Casa levantada no nível das árvores interage com a vida na Mata Atlântica
Uma espécie de chalé moderno, ecológico e integrado à natureza atendeu
ao sonho do arquiteto George Mills de construir sua casa de veraneio de
uma praia do litoral norte paulista. Simples e funcional, o caixote de
concreto destaca-se em meio à mata por sua estrutura e pela fluida
escada helicoidal (em formato caracol) que liga os pavimentos.
Dono de um terreno situado em uma ilha fluvial em São Sebastião - onde a Mata Atlântica ainda é exuberante - o arquiteto tinha o desejo de que “o sertão virasse mar” ao projetar a casa, distante do solo a uma altura de seis metros: "Gostaria que fosse possível ver a praia de lá, mas, mesmo sobre a laje da cobertura - nove metros acima do terreno - as árvores continuam bem mais altas do que a construção, impedindo a visão."
Se a vista para o mar não pôde ser garantida, ao menos, o arquiteto
assegurou que a vegetação, após a obra, pudesse se reconstituir
naturalmente no vão deixado entre o solo e a laje do primeiro piso. O
espaço entre os pilotis (colunas de sustentação) também liberou a
passagem para os animais silvestres. "Gaviões, tucanos, pica-paus,
macucos e jacu-guaçus são visitas frequentes passeando por cima, por
baixo e até pelo meio da casa quando as portas de correr estão
recolhidas", revela Mills.
O vão livre logo abaixo do primeiro pavimento permite, também, a construção de mais um pavimento no futuro, que se manterá três metros distante do terreno e comportará duas suítes.
Destaque na Bienal de Arquitetura
O projeto, que recebeu destaque na premiação da 9a Bienal de Arquitetura de São Paulo (nonaBia), realizada em 2011, não foi pensado apenas para atender aos desejos do arquiteto, mas principalmente como solução para integrar o homem à Mata Atlântica, preservando-a.
Segundo Mills, atualmente, em torno de 60% da população brasileira mora em áreas urbanas localizadas dentro desse ecossistema. Além de abrigar a maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a área original da floresta sedia os grandes polos industriais, petroleiros e portuários do Brasil, respondendo por quase 80% do PIB nacional. Por outro lado, o bem-estar de milhares de brasileiros depende dos recursos ambientais da floresta, como as nascentes de água.
"A construção em harmonia com a mata é um dever e um direito de todo cidadão. Esta pequena obra funciona como um chamado para a possibilidade de reaproximação com a imensa e exuberante biodiversidade, hoje ausente nas grandes metrópoles", destaca o arquiteto.
Legislação Local
Por estar situada em área de proteção ambiental e entre dois braços de
rio (um dos quais com largura em torno de dez metros), o projeto atendeu
uma série de determinações, como as distâncias mínimas de 30 metros de
um dos rios e de 50 metros do outro, conforme legislação federal. O
processo construtivo também procurou se adequar às condições do terreno.
Assim, por causa da legislação municipal, o projeto original - com colunas de 12 metros partindo da beira do rio - foi abandonado, mantendo-se a altura máxima de nove metros para o limite da laje da cobertura.
Concreto x aço
Conhecido por suas obras em aço, George Mills optou pelo concreto pela primeira vez na vida, devido à grande diferença de custo e à dificuldade de acesso à obra. Todo o transporte de materiais e pessoal foi feito por uma ponte com pequena capacidade estrutural, o que impediria o uso de guindaste para a montagem da estrutura metálica.
De acordo com o arquiteto, uma das vantagens da estrutura de concreto é demandar baixa manutenção, além absorver calor mais lentamente do que a madeira ou o aço, o que representa maior qualidade ambiental visto que, na mata, as flutuações térmicas e de umidade ultrapassam as equivalentes urbanas.
A opção de construir com concreto também se deu após uma série de tentativas em utilizar estruturas de madeira e pela dificuldade de encontrar esse material devidamente certificado no mercado. Mesmo assim o madeiramento foi aplicado na casa nos assoalhos, caixilhos e móveis, todos em peroba rosa reaproveitada, proveniente de restos de demolição da cidade de São Paulo. O eucalipto tratado em autoclave também foi utilizado, sendo aplicado nas áreas mais expostas, ao ar livre, como nos decks e guarda-corpos. Dessa forma, o madeiramento sujeito às intempéries tem mais resistência a deterioração e à ação de cupins, por exemplo.
Logística
Em função da dificuldade de acesso, praticamente toda a estrutura de concreto foi moldada no local, sendo o material (pedra e areia) entregue por partes, de metro cúbico em metro cúbico. Para a fundação, o projeto previu uma sapata de concreto para cada pilar, apoiadas diretamente na laje de pedra que passa por baixo do terreno a um metro de profundidade.
Moldados em formas de papelão, os pilares contêm no interior um tubo de
PVC por onde escoam as águas pluviais e o esgoto, como também as
instalações elétrica e hidráulicas.
As vigas invertidas, além de suportar a laje, auxiliam na distribuição horizontal das tubulações, que passam por baixo do assoalho e deck. Composta por peças de concreto pré-moldado, a escada helicoidal foi fabricada em São Paulo, sendo transportada e montada no canteiro de obra em dois dias.
Como fechamento das fachadas da casa, os painéis envidraçados de correr do chão ao teto controlam o fluxo de ar. Já as pequenas aberturas teladas protegidas por moldura também de concreto oferecem ventilação permanente.
Para o acabamento de pisos e paredes, as massas de revestimento e o concreto foram impermeabilizados sem modificar cor e textura, dando um aspecto rústico ao todo. A obra demorou um ano e custou R$ 200 mil, contabilizando mão de obra e material. (Silvana Maria Rosso, do UOL, em São Paulo).
A
mesma escada helicoidal usada como acesso ao pavimento interno da Casa
nas Árvores, alcança a laje de cobertura reservada ao lazer
Dono de um terreno situado em uma ilha fluvial em São Sebastião - onde a Mata Atlântica ainda é exuberante - o arquiteto tinha o desejo de que “o sertão virasse mar” ao projetar a casa, distante do solo a uma altura de seis metros: "Gostaria que fosse possível ver a praia de lá, mas, mesmo sobre a laje da cobertura - nove metros acima do terreno - as árvores continuam bem mais altas do que a construção, impedindo a visão."
CASA DE CONCRETO SE ALINHA ÀS COPAS DAS ÁRVORES
Foto 20 de 24 - A
mesma escada helicoidal usada como acesso ao pavimento interno da Casa
nas Árvores, alcança a laje de cobertura reservada ao lazer Fabiano Cerchiari/UOL
O vão livre logo abaixo do primeiro pavimento permite, também, a construção de mais um pavimento no futuro, que se manterá três metros distante do terreno e comportará duas suítes.
Destaque na Bienal de Arquitetura
O projeto, que recebeu destaque na premiação da 9a Bienal de Arquitetura de São Paulo (nonaBia), realizada em 2011, não foi pensado apenas para atender aos desejos do arquiteto, mas principalmente como solução para integrar o homem à Mata Atlântica, preservando-a.
Segundo Mills, atualmente, em torno de 60% da população brasileira mora em áreas urbanas localizadas dentro desse ecossistema. Além de abrigar a maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a área original da floresta sedia os grandes polos industriais, petroleiros e portuários do Brasil, respondendo por quase 80% do PIB nacional. Por outro lado, o bem-estar de milhares de brasileiros depende dos recursos ambientais da floresta, como as nascentes de água.
"A construção em harmonia com a mata é um dever e um direito de todo cidadão. Esta pequena obra funciona como um chamado para a possibilidade de reaproximação com a imensa e exuberante biodiversidade, hoje ausente nas grandes metrópoles", destaca o arquiteto.
Legislação Local
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O segundo pavimento da Casa nas Árvores, de George Mills, fica nove metros acima do solo
Assim, por causa da legislação municipal, o projeto original - com colunas de 12 metros partindo da beira do rio - foi abandonado, mantendo-se a altura máxima de nove metros para o limite da laje da cobertura.
Concreto x aço
Conhecido por suas obras em aço, George Mills optou pelo concreto pela primeira vez na vida, devido à grande diferença de custo e à dificuldade de acesso à obra. Todo o transporte de materiais e pessoal foi feito por uma ponte com pequena capacidade estrutural, o que impediria o uso de guindaste para a montagem da estrutura metálica.
De acordo com o arquiteto, uma das vantagens da estrutura de concreto é demandar baixa manutenção, além absorver calor mais lentamente do que a madeira ou o aço, o que representa maior qualidade ambiental visto que, na mata, as flutuações térmicas e de umidade ultrapassam as equivalentes urbanas.
A opção de construir com concreto também se deu após uma série de tentativas em utilizar estruturas de madeira e pela dificuldade de encontrar esse material devidamente certificado no mercado. Mesmo assim o madeiramento foi aplicado na casa nos assoalhos, caixilhos e móveis, todos em peroba rosa reaproveitada, proveniente de restos de demolição da cidade de São Paulo. O eucalipto tratado em autoclave também foi utilizado, sendo aplicado nas áreas mais expostas, ao ar livre, como nos decks e guarda-corpos. Dessa forma, o madeiramento sujeito às intempéries tem mais resistência a deterioração e à ação de cupins, por exemplo.
Logística
Em função da dificuldade de acesso, praticamente toda a estrutura de concreto foi moldada no local, sendo o material (pedra e areia) entregue por partes, de metro cúbico em metro cúbico. Para a fundação, o projeto previu uma sapata de concreto para cada pilar, apoiadas diretamente na laje de pedra que passa por baixo do terreno a um metro de profundidade.
PROJETOS INTEGRADOS À NATUREZA
Casa para admirar a lua, Costa Rica |
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Casa na Praia do Félix, Ubatura (SP) |
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Casa no Vale das Araras, Nova Lima (MG) |
As vigas invertidas, além de suportar a laje, auxiliam na distribuição horizontal das tubulações, que passam por baixo do assoalho e deck. Composta por peças de concreto pré-moldado, a escada helicoidal foi fabricada em São Paulo, sendo transportada e montada no canteiro de obra em dois dias.
Como fechamento das fachadas da casa, os painéis envidraçados de correr do chão ao teto controlam o fluxo de ar. Já as pequenas aberturas teladas protegidas por moldura também de concreto oferecem ventilação permanente.
Para o acabamento de pisos e paredes, as massas de revestimento e o concreto foram impermeabilizados sem modificar cor e textura, dando um aspecto rústico ao todo. A obra demorou um ano e custou R$ 200 mil, contabilizando mão de obra e material. (Silvana Maria Rosso, do UOL, em São Paulo).
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