07/11/2011 - 19:43
Escândalo no Trabalho
Comissão de Ética abre investigação contra Carlos Lupi
A relatora do caso, Marília Muricy, pedirá esclarecimentos ao ministro do Trabalho sobre irregularidades em convênios da pasta - reveladas por VEJA
Luciana Marques
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi: ele vai ter de se explicar
(Agência Brasil)
A Comissão de Ética Pública da Presidência decidiu, nesta
segunda-feira, abrir processo contra o ministro do Trabalho, Carlos
Lupi, para apurar irregularidades nos convênios da pasta com
organizações não-governamentais (ONGs). Reportagem de VEJA desta
semana revela que caciques do PDT comandados por Lupi transformaram os
órgãos de controle da pasta em instrumento de extorsão. A relatora do
caso será a conselheira Marília Muricy. Ela pedirá ao ministro
esclarecimentos sobre irregularidades em contratos realizados pela
pasta. EXCLUSIVO: Alunos de programa do Trabalho recebem lanche estragado
O que diz a edição de VEJA - Conforme relatos de diretores de ONGs, parlamentares e servidores públicos, o esquema no Ministério do Trabalho funciona assim: primeiro o ministério contrata entidades para dar cursos de capacitação profissional, e depois assessores exigem propina de 5% a 15% para resolver 'pendências' que eles mesmos criam.
O Instituto Êpa, sediado no Rio Grande do Norte, foi um dos alvos do achaque. Após receber em dezembro de 2010 a segunda parcela de um convênio para a qualificação de trabalhadores no Vale do Açu, a entidade entrou na mira dos dirigentes do PDT. O ministério determinou três fiscalizações e ordenou que não fosse feito mais nenhum repasse à ONG.
Ao tentar resolver o problema, os diretores do instituto receberam o recado: poderiam regularizar rapidamente a situação da entidade pagando propina. Para tanto, deveriam entrar em contato com Weverton Rocha, então assessor especial de Lupi, ou Anderson Alexandre dos Santos, coordenador-geral de qualificação. Ambos respondiam a Marcelo Panella, então chefe de gabinete, homem de confiança do ministro e tesoureiro do PDT.
De acordo com os relatos obtidos por VEJA, Weverton era um dos responsáveis por fixar os valores da propina, e a Anderson cabia fazer o primeiro contato. Feito o acerto, o dinheiro era entregue a um emissário do grupo no Rio de Janeiro. "Você não tem defesa. Já prestou serviço e sofre a ameaça de não receber. Se o sujeito te põe contra a parede, o que você faz?", diz um dos dirigentes da ONG Oxigênio, outro alvo de achaque, que admite ter desembolsado 50 mil reais para resolver 'pendências'. "Quando você tenta resistir, sua vida vira um inferno."
O Palácio do Planalto monitora o caso. Deputados federais do próprio PDT contaram a Giles Azevedo, chefe de gabinete de Dilma, que Panella estaria cobrando propina de ONGs. Por ordem da Casa Civil, Panella foi demitido dias depois, em agosto. Panella nega. "Saí porque não me adaptei a Brasília", diz o ex-chefe de gabinete de Lupi por quatro anos. Weverton, que assumiu em outubro mandato de deputado federal, também nega. "Quando uma entidade te procura, é porque ela tem problema, mas nossa equipe sempre foi muito profissional", diz.
Escândalos em série - Em dez meses, escândalos em série já derrubaram cinco ministros de Dilma Rouseff: Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo) e Orlando Silva (Esporte).
A Comissão de Ética também decidiu aplicar censura ética contra o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci diante do aluguel de um apartamento em São Paulo. O escândalo envolvendo o aumento patrimonial do então ministro culminou em sua demissão.
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