N° Edição: 2263
| 28.Mar.13 - 21:00
| Atualizado em 31.Mar.13 - 19:54
O projeto nasceu em 2007, quando o capitão-engenheiro Tiago
Cavalcanti Rolim iniciou mestrado no ITA e foi aprovado com uma tese
sobre a configuração “waverider”. Cinco anos depois, a teoria está
prestes a virar prática. O primeiro teste do 14-X em voo, ainda sem a
separação do foguete utilizado para a aceleração inicial, ocorrerá neste
ano. Em seguida, a Força Aérea planeja outros dois experimentos: um com
acionamento dos motores scramjet, mas com a aeronave ainda acoplada, e
outro com funcionamento total, quando a velocidade máxima deve ser
atingida. “Se formos bem-sucedidos nesses ensaios, estaremos no topo da
tecnologia, embora com um programa muito mais modesto do que o dos
americanos”, diz o coronel-engenheiro Marco Antonio Sala Minucci, que
foi diretor do IEAv durante quatro anos e é um dos pais do 14-X.
O grande desafio no desenvolvimento da tecnologia de altíssimas
velocidades é a construção dos motores scramjet. Um engenheiro ligado ao
projeto compara a dificuldade de ligar tais propulsores a “acender uma
vela no meio de um furacão”. Por isso, o IEAv realiza os testes do
primeiro protótipo no maior túnel de choque hipersônico da América
Latina, no próprio laboratório do instituto. Diferentemente do que
ocorre em turbinas de aviões, esse motor não usa rotores para comprimir o
ar: é o movimento inicial, gerado pelo foguete, que fornece o fôlego
necessário. No 14-X, os propulsores scramjet são acionados a mais de
7.000 km/h.
“Esse será o caminho eficiente de acesso ao espaço em um futuro
próximo”, diz Paulo Toro, coordenador de pesquisa e desenvolvimento do
14-X. As aplicações práticas vão além do lançamento de satélites ou dos
voos suborbitais. Os EUA, que testam sua aeronave batizada de X-51,
pretendem usar a tecnologia em mísseis intercontinentais. Entre os
civis, a esperança é de que o voo hipersônico possa se tornar uma
realidade em viagens turísticas. Ir de São Paulo a Londres em apenas uma
hora não seria nada mau.
Do 14-bis ao 14-X
Aeronave que voa a mais de 11.000 km/h coloca o Brasil na elite da engenharia aeroespacial e na iminência de superar tecnologicamente os EUA
Lucas Bessel
Em um laboratório em São José dos Campos,
interior de São Paulo, a aeronave mais avançada do Brasil ganha forma.
Batizado de 14-X, o aparelho tem nome inspirado na mais famosa máquina
voadora brasileira, o 14-bis. Em comum com o avião de Santos Dumont, o
14-X tem o poder de garantir para o País um lugar no pódio da tecnologia
aeroespacial. Não tripulado, o modelo é hipersônico, capaz de atingir
dez vezes a velocidade do som (mais de 11.000 km/h). As propriedades do
14-X colocam o Brasil no seleto grupo de nações – ao lado de Estados
Unidos, França, Rússia e Austrália – que pesquisam os motores scramjet,
que não têm partes móveis e utilizam ar em altíssimas velocidades para
queimar combustível (no caso, hidrogênio). Outra característica do
veículo desenvolvido pelo Instituto de Estudos Avançados da Força Aérea
Brasileira (IEAv) é que ele é um “waverider”, aeronave que usa ondas de
choque criadas pelo voo hipersônico para ampliar a sustentação. É como
se, ao nadar, um surfista gerasse a onda na qual irá deslizar.
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