Ciência
Espaço
Origem da vida na Terra pode estar no espaço
Estudo mostra que moléculas essenciais para o surgimento da vida podem ter se formado na superfície de cometas e chegado à Terra por meio deles
Juliana Santos
Cometas e meteoritos podem ter 'adubado' o planeta para o surgimento da vida
(Thinkstock)
Conheça a pesquisa
TÍTULO ORIGINAL: On the formation of dipeptides in interstellar model icesONDE FOI DIVULGADA: periódico The Astrophysical Journal
QUEM FEZ: R. I. Kaiser, A. M. Stockton, Y. S. Kim, E. C. Jensen e R. A. Mathies
INSTITUIÇÃO: Universidade da Califórnia em Berkeley e Universidade do Havaí em Manoa
RESULTADO: Moléculas orgânicas complexas, como dipeptídeos, que são essenciais para o surgimento da vida, podem ter ser originado na superfície de cometas e meteoritos e ter sido trazidos para a Terra por eles.
Apesar de os cientistas já terem descoberto moléculas orgânicas mais simples, como aminoácidos, em meteoritos que caíram na Terra, até hoje não foram encontradas estruturas mais complexas. Por essa razão, a teoria mais aceita é a de que a "química da vida" teria se originado nos oceanos primitivos do planeta.
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Experimento – Em uma câmara de vácuo, com temperatura de dez graus kelvin (-263ºC) acima do zero absoluto (menor temperatura possível, equivalente a -273,15 ° Celsius), os pesquisadores reproduziram a camada de gelo que recobre a superfície dos cometas, incluindo dióxido de carbono, amônia e hidrocarbonetos como metano, etano e propano (compostos de carbono e hidrogênio). Quanto atingidos por elétrons de alta carga energética, para simular os raios cósmicos no espaço, os compostos químicos reagiram e formaram compostos orgânicos complexos.
Os resíduos formados foram analisados em laboratório por um instrumento ultrassensível de detecção de moléculas orgânicas no sistema solar, que encontrou nove aminoácidos diferentes e dois dipeptídeos. Para os autores, essas moléculas poderiam ter chegado à Terra por meteoritos e cometas, originando a vida como conhecemos hoje.
Opinião do especialista
Douglas Galante
Pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da Universidade de São Paulo
Pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da Universidade de São Paulo
"Esse trabalho é de uma área conhecida como Astroquímica, que estuda a formação de moléculas no meio espacial, seja em nuvens de gás, seja em fase sólida, como o gelo de cometas ou na superfície de grãos de poeira, abundantes no meio interestelar. É um estudo interessante e muito cuidadoso, porém, como tudo em ciência, é baseado em outros trabalhos anteriores.
"De fato, nós sabemos que por ano caem na Terra toneladas de material (pequenos meteoros, cometas, poeira) vindo do espaço. A água de nosso planeta, em grande parte, foi trazida para cá assim. Na formação do planeta, bilhões de anos atrás, talvez esse processo tenha sido o responsável por trazer, além da água, o material orgânico necessário para que a vida surgisse. Por isso, é importante que saibamos quais as reações e quais moléculas podem acontecer nos cometas, pois isso servirá de base para dizermos se esse processo seria capaz de 'adubar' nosso planeta para que a vida tenha surgido.
"Os peptídeos em geral, incluindo os dipeptídeos, são necessários para a formação de moléculas com função biológica, como as enzimas e proteínas. Em alguns casos, já foi mostrado que dipeptídeos podem servir de base para formar açúcares e também para o DNA. Por si só eles não são capazes de gerar uma célula, mas certamente são essenciais para formar algo parecido com a vida como conhecemos. É mais uma parte de um grande quebra-cabeça que ainda estamos montando".
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