Esquema em Blumenau (SC) fraudou até conserto em mecânica; candidato comprou voto por R$ 20
Vinícius Segalla e Guilherme Balza
Do UOL, em Blumenau (SC) e São Paulo
Do UOL, em Blumenau (SC) e São Paulo
As fraudes nas contratações ocorriam com a participação de servidores da URB (Companhia Urbanizadora de Blumenau), apontada pelo MP como pivô no esquema, que pode ter desviado mais de R$ 100 milhões, para beneficiar empreiteiras e candidatos a vereador ligados ao esquema.
Uma das interceptações telefônicas do MP mostra a servidora Maria Helena Pereira Gastaldi, responsável pelo setor de compras da URB, conversando com uma representante de uma oficina mecânica chamada Letícia. No diálogo, a interlocutora diz que o conserto de uma picape Saveiro ficou orçado em R$ 2.771, porque seria necessário "fazer o motor todo".
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Conversa na qual Maria Elena, funcionária do setor de compras da URB, pede para uma interlocutora que trabalha em uma mecânica ajudá-la a fraudar um contrato para o conserto de um veículo, segundo o MP
As investigações apontam que, além das fraudes, os servidores, em troca de propina e outras vantagens, viabilizavam o desvio de material da URB para empreiteiras, autorizavam a contratação de funcionários fantasmas e adulteravam medições de obras.
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Na conversa acima, Maria Elena e o empreiteiro Moisés Rodrigues, o Tchê, brincam sobre a possibilidade de os telefones estarem grampeados. Depois, segundo a Promotoria, Tchê combina o pagamento de propina à funcionária da URB
As transcrições mostram que Victor, aproveitando-se das prerrogativas de seu cargo, fez favores a eleitores para angariar votos a Robinho, como direcionar o asfaltamento de vias, fazer religações de energia, entre outros. O investigado, sustenta o MP, utilizou telefone funcional e veículo da prefeitura em atos de campanha.
Conversas entre Victor e Maria Helena com o empreiteiro Moisés Rodrigues, o Tchê, indicam que os dois servidores receberam propina pelos atos ilícitos.
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Em outra conversa, o empreiteiro Moisés Rodrigues, o Tchê, fala do pagamento de propina a Victor, que se cala, segundo o MP, por desconfiar que estava sendo monitorado.
Voto por R$ 20
Um dos candidatos beneficiados pelo esquema em Santa Catarina foi Bráz Roncáglio (PR), que não se elegeu vereador no ano passado, mas hoje ocupa o cargo de segundo suplente do PR na Câmara de Blumenau.A exemplo de outros candidatos, a principal "tática" de Roncáglio era direcionar o asfaltamento de vias que poderiam beneficiá-lo eleitoralmente, conforme demonstram várias interceptações feitas pelo Ministério Público.
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Na transcrição acima, Braz entrega R$ 20 a um transeunte em troca de votos, de acordo com a investigação do MP
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Célio Dias
Outro candidato que teria se beneficiado com o esquema é Célio Dias (PR), que se elegeu vereador no município com a maior votação de seu partido, com 2.606 votos.De acordo com o Ministério Público, Dias, enquanto candidato, se aproveitou da influência que tinha por ter sido diretor administrativo e financeiro da Secretaria de Articulação Política e ex-diretor-presidente da URB para conquistar votos.
Ele teria liberado alvarás a comerciantes em troca de apoio político e se beneficiado da relação com o empreiteiro Israel de Souza, cujas empresas mantinham dezenas de contratos com a administração municipal.
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Na conversa, um cabo eleitoral de Célio Dias (PR), chamado Marcelo, diz que irá conseguir a liberação de um alvará para o dono da pizzaria, em troca de apoio eleitoral a Dias, então candidato a vereador
Segundo o MP, o esquema criminoso instalado na URB permaneceu atuando durante a presidência de Dias na URB.
Outro lado
Roncáglio conversou por telefone com a reportagem e disse que só irá se pronunciar, respondendo às acusações, depois da decisão do TRE. "Muita coisa que se fala não se faz. E muita coisa que não se fala, se faz", disse. "Não há nada que me desabone nas minhas escutas telefônicas. Não cometi roubo, nada dessas coisas", afirmou.A reportagem ligou para o gabinete de Célio Dias, mas foi informada por uma assessora de que ele não irá falar sobre o assunto até a decisão do TRE sobre sua candidatura.
O UOL ligou para o celular de Maria Elena, mas não a localizou. Victor também foi procurado no telefone pessoal, mas não atendeu a ligação. Uma mensagem eletrônica foi deixada na caixa postal dele, porém até o fechamento da reportagem não houve retorno por parte do investigado.
Ambos foram procurados na URB, mas uma mulher disse que eles não trabalham mais no órgão.
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