N° Edição: 2293
| 25.Out.13 - 20:50
| Atualizado em 27.Out.13 - 16:28
A 183 quilômetros da costa do Rio de Janeiro, no pré-sal da bacia de Santos, Libra é o maior campo de petróleo já descoberto no Brasil e o maior encontrado no mundo desde 2008. O “tesouro” com até 12 bilhões de barris recuperáveis de óleo, segundo estimativas da Agência Nacional do Petróleo, foi leiloado na segunda-feira 21 pelo preço mínimo, mas suficiente para transferir R$ 15 bilhões ao Tesouro em até 30 dias (um alívio para o pagamento da dívida pública) e dar o passo inicial de um projeto que deverá render R$ 1 trilhão à União nos próximos 35 anos – a maior parte destinada à educação e à saúde, como enfatizou a presidenta Dilma Rousseff em cadeia de rádio e tevê. Nas contas do governo, que considerou o preço atual do barril de petróleo (ao redor de US$ 100), estão os royalties, o excedente de óleo e os dividendos das ações da Petrobras. Para aqueles que consideraram o leilão um fiasco, eis aqui uma comparação interessante: R$ 1 trilhão equivale a todo o PIB da Argentina.
Quando gigantes do setor petrolífero, como as americanas Exxon Mobil e
Chevron e as britânicas BP e BG, começaram a desistir de fazer ofertas
pelo campo brasileiro, a atratividade de Libra foi questionada. O
apetite de estatais chinesas era interpretado por alguns analistas mais
como uma estratégia geopolítica de assegurar reservas do que como uma
oportunidade de lucrar com a exploração. Mas a entrada da
anglo-holandesa Shell e da francesa Total, ambas com ampla experiência
em águas profundas, no consórcio vencedor liderado pela Petrobras
simbolizou o respaldo que o governo precisava. “Essa é uma situação
ganha-ganha, porque o retorno será alto para as empresas e uma boa
quantia ficará no Brasil”, disse à ISTOÉ Manouchehr Takin, especialista
em petróleo do Centre for Global Energy Studies, de Londres. Para Pedro
Zalán, geólogo e consultor independente, a composição do consórcio
vencedor dá a garantia de que “a produção vai ser desenvolvida com as
tecnologias mais modernas”.
ARREMATE
Representantes da Petrobras, Shell, Total, CNOOC e CNPC
batem o martelo ao lado do ministro Edison Lobão
As estatais chinesas CNOOC e CNPC, que normalmente investem em ativos
já em produção, ficaram com 20% do total. Essa é a primeira vez que
elas colocam dinheiro no mercado brasileiro. Em entrevista por e-mail à
ISTOÉ, o presidente da CNOOC, Li Fanrong, explicou o que o motivou a
entrar no consórcio. “A participação no projeto de Libra é um reflexo de
nossa confiança na economia brasileira”, disse. Como o conhecimento da
China em petróleo é restrito a ambientes terrestres e águas rasas,
muitos acreditam que a experiência no pré-sal brasileiro ajudará o País
na exploração de blocos na África, onde já tem uma influência
importante.
Ao mesmo tempo em que a falta de concorrência mostra que o novo
modelo de partilha precisa de ajustes, os especialistas consultados por
ISTOÉ são unânimes em afirmar que esse não era um jogo para qualquer um.
Devido ao bônus de assinatura (no valor de R$ 15 bilhões, comprometido
antes do início da exploração), uma empresa que decidisse entrar com uma
fatia de 10% deveria desembolsar, portanto, R$ 1,5 bilhão logo na
assinatura do contrato. E o retorno não deve chegar em menos de seis
anos. A própria Petrobras, operadora única de todos os campos do
pré-sal, de acordo com a legislação atual, tem uma capacidade de
investimento limitada. Neste ano, sua produção e seu valor de mercado
caíram, enquanto a dívida subiu. Segundo o Bank of America, a Petrobras é
hoje a companhia de capital aberto mais endividada do mundo,
excluindo-se os bancos. “Se não houvesse a pré-definição da empresa
operadora nos próximos leilões, esse seria um fator adicional de atração
de outros consórcios”, diz o consultor Luiz Carlos Costamilan. “Esse
termo tem que ser revisto.”
CONTRA A PRIVATIZAÇÃO
Como em outras ocasiões, manifestantes entraram
em confronto com militares durante o leilão no Rio
O leilão de Libra, o primeiro no sistema de partilha, foi acompanhado
por protestos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Segundo os
manifestantes, Dilma teria quebrado uma promessa de campanha quando
declarou que não privatizaria “a Petrobras e o pré-sal”. Além de o
leilão concluído na semana passada não representar, nem de longe, uma
privatização (a Petrobras, afinal, é a controladora do consórcio), esse
tipo de discussão não traz benefícios. Atrair gigantes estrangeiros é
fundamental para o crescimento da economia – não só pelos recursos que
ingressam no País, mas pela expertise que os grupos internacionais podem
oferecer. Com o início da exploração da camada pré-sal, o Brasil
caminha para se transformar num dos maiores produtores e exploradores de
petróleo e derivados do mundo. Por mais que os críticos gritem,
embolsar R$ 1 trilhão, ou uma Argentina inteira, não faz mal a ninguém.
R$ 1 trilhão é pouco?
No maior leilão da indústria petrolífera global, o campo de Libra recebeu apenas uma oferta. Saiba por que o resultado é mais favorável do que parece
Mariana Queiroz BarbozaA 183 quilômetros da costa do Rio de Janeiro, no pré-sal da bacia de Santos, Libra é o maior campo de petróleo já descoberto no Brasil e o maior encontrado no mundo desde 2008. O “tesouro” com até 12 bilhões de barris recuperáveis de óleo, segundo estimativas da Agência Nacional do Petróleo, foi leiloado na segunda-feira 21 pelo preço mínimo, mas suficiente para transferir R$ 15 bilhões ao Tesouro em até 30 dias (um alívio para o pagamento da dívida pública) e dar o passo inicial de um projeto que deverá render R$ 1 trilhão à União nos próximos 35 anos – a maior parte destinada à educação e à saúde, como enfatizou a presidenta Dilma Rousseff em cadeia de rádio e tevê. Nas contas do governo, que considerou o preço atual do barril de petróleo (ao redor de US$ 100), estão os royalties, o excedente de óleo e os dividendos das ações da Petrobras. Para aqueles que consideraram o leilão um fiasco, eis aqui uma comparação interessante: R$ 1 trilhão equivale a todo o PIB da Argentina.
ARREMATE
Representantes da Petrobras, Shell, Total, CNOOC e CNPC
batem o martelo ao lado do ministro Edison Lobão
CONTRA A PRIVATIZAÇÃO
Como em outras ocasiões, manifestantes entraram
em confronto com militares durante o leilão no Rio
Nenhum comentário:
Postar um comentário