Aula 5: Feminismo na prática
O último encontro do curso "Afinal, o que querem as mulheres?", na Casa do Saber, contou com a presença de Sara Winter, ex-ativista do Femen no Brasil, para falar sobre suas experiências
Sara não nasceu em uma família politicamente engajada, nem cresceu escutando as ideias feministas, apesar de ter tido que lidar com o machismo desde a adolescência. "Descobri que beijar era bom e saí beijando a escola inteira", conta ela. "E aí, quando começaram a me chamar de biscate, não entendia o que estava fazendo de errado."
Essa experiência tinha sido a mais próxima do feminismo a que chegara a jovem nascida em São Carlos, interior de São Paulo. Com o ativismo, ela também tinha tido um pouco de contato quando integrou um grupo que protestava contra a organização de um rodeio na sua cidade. Desde pequena, quando perguntada sobre o que queria ser quando crescesse, Sara respondia: quero mudar o mundo. Ela só não sabia como.
As coisas começaram a mudar quando, por acaso, ela se deparou com uma notícia na internet sobre um grupo chamado Femen. Fundado pela ucraniana Anna Hutsol em 2008, a organização ficou conhecida por suas ativistas, que protestavam de top less. Aqui no Brasil, Sara ficou fascinada com a ideia de mudar o mundo apenas usando sua voz e seu corpo, e começou a ler tudo sobre feminismo e sobre o Femen em diversos países.
Sara mandou uma mensagem via internet para Anna dizendo que achava importante que essas ideias feministas chegassem ao Brasil. E que ela queria trazê-las. "Na sociedade brasileira, o feminismo ainda está dentro das salas de aula, dos centros de pesquisa, e não nas ruas. Era isso que eu queria mudar", explica. Mas, afinal, o que é o feminismo? "Para mim, a definição de feminismo é fazer o que eu quiser, quando e com quem eu quiser. Ser quem eu quiser, como e onde eu quiser", resume. E completa: "o feminismo não é mais uma luta apenas por melhores políticas públicas para as mulheres. Virou uma luta por igualdade de gênero, raça, classe social." Então, o feminismo pode defender qualquer minoria? Na opinião de Sara, sim. Mas as ucranianas do Femen não pensavam assim.
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Durante uma viagem à Ucrânia, para onde foi protestar contra o turismo
sexual e conhecer mais de perto a filosofia do Femen, Sara percebeu que
nem tudo eram flores. As feministas ucranianas tinham um discurso de que
todo homem é inimigo, com o qual a jovem brasileira discordava. Ainda
assim, o método de protesto delas era muito eficiente. "Protestar
mostrando os seios é se apropriar do seu corpo. As formas das mulheres
sempre foram usadas pela publicidade, por exemplo, para vender cerveja,
carros, quaisquer produtos. Por que não usá-las para vender ideias?".A ideia de Sara é simples: ao ver uma mulher seminua, concorde ou não com os motivos dela, qualquer pessoa vai parar e olhar uma segunda vez. Os jornais estamparão no dia seguinte suas fotos. E aí, as palavras de ordem escritas no corpo serão lidas por um número incalculável de pessoas. Foi por isso que ela ficou tão apaixonada pelo Femen.
Mas qualquer paixão sofre contratempos, e Sara acabou se decepcionando com as irmãs ucranianas. À frente do movimento no Brasil, ela começou a ser cobrada por ações violentas do Femen na Europa. Decidiu, então, junto com outras ativistas, escrever um manifesto em que se diziam independentes e não responsáveis por protestos que acontecessem na Europa. Em última análise, esse manisfesto significou o fim do Femen no Brasil.
Hoje, Sara e outras ex-Femen estão trabalhando na organização de um novo grupo, o Bastardxs (lê-se Bastardos, mas o x é usado pela linguagem inclusiva para dizer que homens e mulheres são bem-vindos). O nome foi escolhido porque elas se enxergam como filhas bastardas do Femen. Do grupo ucraniano, algumas coisas foram mantidas, como o uso do corpo como forma de protesto. Outras, adaptadas para a realidade brasileira: como já citado, homens são aceitos no grupo, que lutará contra qualquer tipo de discriminação. Sara também enfatizou que o Bastardxs respeita a pluralidade religiosa, tão característica no Brasil, desde que ela não interfira na liberdade das suas manifestações.
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