N° Edição: 2260
| 08.Mar.13 - 21:00
| Atualizado em 09.Mar.13 - 20:33
SOBREVIVÊNCIA
Índios waura no lago Piulaga, no Alto Xingu
Numa época marcada pela produção rápida e incessante de imagens, o
brasileiro Sebastião Salgado adota uma atitude oposta. Ele não está em
busca de assuntos fáceis: vai atrás do que nunca foi visto. Tal
obstinação demanda tempo, mas traz grandes recompensas. Sem se preocupar
com prazos e agendas, Salgado passou oito anos viajando por lugares
remotos do planeta para mostrar que, apesar da ameaça sobre a vida na
Terra, ainda existem regiões alheias à noção de progresso. Cenários de
natureza intocada, como os mares gelados da Patagônia argentina onde
vivem as baleias-francas, e sociedades que sobrevivem intactas em seus
costumes ancestrais, a exemplo do povo mentawi, da Indonésia, aparecem
nas 250 fotografias em preto e branco de seu novo livro “Gênesis”
(Taschen). A aguardada publicação será lançada na Inglaterra ainda este
mês, precedendo a exposição de mesmo nome, a ser aberta em abril no
Museu de História Natural, em Londres. ISTOÉ revela imagens inéditas que
estarão no livro e na mostra, que chega ao Brasil em maio, resultado de
32 viagens a diferentes países. “Esses são os últimos lugares na Terra
que nos permitem entender nossas origens como espécie”, afirma o
fotógrafo, para quem a noção de civilização separada da natureza se
tornou impensável.
Baleia-franca na Patagônia argentina: espera pela melhor luz
Para registrar esses verdadeiros santuários, regiões que, segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU), ainda correspondem a 46% do
planeta, Salgado adotou a posição de aventureiro. Viajou com uma equipe
mínima e sempre acompanhado de um guia que dominava a língua ou o
dialeto local. Caminhou centenas de quilômetros, encarou desertos e
geleiras e criou estúdios usando tecidos e folhas. Na hora de fazer as
fotos, o que mandava era a paciência de quem sabe que uma boa imagem não
vem de graça. Sem usar flash, ele chegava a esperar uma semana pela luz
ideal. Foi assim que conseguiu as fantásticas tonalidades de cinza na
documentação do povo Nenet, habitantes da Sibéria, no norte da Rússia,
que sobrevive há séculos da pesca em geral e da caça de renas. A mesma
espera pelo melhor momento se deu ao retratar os índios waura, que
habitam o Alto Xingu. Embaixador da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e criador do Instituto Terra,
que trabalha com conservação da biodiversidade, desenvolvimento
sustentável e educação, Salgado não pretende que essas fotos apenas
embelezem estantes ou mesas de centro: elas servem como um alerta. “O
mundo está em perigo, tanto a natureza quanto a humanidade. No entanto,
esse grito de alarme vem sendo tão repetido, que agora passou a ser
ignorado”, afirmou ele em artigo recente no jornal inglês “The
Guardian”.
PROJETO
O livro é resultado de um trabalho de 8 anos e 32 viagens
Especialmente revelador nesse sentido é o retrato do hábitat natural
das baleias-francas, na Patagônia. Dois séculos atrás, havia 300 mil
desses animais no lugar. Milhares foram dizimados pela caça e hoje não
chegam a mil exemplares e, mesmo assim, estão ameaçados pelo tráfego de
embarcações na região de Puerto Pirámides. O registro da resistência de
animais, culturas e paisagens testemunha o delicado equilíbrio entre o
ser humano e o ambiente em que vive. Denúncias como essa aparecem nas
imagens belas e dramáticas que caracterizam a obra de Salgado.
"Esses são os últimos lugares na Terra que nos
permitem entender nossas origens como espécie"
Sebastião Salgado, fotógrafo
Fotos: Sebastião Salgado; Robbie Reynolds
A terra virgem de Sebastião Salgado
IstoÉ revela imagens inéditas que o fotógrafo registrou em regiões intocadas e foram reunidas em novo livro e exposição
Tâmara MenezesSOBREVIVÊNCIA
Índios waura no lago Piulaga, no Alto Xingu
Baleia-franca na Patagônia argentina: espera pela melhor luz
PROJETO
O livro é resultado de um trabalho de 8 anos e 32 viagens
"Esses são os últimos lugares na Terra que nos
permitem entender nossas origens como espécie"
Sebastião Salgado, fotógrafo
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