N° Edição: 2290
| 04.Out.13 - 20:55
| Atualizado em 06.Out.13 - 12:00
CARGO É PODER
A presidenta Dilma Rousseff se valeu da natureza
fisiológica dos partidos para mantê-los em sua base de apoio
GOVERNISTA DE CARTEIRINHA
Para fragilizar Eduardo Campos, o governador do Ceará, Cid Gomes, deixou o PSB
e manteve a fidelidade de cinco deputados federais, 11 estaduais e metade dos prefeitos do Ceará
A operação destinada a fragilizar Campos começou na quarta-feira 2, quando os irmãos Cid e Ciro Gomes deixaram o PSB e anunciaram a filiação ao PROS. O anúncio foi feito depois que Dilma confirmou a indicação de Francisco Teixeira ao comando do Ministério da Integração, em substituição a Fernando Bezerra, ligado a Eduardo Campos. Até então secretário de Infraestrutura Hídrica, Teixeira é ligado aos irmãos Gomes e, agora, terá nas mãos as principais obras do PAC 2. Somada a um precioso ministério de primeira linha, a perspectiva de manter-se no poder após 2014 garantiu a fidelidade dos Gomes e de um contingente de cinco deputados federais, 11 estaduais e metade dos 184 prefeitos de todo o Ceará. No PSB, a saída da dupla e de seus aliados era esperada. “Não perdemos o que nunca tivemos”, afirma o líder socialista na Câmara, Beto Albuquerque (RS).
O problema é que as perdas não se restringem à terra dos Gomes. O grupo de Eduardo Campos também foi emparedado na Bahia, em Sergipe, Alagoas e no Piauí. “A presidenta Dilma ganhou o Nordeste”, comemorou o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE). A senadora Lídice da Mata (PSB/BA), por exemplo, desistiu de enfrentar o governador baiano, Jaques Wagner, do PT. Lídice não está sozinha. Embora Eduardo Campos tenha anunciado que seu partido saiu do governo, seus senadores preferem dizer que ainda fazem parte da base de apoio do governo Dilma. “Somos quatro senadores aqui e todos continuarão no bloco de apoio”, afirma o senador sergipano Antonio Carlos Valladares.
O governo reage
Poder de atração da máquina governista se impõe e Planalto consegue evitar que Solidariedade se bandeie para a oposição e ainda diminui a influência do PSB no Nordeste
Claudio Dantas SequeiraCARGO É PODER
A presidenta Dilma Rousseff se valeu da natureza
fisiológica dos partidos para mantê-los em sua base de apoio
Sob ameaça de perder aliados necessários
para formar palanques robustos em 2014, o Planalto deu início, na semana
passada, ao contra-ataque para defender a reeleição de Dilma Rousseff.
Em uma reunião no Palácio, o governo decidiu montar uma força-tarefa
política formada pelos ministros Aloizio Mercadante (Educação),
Alexandre Padilha (Saúde), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e
Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Com a popularidade de Dilma em alta – o
mais poderoso argumento para conquistar alianças em véspera de campanha
eleitoral –, além de promessas de cargos e apoio financeiro, eles saíram
em campo na busca de legendas e parlamentares desgarrados. Ao que tudo
indica, a operação deu certo. Em meio ao troca-troca partidário
promovido nos últimos dias, às vésperas do fim do prazo para mudança de
legenda e criação de novas siglas com vistas às eleições de 2014, o
governo conseguiu trazer para suas fileiras – contrariando os
prognósticos – a maioria dos quadros do Solidariedade, de Paulinho da
Força, até aqui um de seus inimigos mais estridentes. Numa outra frente
estratégica, ainda quebrou a espinha dorsal do PSB no Nordeste, numa
tentativa de isolar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, possível
candidato ao Planalto numa trincheira oposta à de Dilma.
GOVERNISTA DE CARTEIRINHA
Para fragilizar Eduardo Campos, o governador do Ceará, Cid Gomes, deixou o PSB
e manteve a fidelidade de cinco deputados federais, 11 estaduais e metade dos prefeitos do Ceará
A operação destinada a fragilizar Campos começou na quarta-feira 2, quando os irmãos Cid e Ciro Gomes deixaram o PSB e anunciaram a filiação ao PROS. O anúncio foi feito depois que Dilma confirmou a indicação de Francisco Teixeira ao comando do Ministério da Integração, em substituição a Fernando Bezerra, ligado a Eduardo Campos. Até então secretário de Infraestrutura Hídrica, Teixeira é ligado aos irmãos Gomes e, agora, terá nas mãos as principais obras do PAC 2. Somada a um precioso ministério de primeira linha, a perspectiva de manter-se no poder após 2014 garantiu a fidelidade dos Gomes e de um contingente de cinco deputados federais, 11 estaduais e metade dos 184 prefeitos de todo o Ceará. No PSB, a saída da dupla e de seus aliados era esperada. “Não perdemos o que nunca tivemos”, afirma o líder socialista na Câmara, Beto Albuquerque (RS).
O problema é que as perdas não se restringem à terra dos Gomes. O grupo de Eduardo Campos também foi emparedado na Bahia, em Sergipe, Alagoas e no Piauí. “A presidenta Dilma ganhou o Nordeste”, comemorou o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE). A senadora Lídice da Mata (PSB/BA), por exemplo, desistiu de enfrentar o governador baiano, Jaques Wagner, do PT. Lídice não está sozinha. Embora Eduardo Campos tenha anunciado que seu partido saiu do governo, seus senadores preferem dizer que ainda fazem parte da base de apoio do governo Dilma. “Somos quatro senadores aqui e todos continuarão no bloco de apoio”, afirma o senador sergipano Antonio Carlos Valladares.
Já o fisiológico por natureza
Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, mudou de postura. Quando
foi oficializada há apenas duas semanas, a legenda contou com o apoio
explícito do senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB. Paulinho e
Aécio posaram juntos para fotos, fizeram críticas a Dilma e prometeram
apoio mútuo em 2014. Mas a lua-de-mel acabou na terça-feira 1º, após
encontro de Paulinho com Ideli no Palácio do Planalto. “Houve a criação
de um partido que não nasceu na órbita do governo, mas já está sendo
cooptado em parte pelo governo”, lamentou Aécio Neves, presidenciável do
PSDB. “Isso depõe contra a democracia, não ajuda que as pessoas se
identifiquem nem se aproximem da política.” Em troca do alinhamento do
Solidariedade, Paulinho poderá manter os cargos no governo,
especialmente no Ministério do Trabalho, e até ganhar mais espaço –
inclusive em governos e prefeituras controladas pelo PT. Ele liberou a
legenda para as alianças regionais e analisará o plano nacional em 2014
antes de decidir de que lado ficar. Se Dilma continuar crescendo nas
pesquisas, parece óbvio o desfecho dessa novela.
fotos: Adriano Machado; Jarbas Oliveira/Valor/Folhapress
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