quarta-feira, 17 de abril de 2013

Isso vai longe apesar de tudo como confiar em Argentinos....????

29/03/2013
às 16:00 \ Vasto Mundo

ARGENTINA: A mentira da inflação oficial e outros contos-do-vigário do governo Cristina Kirchner

(CLIQUE NA IMAGEM PARA VÊ-LA EM TAMANHO MAIOR)
Reportagem de Duda Teixeira, de Buenos Aires, publicada na edição de VEJA que está nas bancas
O CONTO ARGENTINO
Cristina Kirchner faz com as estatísticas econômicas o mesmo que os seus militantes com os fatos históricos – uma manipulação grosseira da realidade. Quem sofre é o povo
A Argentina é um país onde o passado parece sempre mais auspicioso que o presente e o futuro. A falsificação da própria história é um traço da cultura nacional. O populista Juan Domingo Perón, que fez a desindustrialização forçada do país e o tomou dependente de importações pagas em dólares de produtos que vão de escovas de dentes a automóveis, é tido como grande inovador da economia.
Da sua mulher, Evita, não basta constatar que magnetizou as massas na Argentina como política, é preciso acreditar que ela também foi uma atriz de grandes méritos. Os kirchneristas representam muito bem essa característica e recorrem à manipulação do passado. A tentativa de enxertar no currículo do papa Francisco, um crítico do governo, um episódio de colaboração com a ditadura militar é só a mais recente dessas invenções.
Para esconder a ruína de seu desgoverno, Cristina Kirchner recorre à fabulação do presente tão intensamente quanto o faz em relação ao passado. As estatísticas econômicas oficiais viraram piada. A inflação anual oficial foi de apenas 10%. O valor real é 24%, com a projeção de bater em 30% no fim de 2013.
O ilusionismo kirchnerista é um desastre anunciado e um atentado à economia popular. Um argentino que acredite no governo e aceite a remuneração média dos investimentos em bancos, em tomo de 13%, poderá imaginar que está protegendo seu dinheiro da desvalorização. Está sendo depenado pela inflação real. Ao argentino está vedada até mesmo a fuga para o mercado imobiliário, opção preferencial em momentos de incerteza, já que as transações eram quase todas feitas em dólar.
A exemplo do que ocorre em Cuba, na Argentina ter dólar é impatriótico. Agora, a compra e a venda de imóveis têm de ser, por força de lei, em pesos. Como a maioria dos argentinos — escolados por décadas de regras econômicas voláteis — tem poupança em dólares, ser obrigado a convertê-los em pesos pelo câmbio oficial irreal equivale a ser roubado pelo governo. Por causa dessa imposição, a oferta supera em muito a procura e o valor das propriedades na Argentina está encolhendo. No último ano, a queda foi de 30%.
Como governos autoritários não precisam demonstrar coerência, a Argentina oficial sem inflação precisou recorrer ao congelamento de preços. A realidade é outra. E a realidade econômica morde. Obviamente, como se aprende no 1º ano da faculdade de economia, quando se congelam preços nos supermercados o consumo aumenta e, por uma incontornável lei econômica, pressiona a alta dos preços. É o que ocorre agora na Argentina.

Argentina: Cristina Kirchner defende inflação "oficial" muito inferior aos cálculos do mercado (Divulgação/Casa Rosada)
Argentina: Cristina Kirchner defende inflação "oficial" muito inferior aos cálculos do mercado (Foto: Divulgação / Casa Rosada)
O governo reagiu com a patética tentativa do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, de proibir que os supermercados publiquem ofertas nos jornais. Moreno jogou mais gasolina na fogueira: “Ficou mais difícil para os consumidores comparar preços. Como resultado, a concorrência entre os supermercados diminuiu, o que estimula a inflação”, diz o economista Juan Luis Bour, da Fundação de Investigações Econômicas Latino-americanas (Fiel), em Buenos Aires.
Infatigáveis na tentativa de reescrever leis econômicas elementares, os kirchneristas partiram agora para o congelamento dos salários. Quando os sindicalistas pediram um dissídio à altura da inflação real, de 24%, a resposta foi que seria de 20%, porque os preços dos produtos ficariam estáveis por decreto.
Vai ser engraçado acompanhar essa tragicomédia de fora (para os argentinos, vai ser só tragédia). Obviamente, os preços não vão obedecer aos decretos oficiais. O encarecimento dos produtos vai ser mais rápido do que os reajustes de salários, e as lideranças sindicais pelegas terão de decidir se defendem os interesses dos trabalhadores ou continuam bovinamente servindo ao governo. A tensão social será inevitável.
Nessas horas, ninguém se lembra que o mito Perón plantou as sementes da desgraça atual ao impor a desindustrialização. A Argentina era grande exportadora de produtos primários — petróleo, grãos e carnes —, e o Tesouro Nacional ficava empanturrado de dólares que precisavam ser convertidos em pesos. Para não fazer disparar a inflação, a tosca saída encontrada foi queimar dólares, incentivando a importação de todos os produtos industrializados.
No tempo de Perón, montar uma fábrica era impatriótico, quase um crime. Os equívocos do passado estão sendo potencializados pela cegueira atual da era Kirchner. Quem tem juízo está caindo fora. A mineradora brasileira Vale acaba de cancelar um investimento bilionário que faria na Argentina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário