segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Será vantajoso entregar para terceiros a esploração disto, acho muito pirigoso masi ele não é meu, que posso faze?????


As regras para o leilão do campo de Libra, o maior do pré-sal

Elas só existem no Brasil – e são difíceis de engolir para o investidor estrangeiro

ISABEL CLEMENTE
21/10/2013 13h00 - Atualizado em 21/10/2013 13h07
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INDEFINIÇÕES Campo Baleia Franca, no litoral do Espírito Santo. O pré-sal é um bilhete premiado que poucos querem resgatar (Foto: Marcos de Paula/Estadão Conteúdo)
 
Nesta segunda-feira, 21 de outubro, será leiloado no Brasil o campo de Libra, uma das maiores e mais promissoras áreas de exploração de petróleo já oferecidas à iniciativa privada no mundo. Trata-se de uma reserva estimada em algo entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris de petróleo, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Essa jazida tem potencial para quase dobrar as reservas provadas brasileiras, hoje de 15 bilhões de barris. O pré-sal brasileiro transformou o país num forte candidato ao clube dos maiores produtores mundiais de petróleo. Foi comparado pelo então presidente Lula a um “bilhete premiado”. Nos últimos cinco anos, ninguém apareceu para resgatar o prêmio principal.

O primeiro desafio era de ordem tecnológica, pois essas reservas estão a uma profundidade de 7 quilômetros. À medida que essas dificuldades foram superadas, com queda no custo e no tempo para perfurar o pré-sal, a maior barreira imposta foi política. A disputa pela renda do petróleo do pré-sal, entre Estados e municípios produtores e não produtores, e o debate sobre como distribuir a riqueza emperraram as novas regras e todos os novos leilões, suspensos desde 2008 e retomados somente neste ano.
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O mercado aguardava com ansiedade a largada para desbravar o pré-sal. Isso acontecerá agora com o leilão de Libra. A ANP estima que a área renda R$ 900 bilhões a União, Estados e municípios pelos próximos 30 anos, incluindo as compensações pagas pelo impacto da produção, chamadas de royalties. Em Libra, tudo é superlativo. Mesmo assim, quatro gigantes petrolíferos, Chevron, Exxon, BP e BG, preferiram ficar de fora desse leilão devido ao cipoal de incertezas criadas pelo governo nos últimos anos. Entenda por quê.
A nova estatal do petróleo é um problema? 
Na prática, o governo brasileiro quer enfiar goela abaixo dos investidores duas jabuticabas do tamanho de melancias. A primeira é a Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), estatal criada para gerenciar o contrato do pré-sal. Em leilões do gênero pelo mundo, essas empresas apenas regulam os contratos. No Brasil, s a PPSA é sócia com poder de veto. Para piorar, nada se sabia sobre o perfil de quem a comandaria até recentemente. Ela foi criada por lei em 2010, para representar a União no consórcio explorador. Só saiu do papel a poucos dias do leilão, com a nomeação de uma diretoria técnica. Quando expirou o prazo para as empresas se inscreverem no certame, a PPSA nem sequer tinha um rosto, fato que já era motivo de insegurança. “Os interessados terão um sócio que não botará dinheiro, não correrá riscos, mas poderá decidir e vetar decisões”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Para a advogada Sonia Agel, ex-procuradora da ANP, a coexistência da PPSA com a ANP é outro problema. “Há grandes chances de surgirem situações em que será difícil definir quem atuará”, diz Sonia. Para ficar num exemplo: a PPSA deverá fiscalizar se o consórcio cumprirá o mínimo conteúdo local em equipamentos e serviços – obrigação que, anteriormente, já era da ANP.
A Petrobras terá recursos para investir em Libra? 
A segunda jabuticaba gigante a obstruir a glote dos investidores é a obrigatoriedade de parceria com a Petrobras. Ela tem 30% de participação em qualquer consórcio e é a operadora oficial do campo de Libra – um papel inédito na indústria petrolífera mundial. Nunca antes na história de nenhum país uma sociedade foi imposta dessa forma. Para a Petrobras, a situação é um desafio. Ela tem de honrar um arrojado plano de investimentos, da ordem de US$ 236,7 bilhões até 2017. Para isso, desistiu de alguns projetos, procura solução para refinarias deficitárias e tenta vender unidades no exterior. O pré-sal é uma despesa sem receita, num momento em que a Petrobras ainda tem de subsidiar o preço da gasolina no Brasil, vendida a preços mais baixos do que é comprada no exterior. Diante de intervenções do governo federal na Petrobras, o investidor perde a confiança, e a empresa, valor de mercado. “Os estrangeiros seriam meros prestadores de serviço, ao sabor dos investimentos da Petrobras e da ingerência da PPSA”, diz David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Haveria concorrência de um outro negócio vantajoso para a Petrobras: a exploração de uma reserva de 5 bilhões de barris de petroleo no pré-sal, cedida pela União numa exploração sem sócios. A produção não será dividida com a União, e a Petrobras ainda pagará menos royalties.

A produção de petróleo aumentará, logo o risco ambiental também. Estamos preparados? 
O Brasil espera desde o ano 2000 pelo Plano Nacional de Contingência (PNC), que definirá procedimentos para a atuação do governo e demais envolvidos nos acidentes graves. Sob o comando do Ibama, da Marinha e da ANP, o assunto ganhou força após o acidente da Chevron, na Bacia de Santos, em 2011. A empolgação durou pouco. O plano ainda é avaliado pela Presidência da República. E isso também causa insegurança nos investidores. “Essa indefinição atinge toda a indústria petrolífera. Se a regra não está pronta, o risco para quem for investir em Libra é mais alto. O investidor não sabe qual será seu papel num eventual acidente, não tem como cotar um bom seguro, e o dinheiro fica mais caro para ele”, diz Claudio Pinho, professor associado da Fundação Dom Cabral.

Como será a distribuição de royalties do pré-sal? 
Uma medida cautelar da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu, desde março, artigos da nova lei da partilha que estendia a nova distribuição de royalties aos contratos de exploração de petróleo em vigor. Falta agora o plenário do Supremo julgar a medida, uma decisão temporária. “O nível de risco envolvido é alto. Há um conflito político sério não resolvido. Tudo isso retira valor das jazidas e da indústria como um todo”, diz Gustavo Binenbojm, professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ninguém sabe que solução será dada para acomodar tantas demandas. Nesse cenário duvidoso, afirma Binenbojm, não se pode descartar nem a hipótese de aumentarem os royalties cobrados das empresas.

SUBVENÇÃO Posto de gasolina em São Paulo. Além de investir no pré-sal, a Petrobras tem de segurar o preço da gasolina no Brasil (Foto: Diego Padgurschi/Folhapress)

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