terça-feira, 14 de maio de 2013

O alerta já foi dado a muito tempo e o que vemos é que nada fizeram.

Glaciar Pia: as geleiras da Patagônia estão vivas e em movimento

Leia até o final da reportagem para saber quem ganhou o elefante-marinho de pelúcia!
Se existe uma boa razão para viajar à Patagônia – além das que já enumerei anteriormente neste blog – é ver uma geleira. É uma daquelas paisagens que comprova como nós, seres humanos, somos apenas formiguinhas no planeta quando estamos ao lado de um paredão imenso de gelo azulado. É uma experiência única!
A bordo do Via Australis, não perdi nenhuma oportunidade de ver as diversas geleiras, mesmo se apenas do convés. Uma das tardes mais ricas foi a passagem pela Avenida dos Glaciares no Canal de Beagle. Cada geleira foi batizada com um nome de um país europeu e a tripulação teve a excelente ideia de oferecer um brinde apropriado a cada massa de gelo. Ao passar pelo Glaciar Alemanha, tivemos cervejas e salsichas grátis para todos. Vinte minutos depois, queijo e taças de champanhe para celebrar o Glaciar França. Uma rodada de pizza e copos de vinho para a Itália. A Holanda e a Suíça (Romanche) também ganharam brindes.
Bom mesmo foi desembarcar e ver uma geleira de perto e sentir sua pulsação. Sim, ouvir seus ruídos e estalos. Qualquer glaciar está sempre em movimento. Um movimento mínimo; jamais uma geleira estará parada. Na realidade, é quase impossível passar uma meia hora em frente a um glaciar da Patagônia e não ouvir os sons do gelo se rompendo. Geralmente os estrondos acontecem dentro e não são tão visíveis. Mas, qualquer glaciar que se preze dará um pequeno espetáculo e fará que uma de suas torres ou paredes desmorone e caia na água.
O Glaciar Pia foi uma de nossas paradas. O paredão de gelo é parte do Parque Nacional Alberto de Agostini, localizado a 80 milhas náuticas de Punta Arenas, no Chile.
© Haroldo Castro | Patagonia Grupo de visitantes em frente ao Glaciar Piar. Na água, uma profusão de pedaços de gelo que se desfizeram da geleira.
© Haroldo Castro | Patagonia 
Com paciência e persistência é possível fotografar o momento exato que um paredão de gelo se solta do glaciar (no centro da foto).
Fotografar este instante da queda é mais fácil do que parece. Bem mais importante do que ter a câmera preparada é possuir um ouvido que reconheça onde o primeiro estalo aconteceu, uma vez que o barulho do rompimento antecede a queda. Identificado o local do som, basta apenas mirar o lugar certo. Durante a hora que passei ao lado do Glaciar Pia, fotografei três quedas diferentes.
Mas, para os leigos – afinal, não existem glaciares no Brasil – o que é uma geleira?
Os glaciares representam o maior reservatório de água doce do planeta. Tanto nas altas montanhas (Andes, Alpes, Himalaias etc) como nas latitudes mais altas (regiões perto dos polos, incluindo a Patagônia), a acumulação da neve forma uma imensa massa de gelo. A neve de um ano que não consegue derreter ficará, no ano seguinte, embaixo de uma nova camada mais fresca. Com o passar dos anos, a neve vai se compactando devido ao próprio peso das novas camadas. Essa compactação cria o “nevado”, uma espécie de neve recristalizada. Muitas décadas depois, o produto será o gelo glaciar. Quanto mais tempo soterrado debaixo deste “rio de neve”, mais compacto o gelo ficará.
Graças à força da gravidade, todos os glaciares estão em movimento, mesmo se de forma imperceptível. As vistas aéreas revelam as geleiras como largos rios brancos que avançam, serpenteando entre montanhas. A discussão sobre as mudanças climáticas tomou novo ênfase quando cientistas concluíram que a maioria das geleiras, tanto nas regiões polares como nas grandes cordilheiras, está em franco retrocesso, diminuindo sua área.
E sua coloração azulada? O gelo da geleira é diferente do que aquele que está no freezer de sua geladeira e não é apenas água congelada. Como a geleira força caminho entre rochas, seu gelo tem uma composição química que inclui partículas de minerais. O gelo glacial foi criado por uma pressão muito acima do normal e absorbe todas as cores do espectro luminoso, com exceção do azul. O que vemos na geleira é a única cor refletida, o azul. Quanto mais compacto o gelo, mais azul ele é.
© Haroldo Castro | Patagonia
 O gelo “sujo”, com pedrinhas e cascalho, no alto da geleira Pia e no final de seu trajeto. Ao fundo, as camadas mais novas, ainda bem brancas.
© Haroldo Castro | Patagonia  
Na trilha que leva ao topo do morro, mesmo se continuo fascinado pelo glaciar, consigo olhar para baixo e descobrir uma vegetação frágil e muito diversificada.
© Haroldo Castro | Patagonia  
Às margens da baía do Glaciar Pia, pedaços de gelo chegam até a terra firme, levadas pelas ondas formadas pelas quedas. Em contato com o ar, os fragmentos tornam-se cada vez mais brancos.
© Haroldo Castro | Patagonia  
Para retornar ao barco Via Australis é preciso navegar entre os destroços de gelo do Glaciar Pia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário