domingo, 20 de janeiro de 2013

A casa caiu aqui não foi o esperado.

Atualizado em 19/01/2013 13h56
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A “vaquinha” de Brasília e as “maçãs podres” do PT

A solidariedade de petistas e simpatizantes aos mensaleiros só faz sentido se for entendida como parte de uma estratégia maior de captação de recursos ilícitos pelo partido


O jantar de arrecadação de fundos organizado por militantes do PT de Brasília na quinta-feira, para ajudar o ex-ministro José Dirceu e outros caciques do partido a pagar as multas milionárias que lhes foram impostas pelo STF no processo do mensalão, deixou muita gente boa indignada por aí.
O convescote, que teve como prato principal o tradicional frango com polenta servido nos rodízios do ABC paulista, nos quais o ex-presidente Lula se esbaldava quando era dirigente sindical, não atraiu mais do que cem comensais. O saldo da “vaquinha” - entre R$ 15 mil e R$ 100 mil – também ficou bem abaixo do que esperavam os organizadores. Mas a ideia de que Zé Dirceu, Genoino, João Paulo Cunha e Delúbio Soares sejam tratados pelo PT como heróis que tombaram em defesa da “causa” é algo simplesmente inaceitável para os cidadãos de bem, que celebraram a decisão do STF como uma vitória contra a bandalheira promovida pelo partido que reivindicava para si, até pouco tempo atrás, o monopólio da ética na vida pública nacional.
Apesar da indignação provocada pelo evento “beneficente” da capital federal fora dos círculos petistas (e de simpatizantes), a solidariedade e o apoio irrestrito da militância, de dirigentes partidários, das autoridades e do chefe-supremo Lula aos “companheiros” condenados, não deveria ser algo tão surpreendente. Para o pessoal do PT, é como se os mensaleiros tivessem tombado enquanto cumpriam uma missão secreta que permitiria o crescimento do partido e sua perpetuação no poder.
O PT parece ter organizado seu sistema de captação financeira sem se importar muito com a legalidade ou ilegalidade de sua estratégia
Como na época da guerrilha, do gênero da que abrigou a presidente Dilma Rousseff, Zé Dirceu e tantos outros nomes ilustres, o PT parece ter organizado o seu sistema de captação financeira sem se importar muito com a legalidade ou ilegalidade de sua estratégia. Diante de uma causa “nobre” – a de tomar o poder para implantar um governo popular e socializante –, a máxima de Maquiavel, de que os fins justificam os meios, prevaleceu. Afinal, o que importava (e ainda importa) era conseguir o maior volume possível de recursos, para o partido prosperar. Mesmo que, para isso, fosse (e seja) necessário usar as mesmas ferramentas de seus adversários, tantas vezes criticadas pelo PT quando estava na oposição.
O mensalão está longe, muito longe de ser um caso isolado, como mostram os casos das administrações petistas de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, na época em que o ex-ministro Antonio Palocci era prefeito, e o de Santo André, no ABC, onde o prefeito Celso Daniel foi assassinado por razões até hoje não esclarecidas oficialmente. Nos dois casos, a administração petista foi acusada de ter criado esquemas de corrupção nas áreas de lixo e de transporte, para levantar recursos para o partido e enriquecer seus dirigentes.
Só assim é possível entender por que, em vez de procurar isolar os mensaleiros como “maçãs podres”, para tentar salvar a reputação do partido e sua história, a cúpula petista e sua tropa de choque defendem de forma intransigente os mensaleiros Zé Dirceu, Genoíno, João Paulo e Delúbio e chegam ao ponto de promover jantares para ajudá-los a quitar suas dívidas e de ameaçar transformar a Câmara dos Deputados em asilo para o grupo.
É certo que o governador gaúcho, Tarso Genro, e o ex-governador Olívio Dutra, ambos do PT, criticaram recentemente a forma como o partido tem reagido às condenações dos mensaleiros. Mas a julgar pelo que aconteceu nos últimos anos com gente que ficou de fora do esquema esperto de captação do PT, como o senador Eduardo Suplicy, hoje totalmente excluído do processo decisório petista, Genro e Dutra logo, logo deverão cair em degraça também.

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