brinca o ministro.

Mas ele acha que tem seus trunfos. Conhecedor dos segredos da culinária, nos fins de semana é Paulo Bernardo quem prepara o molho de tomate para acompanhar uma macarronada de boa fama. Vegetariana convicta, Gleisi é fã do prato e o ministro das Comunicações ameaça se valer disso para dar o troco, no caso de a ministra da Casa Civil barrar algum projeto de sua pasta. “Ela vai ficar sem meu macarrão.”
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NO PODER
Substituindo Palocci na Casa Civil e mais próxima da presidente Dilma, Gleisi faz
agrado aos partidos, mas se dedicará principalmente à administração do governo
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O cardápio dominical de Gleisi e Paulo Bernardo pode até não ser alterado. Mas a rotina do casal mudou radicalmente desde a semana passada. Convidada na terça-feira 7 para assumir o posto mais importante de sua vida pública, Gleisi substituiu uma agenda de compromissos que previa visita a exposições e reunião com sindicatos da construção por outra de maior responsabilidade na Casa Civil. Suas atribuições serão bem mais amplas do que as exercidas até então no Senado. Além de avaliar, monitorar e coordenar os ministérios e programas como PAC e Minha Casa Minha Vida, a chefe da Casa Civil despacha quase diariamente com a presidente da República e precisa estar presente na maioria das reuniões com os demais ministros. Como consequência, a neta do alemão Bertoldo Hoffmann, nascida em Curitiba, em 1965, já passou a acordar mais cedo, às vezes antes das 7 horas, e dormir mais tarde. Na quinta-feira 9, chegou em casa depois das 10h, o que não acontecia havia pelo menos seis meses.

Gleisi é metódica. Para não prejudicar a rotina dos filhos Gabriela Sofia, 5 anos, e João Augusto, 9, ao menos neste primeiro momento ela não pretende ocupar a residência oficial da Casa Civil, na Península dos Ministros. O casal continuará na casa alugada por Paulo Bernardo, localizada na QI 19 do Lago Sul, em Brasília. As crianças também permanecerão no mesmo colégio, a Escola das Nações. Todas as manhãs a nova ministra da Casa Civil costuma deixar os pequenos na escola e não pretende abrir mão desse hábito. “Sabemos que a nossa vida não é normal, como a da maioria das pessoas. Porém, tentamos amenizar isso ao máximo para não prejudicar as crianças”, diz Gleisi. Segundo Paulo Bernardo, o casal evita conversar sobre política diante dos filhos. “Damos um tempo na frente das crianças. Eles não gostam e não entendem”, justifica. O mais velho, João Augusto, sentiu muito a falta da mãe durante a campanha eleitoral para o Senado no ano passado. Gabriela, tal como o irmão, também não entendia direito o motivo da ausência dos pais. Por isso, o casal tentará preservar as atividades familiares dos fins de semana, com as visitas de sempre ao ParkShopping e ao Shopping Iguatemi e as sessões caseiras de filmes infantis. Eles têm hábitos simples. Costumam frequentar o restaurante Francisco, na Academia de Tênis, e o Avenida Paulista, onde Gleisi gosta de comer pizza.

O convívio no serviço público não é uma novidade na vida do casal. Em 1999, os dois foram secretários no governo de Zeca do PT em Mato Grosso do Sul. Ele na Fazenda e ela na Secretaria de Reforma Administrativa. Paulo Bernardo, há seis anos no Poder Executivo, ingressou na política em 1985 como diretor do Sindicato dos Bancários do Paraná. Com apoio da categoria, foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1991. Em 2002, chegou ao seu terceiro mandato na Câmara. No ano seguinte, Gleisi era convidada a assumir a diretoria financeira de Itaipu Binacional, levada por Jorge Samek, com quem já tinha trabalhado na Câmara de Vereadores do Paraná. Figura influente no PT, Paulo Bernardo ocupou o Ministério do Planejamento do governo Lula até 2010. Levando em conta a maior experiência do marido, Gleisi costuma lhe pedir conselhos. “Trocamos ideias. É natural”, diz a ministra da Casa Civil. Paulo Bernardo sempre faz questão de exaltar as qualidades da mulher: “Ela é muito bela, mas achar que essa é sua única qualidade costuma ser um erro. Gleisi é inteligente e disciplinada. Além disso, é boa oradora e, portanto, é difícil debater com ela”, derrete-se o ministro.
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EM AÇÃO
Gleisi e Paulo Bernardo na posse de Dilma (acima); em casa com os filhos, João Augusto e
Gabriela; e Gleisi recebendo apoio de Lula na campanha ao Senado (abaixo)
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Embora seja pouco conhecida no cenário nacional, engana-se quem pensa que Gleisi é uma neófita na política. Seus antigos amigos se irritam quando sabem que a oposição tentou carimbá-la de “Barbie da Dilma”, como se Gleisi fosse pouco mais que um rostinho bonito. “Isso é bullying político”, indigna-se a empresária curitibana Valéria Bassetti Prochmann, contemporânea de Gleisi no movimento estudantil do Paraná. “Ela tem história própria, além do marido e do partido.” A militância de Gleisi começou ainda no colégio Nossa Senhora Esperança, onde estudou até a oitava série do ensino fundamental. Nessa época, aos 14 anos, queria ser freira, mas o pai não deixou que ela se mudasse para o Rio Grande do Sul, onde ficava a sede da congregação. “Depois de abandonar a ideia de ser freira, ela dividia o desejo de ser psicóloga ou advogada”, lembra a orientadora educacional e vocacional de Gleisi, Sheila Maria Raduske. “Dizia que queria muito ter uma sala com seu nome na porta”, conta Sheila. Depois, foi estudar no Colégio Medianeira e com os jesuítas aprendeu a gostar de política. A ministra foi uma adolescente enfezadinha. “Ela tinha uma personalidade muito forte”, lembra o professor de filosofia Rudi Raduske, coordenador do colégio. “Era questionadora de tudo”, diz a antiga colega de turma Márcia Cubas, hoje professora de mestrado na área de ciências biológicas, na PUC de Curitiba. Márcia diverte-se também ao lembrar que Gleisi cultivava um estilo próprio até ao se vestir. “Enquanto todas as meninas frequentavam a escola de sandálias da moda, ela usava galochas vermelhas.”

Aos 17 anos Gleisi se filiou ao PCdoB. Destacou-se como uma militante disciplinada e organizada, de acordo com Francisco de Assis França, o Kiko, dirigente paranaense do partido. Entre os companheiros, adotava o codinome Clara. Ainda menor de idade, viajou para São Paulo com documentos falsificados pelo partido para participar de um encontro estudantil. “Foi a única forma de driblar a fiscalização. Para a família, Gleisi disse que ia dormir na casa de amigas”, lembra uma de suas três companheiras naquela aventura. Conhecida como “tribuneira” – uma referência aos militantes comunistas que vendiam a “Tribuna Operária” de porta em porta –, Gleisi era uma rigorosa cumpridora de tarefas. Por exigência do partido, esticou sua vida de estudante secundarista matriculando-se na Escola Técnica Federal (Cefet). Mesmo com preferência pelas matérias de ciências humanas, fez o curso de eletrotécnica. “Precisávamos reorganizar o movimento lá. Ela foi destacada pelo Comitê do partido e cumpriu a missão”, conta um ex-comunista que militava com Gleisi. Pertencente à corrente estudantil chamada “Movimento Viração”, Gleisi se tornou líder secundarista do Paraná, chegando a dirigir a Ubes. A essa altura, Paulo Bernardo já era um destacado líder do Sindicato dos Bancários do Paraná.

A vida política de ambos deu muitas voltas até que Paulo Bernardo e Gleisi se casassem em 1998. As circunstâncias que levaram ao enlace são curiosas. Este é o segundo casamento de Gleisi. O primeiro ocorreu em 1990, quando se uniu ao jornalista Neilor Toscan. A união durou seis anos. Em 1993, ela foi trabalhar no gabinete do então deputado Paulo Bernardo, na Câmara. Uma de suas tarefas era buscar informações sobre o governo FHC no Siafi (sistema informatizado que registra os gastos da União). Toscan também assessorava Bernardo. Na época, vários parlamentares petistas dividiam seus apartamentos funcionais com assessores e dirigentes da legenda, para economizar. Com Gleisi e o marido não foi diferente. Ela e Neilor Toscan viviam sob o mesmo teto que Paulo Bernardo. Pouco tempo depois Gleise separou-se do marido e uniu-se ao atual companheiro. Sempre muito discreta e avessa a tornar pública sua vida privada, a ministra não comenta essa história, confirmada por diversas fontes ouvidas por ISTOÉ. “Não sei por que eles escondem isso. Amor e traição fazem parte da vida”, diz um amigo do casal.
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