N° Edição: 2290
| 04.Out.13 - 20:55
| Atualizado em 06.Out.13 - 12:06
Para entender os bastidores sempre delicados da convivência entre
políticos e o poder econômico, ISTOÉ acompanhou por duas semanas os
movimentos de lobistas de diferentes setores na Câmara dos Deputados.
Limitando a reportagem a contribuições legais, registradas na Justiça
Eleitoral, foi possível presenciar abordagens cordiais e diretas a
parlamentares que devem sua eleição, ao menos em parte, àqueles cidadãos
que garantiram recursos às suas campanhas e que, agora, se apresentam
para cobrar a fatura.
Alguns casos são didáticos. Em debate no Congresso, o novo Código da Mineração recebeu 372 emendas de 46 parlamentares. Desses, apenas sete não receberam dinheiro de empresas ligadas à mineração com interesses específicos em cada artigo que seria votado. Somente o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), apresentou 88 dessas propostas de modificação do texto. Sua ligação com o setor é inequívoca. O deputado é responsável por indicações para cargos de diretoria do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão responsável por autorizar lavras e fiscalizar as atividades mineradoras, e ainda recebeu ajuda de empresas do setor para pagar as contas de campanha.
A maior mineradora do País, a Vale, doou R$ 29,96 milhões às
principais legendas em atividade no Congresso. As demais somaram
contribuições no valor de R$ 43,3 milhões. Financiaram, inclusive, mais
de 20% da campanha do relator do novo Marco da Mineração, Leonardo
Quintão (PMDB-MG). Agora, as mineradoras trabalham para mudar o projeto
original do Executivo. Entre outras coisas, querem impedir um aumento
nos royalties, que passariam de 0,2% a 3% do faturamento líquido para um
teto de 4% sobre o faturamento bruto, mudança que pode dobrar a receita
da União nessa área. Os aliados das mineradoras já conseguiram uma
primeira vitória, que foi retirar o caráter de urgência na decisão,
transferindo a decisão para o fim do ano ou, quem sabe, depois.
A dificuldade dos políticos para enfrentar a pressão de interesses gigantescos também aparece nos debates sobre o Marco Civil da Internet. O governo está convencido de que tem votos para aprovar suas propostas. Uma delas prevê a manutenção da neutralidade da rede, sistema que impede a venda de pacotes, como querem as teles, que poderiam transformar a internet numa grande tevê a cabo, onde cada usuário adquire opções variadas de conteúdo, pagando preços diversos por cada escolha. O outro ponto impede que as teles tenham acesso aos dados dos usuários, direito limitado aos provedores de conteúdo, como o Google, que impõem essa condição ao cadastrá-los. O problema é que o regimento reserva ao presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o direito de colocar qualquer o projeto em votação. Sempre que é consultado sobre a possibilidade de debater o Marco Civil, Eduardo Alves responde que irá fazê-lo depois que as partes entrarem em acordo com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RN), identificado também com os interesses das teles, que despejaram um pacote de quase R$ 30 milhões para os parlamentares capazes de defender seus interesses. A principal fatia, mais de R$ 26 milhões, foi doada pela empresa Contax, cujos sócios são também donos da Oi. Os recursos chegaram aos diretórios de dez partidos.
Uma situação semelhante, com o sinal trocado, se assiste no debate que regulamenta a terceirização de trabalhadores. Um conjunto de 19 mil empresas de todos os tamanhos contribuiu com R$ 2,5 bilhões para as campanhas de 2010. Três anos depois, um conjunto de 70 companhias de grande porte atua no Congresso, para auxiliar a aprovação da matéria, de autoria do deputado-empresário Sandro Mabel (PR-GO). “É difícil enfrentar o poder financeiro dos interessados,” reclama o secretário-geral da Força Sindical, Sergio Leite.
DUPLA MILITÂNCIA
O líder do PMDB, Eduardo Cunha, defende os
interesses tanto de mineradoras quanto das teles
Já o agronegócio possui uma bancada fixa de 120 deputados e 16
senadores, sem falar em adesões eventuais, de acordo com a matéria em
votação. Sua batalha atual é trazer para o Congresso, onde tem maior
poder de barganha, a palavra final sobre a demarcação de terras
indígenas. Na semana passada, 1,5 mil índios de diferentes etnias
pararam a área central de Brasília para protestar contra as mudanças nas
demarcações. Os índios fizeram um enterro simbólico de políticos da
bancada ruralista e ministros envolvidos com a proposta. A reação
indígena pode provocar uma reviravolta no desfecho do projeto, que até a
semana passada tinha a aprovação dada como certa, mas perdeu a adesão
de muitos parlamentares. A votação está marcada para esta semana e até
lá os índios permanecerão acampados em Brasília, numa tentativa de
vencer o poder do lobby do agronegócio.
As bancadas pagam a conta
Grandes financiadores de campanhas eleitorais, setores estratégicos da economia representados por lobistas no Congresso agora cobram a fatura dos parlamentares
Izabelle TorresAlguns casos são didáticos. Em debate no Congresso, o novo Código da Mineração recebeu 372 emendas de 46 parlamentares. Desses, apenas sete não receberam dinheiro de empresas ligadas à mineração com interesses específicos em cada artigo que seria votado. Somente o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), apresentou 88 dessas propostas de modificação do texto. Sua ligação com o setor é inequívoca. O deputado é responsável por indicações para cargos de diretoria do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão responsável por autorizar lavras e fiscalizar as atividades mineradoras, e ainda recebeu ajuda de empresas do setor para pagar as contas de campanha.
A dificuldade dos políticos para enfrentar a pressão de interesses gigantescos também aparece nos debates sobre o Marco Civil da Internet. O governo está convencido de que tem votos para aprovar suas propostas. Uma delas prevê a manutenção da neutralidade da rede, sistema que impede a venda de pacotes, como querem as teles, que poderiam transformar a internet numa grande tevê a cabo, onde cada usuário adquire opções variadas de conteúdo, pagando preços diversos por cada escolha. O outro ponto impede que as teles tenham acesso aos dados dos usuários, direito limitado aos provedores de conteúdo, como o Google, que impõem essa condição ao cadastrá-los. O problema é que o regimento reserva ao presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o direito de colocar qualquer o projeto em votação. Sempre que é consultado sobre a possibilidade de debater o Marco Civil, Eduardo Alves responde que irá fazê-lo depois que as partes entrarem em acordo com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RN), identificado também com os interesses das teles, que despejaram um pacote de quase R$ 30 milhões para os parlamentares capazes de defender seus interesses. A principal fatia, mais de R$ 26 milhões, foi doada pela empresa Contax, cujos sócios são também donos da Oi. Os recursos chegaram aos diretórios de dez partidos.
Uma situação semelhante, com o sinal trocado, se assiste no debate que regulamenta a terceirização de trabalhadores. Um conjunto de 19 mil empresas de todos os tamanhos contribuiu com R$ 2,5 bilhões para as campanhas de 2010. Três anos depois, um conjunto de 70 companhias de grande porte atua no Congresso, para auxiliar a aprovação da matéria, de autoria do deputado-empresário Sandro Mabel (PR-GO). “É difícil enfrentar o poder financeiro dos interessados,” reclama o secretário-geral da Força Sindical, Sergio Leite.
DUPLA MILITÂNCIA
O líder do PMDB, Eduardo Cunha, defende os
interesses tanto de mineradoras quanto das teles
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