N° Edição: 2248
| 07.Dez.12 - 21:00
| Atualizado em 08.Dez.12 - 19:45
Duas semanas depois de sair do conforto do anonimato que lhe permitia
operar nos bastidores do poder, a ex-chefe do gabinete da Presidência
em São Paulo Rosemary Nóvoa de Noronha, indiciada na Operação Porto
Seguro, ainda é um pesadelo para a cúpula petista. Assustada com a
possibilidade de ser abandonada por seus antigos padrinhos, Rose vem
emitindo recados nada republicanos para integrantes do governo e do PT.
Em conversas com interlocutores, Rose ameaçou contar “tudo o que sabe” e
arrastar novos personagens para o epicentro do esquema desvendado pela
PF. Diante disso, nos últimos dias foi articulada uma verdadeira
operação abafa na tentativa de tentar serenar os ânimos da secretária de
temperamento explosivo. O objetivo é evitar que o escândalo gere danos
maiores sobretudo para autoridades do governo e para o próprio
ex-presidente Lula, com quem Rosemary mantinha uma relação antiga.
SEMPRE ELE
Presidente do Instituto Lula e assessor do ex-presidente, Paulo
Okamotto esteve no apartamento de Rosemary Noronha na terça-feira 4
Para acalmar a ex-secretária da Presidência em São Paulo, foram
escalados personagens de peso da cúpula petista. Entre eles, Paulo
Okamotto, presidente do Instituto Lula, e o ex-ministro Luiz Dulci. Até o
ex-presidente Lula entrou no circuito e conversou com Rose, conforme
antecipou na última semana a colunista Mônica Bérgamo. No Congresso, o
senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o deputado Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN) foram destacados para fazer o meio-campo com os parlamentares e
impedir no nascedouro a instalação de uma CPI. No campo jurídico, o
requisitado advogado Celso Vilardi, parceiro do ex-ministro Márcio
Thomaz Bastos em casos de grande repercussão, assumiu o caso.
A operação abafa foi montada no Instituto Lula, que se transformou
numa espécie de gabinete de crise desde a eclosão do escândalo
envolvendo Rosemary com a fraude de pareceres em órgãos públicos.
Conforme apurou ISTOÉ, Okamotto foi ao apartamento de Rose, no bairro da
Bela Vista, na terça-feira 4. Assim que a encontrou, Okamotto percebeu
que a situação era pior do que ele imaginava. A ex-secretária da
Presidência parecia transtornada. Com os cabelos desgrenhados e
alterando o tom de voz, nem de longe lembrava a Rose vaidosa, flagrada
na investigação da Polícia Federal trocando influência política por
cirurgias plásticas. Com seu jeito zen, Okamotto disse a Rose que estava
falando em nome do ex-presidente Lula e que ela não ficaria
desamparada. “Calma, Rose. Segura firme. Não vamos te abandonar”. No
mesmo dia, Okamotto também teve que ouvir as lamúrias do marido de Rose,
João Vasconcelos, e de sua filha Mirella Nóvoa de Noronha. Eles
reclamaram que o escândalo destruiu suas vidas. O diretor do Instituto
Lula, o ex-ministro Luiz Dulci, também tentou convencer Rosemary a não
explodir. A conversa ocorreu pelo telefone. As investidas aparentemente
lograram êxito, ao menos por enquanto. Até o fim da semana, Rosemary
havia adiado os planos de jogar gasolina em uma fogueira que o PT tenta
apagar pelas beiradas.
Em outra ponta, o PT também conseguiu anular a influência que o
advogado José Luiz Bueno de Aguiar tinha sobre Rose. No início do
escândalo, Bueno divulgou nota em nome da ex-chefe de gabinete sobre as
24 viagens que ela fez ao Exterior em companhia do presidente Lula. O PT
não gostou da manifestação e interpretou o gesto do advogado como
autopromoção. Por isso, articulou rápido a troca do defensor. O nome de
Márcio Thomaz Bastos chegou a ser cogitado, mas o ex-ministro da Justiça
ponderou junto à cúpula do PT que a associação de seu nome ao de
Rosemary poderia atrapalhar mais do que ajudar, pois ele é conhecido
como conselheiro de Lula. Assim, a escolha pendeu para Vilardi, que caiu
nas graças do partido após livrar o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares
de uma pena de dois dígitos no julgamento do mensalão. Delúbio foi
condenado a oito anos e 11 meses. Os petistas temiam que o ex-tesoureiro
tivesse a maior punição entre os réus do núcleo político.
Vilardi não adianta detalhes da estratégia de defesa, mas diz que a
primeira orientação dada a sua cliente foi o silêncio. “Assumi o caso
agora. Ela não saiu do País. Está em São Paulo, vivendo normalmente.
Nesse momento, não pode nem pensar em falar nada.” Não falar e aparecer o
mínimo possível foram os conselhos do advogado a Rose. Fechada no
apartamento do bairro da Bela Vista, onde mora, Rose agora vive longe da
vida de mimos e bajulações que tinha à frente do gabinete da
Presidência. Com o rosto estampado em jornais, revistas e televisão, a
ex-chefe de gabinete já não sai às ruas sem ser incomodada e cumpre uma
espécie de prisão domiciliar voluntária desde que as investigações da
Polícia Federal a apontaram como operadora de um esquema de corrupção e
tráfico de influência. Nem os vizinhos e porteiros do prédio a deixam em
paz. Em busca de um semianonimato, ela fechou o apartamento. Desde a
quarta-feira 5, sumiu dos olhos dos moradores do bairro da Bela Vista.
Convencido de que, ao menos por ora, conseguiu acalmar os nervos de Rose, o governo passou a se dedicar ao Congresso. A primeira estratégia foi chamar os inimigos para um pacto de cavalheiros e evitar uma CPI. O próprio Lula procurou o alto comando do PSDB e apelou para o bom-senso. Na conversa, segundo parlamentares do PSDB ouvidos pela IstoÉ, o ex-presidente afirmou que a oposição faz seu papel ao questionar as denúncias de corrupção no governo, mas defendeu a importância de manter a Operação Porto Seguro no âmbito das instituições democráticas, evitando ataques à vida pessoal dos envolvidos. Os tucanos concordaram e confessaram a Lula que não se sentiriam confortáveis apelando para detalhes da vida íntima de ninguém. Os oposicionistas avisaram, no entanto, que não pouparão o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, nem qualquer um dos gestores flagrados na investigação.
Escaldado, o governo mobilizou os parlamentares aliados no Congresso.
No Senado, o líder do governo Eduardo Braga (PMDB-AM) comandou a tropa
de choque na audiência pública realizada na quarta-feira 5, para ouvir o
ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e o ministro Adams. PT e PMDB
se uniram para esvaziar a reunião e deixar a oposição falando sozinha.
Durante quase quatro horas de sessão, da ala governista apenas os
senadores José Pimentel (PT-CE) e Eduardo Braga se dirigiram a Cardozo e
Adams. Eles usaram o tempo, porém, para elogiar as instituições
brasileiras, que, segundo eles, investigam “doa a quem doer”
irregularidades na administração pública. Na mesma quarta-feira 5,
Lindbergh Farias (PT-RJ) foi encarregado pela cúpula do PT de articular
as bancadas para barrar requerimentos que possam convocar Rosemary a
prestar esclarecimentos no Congresso. Na Câmara, a missão de puxar o
freio e chamar os deputados da base para a operação abafa foi dada a
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O PT disse a Alves que a atuação no
escândalo Rosemary será o teste final de lealdade que o governo precisa
para entregar ao PMDB a presidência das duas Casas no próximo ano. Em
fevereiro, o deputado peemedebista será o candidato apoiado pelo PT para
comandar a Câmara. O PMDB topou a missão de entrar na operação de
blindagem a Rosemary, mas avisa que cobrará a fatura na reforma
ministerial prevista para o próximo ano.
Operação abafa Rose
Diante das ameaças da ex-chefe de gabinete da Presidência Rosemary Noronha, integrantes do PT montam estratégia para acalmá-la e evitar que suas revelações causem mais transtornos para o partido e para o governo
Josie JeronimoSEMPRE ELE
Presidente do Instituto Lula e assessor do ex-presidente, Paulo
Okamotto esteve no apartamento de Rosemary Noronha na terça-feira 4
Convencido de que, ao menos por ora, conseguiu acalmar os nervos de Rose, o governo passou a se dedicar ao Congresso. A primeira estratégia foi chamar os inimigos para um pacto de cavalheiros e evitar uma CPI. O próprio Lula procurou o alto comando do PSDB e apelou para o bom-senso. Na conversa, segundo parlamentares do PSDB ouvidos pela IstoÉ, o ex-presidente afirmou que a oposição faz seu papel ao questionar as denúncias de corrupção no governo, mas defendeu a importância de manter a Operação Porto Seguro no âmbito das instituições democráticas, evitando ataques à vida pessoal dos envolvidos. Os tucanos concordaram e confessaram a Lula que não se sentiriam confortáveis apelando para detalhes da vida íntima de ninguém. Os oposicionistas avisaram, no entanto, que não pouparão o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, nem qualquer um dos gestores flagrados na investigação.
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