•
• atualizado às 18h16
Você sabia? É possível transportar um iceberg?
Pesquisadores pretendem levar blocos imensos de gelo a áreas com necessidade de água
A água será o ouro de 2050 e a sua escassez uma provável
fonte de conflitos. Há muitos anos os cientistas se propõem a conseguir
água potável a um preço razoável e, neste sentido, os pesquisadores da
Iceberg Transport International pretendem levar blocos imensos de gelo a
áreas com necessidade de água.
Na atualidade cerca de um bilhão de pessoas não têm
acesso à água potável e este problema afeta também regiões desenvolvidas
como a Europa, onde 20% da população sofre com sua escassez. Perante
este problema, o explorador francês, Paul Emile Victor, e o engenheiro
da mesma nacionalidade, Georges Mougin, encorajados pelo príncipe
saudita Mohammed al Faisal al Saud, começaram a estudar a viabilidade de
levar um iceberg até o deserto e, em 1976, fundaram a empresa Iceberg
Transport International.
Esta ideia, que muitos consideram maluca, parte do
princípio que as geleiras que existem nas áreas mais frias do planeta,
próximas dos polos, são de água potável e todas se fundem no mar, todos
os anos, derretendo uma quantidade de água doce equivalente à que é
consumida no mundo nesse mesmo período. A cada temporada, 40 mil
icebergs flutuam no mar. Além disso, estes blocos de gelo guardam muita
energia.
O problema principal era como transportar de forma
eficiente uma imensa massa de gelo, como reagir perante sua fratura,
qual seria o tamanho ideal e como evitar que se derreta durante o
transporte.
Tudo isso devia ser calculado sob condições
meteorológicas específicas, chegando à conclusão que testá-la seria
muito custoso e, por isso, a ideia foi deixada de lado durante muitos
anos.
Novas tecnologias resgatam o projeto
Porém, a tecnologia evoluiu de forma vertiginosa e a simulação em três dimensões (3D), que está plenamente vigente, resultou ser um grande apoio para esta ideia "maluca".
Porém, a tecnologia evoluiu de forma vertiginosa e a simulação em três dimensões (3D), que está plenamente vigente, resultou ser um grande apoio para esta ideia "maluca".
Com esta ajuda, a iniciativa deixou de ser um projeto
com necessidade de testes reais, com um custo que fontes da Iceberg
Transport International taxavam em 8 milhões de euros, e hoje pode sair
do papel através da simulação 3D, com um custo insignificante.
Foi a multinacional de software Dessault Systemes que
decidiu retomar a ideia em 2009, contando com um dos pais do projeto,
Georges Mougin, e com o especialista em navegação, François Mauvel.
Mougin já sabia que a fusão de um metro cúbico de gelo
pode produzir cinco quilowatts/hora de eletricidade. Seu calor latente
atua como fonte de frio de uma usina de energia térmica oceânica e a
água extremamente fria obtida pode fornecer um sistema de ar
condicionado. Desta forma, a energia guardada representa um valor 20
vezes superior à energia consumida em sua transferência.
Mauvel decidiu, após os estudos preliminares, que seria
preciso transferir um iceberg de sete milhões de toneladas e com forma
de tubo, já que é mais estável e regular, e apresenta um mínimo risco de
fratura durante o transporte, mas seria necessário protegê-lo com um
material geotêxtil para isolá-lo e evitar uma fusão rápida.
Optou-se então por estudar o transporte da massa de gelo
de Terranova (na costa do Canadá) às Ilhas Canárias (sudoeste da
Espanha, em frente ao litoral ocidental da África), onde há necessidade
de água potável e que é utilizada normalmente como dessalinizadora.
As simulações foram realizadas com dados reais
utilizando fotos, vídeos, estudos econômicos e instalando um radar para
os icebergs em frente à costa de Terranova. O iceberg 3D eleito pesava
sete milhões de toneladas, tinha 163 metros de altura, 236 de
comprimento e 189 de largura.
Foram utilizados dados meteorológicos e oceanográficos
gravados durante um ano para o teste, que, por sua vez, foi somada a
simulações hidráulicas e térmicas.
Dessa forma, observou-se que a fusão de gelo mais rápida
ocorre nas esquinas e nas zonas das paredes verticais com cavidades
profundas, o que permitiu refinar o projeto de construção do sistema de
proteção do iceberg.
Com poucos cliques puderam escolher as melhores datas
para fazer o transporte, o número de rebocadores que seriam necessários,
e a estratégia geral. O resultado é que na transferência se perderia
38% da massa do iceberg e que a viagem durará 141 dias, a uma velocidade
de 1,8 km/h.
Para otimizar a economia de energia será preciso
recorrer à indústria barqueira para construir duas embarcações que
possam mover o iceberg, ou seja que tenham a potência suficiente, mas
que não desenvolvam muita velocidade.
A experiência virtual mostrou aos analistas que usar
mais navios só contribuiria para um maior consumo energético e se
ganharia pouco tempo, já que neste tipo de transporte o efeito inércia é
muito importante na hora de movimentar a grande massa de gelo.
Esta simulação permitiu estudar todos os desafios da viagem, da mesma forma como na atualidade se desenvolve um carro ou uma máquina e se testa virtualmente antes de levá-la à prática.
Esta simulação permitiu estudar todos os desafios da viagem, da mesma forma como na atualidade se desenvolve um carro ou uma máquina e se testa virtualmente antes de levá-la à prática.
Georges Mougin está agora muito perto de ver realizado
seu sonho, embora ainda nenhum governo tenha pedido informação adicional
sobre o projeto e sejam necessários novos estudos econômicos nesta
época de crise.
Nenhum comentário:
Postar um comentário