'Mistérios para ler antes de morrer (ou ser morto)'
'O silêncio dos inocentes' foi consagrado no cinema por Hopkins
O silêncio dos inocentes (ed. Record/Bestbolso), escrito por Thomas Harris, chegou às livrarias americanas em 1988 e, três anos depois, teve sua versão cinematográfica eternizada pelas atuações de Anthony Hopkins e Jodie Foster. O filme, que reproduz com rara fidelidade a obra literária, abocanhou as cinco principais categorias do Oscar daquele ano, popularizando o serial killer Hannibal Lecter.Clarice Starling, jovem agente do FBI, é convocada a entrevistar na prisão o Dr. Hannibal Lecter, um brilhante psiquiatra e assassino, conhecido por devorar suas vítimas em refeições salutares servidas com bons vinhos. Ao que parece, o Dr. Lecter possui pistas acerca da identidade de Buffalo Bill, um assassino em série que vem matando mulheres por todo os Estados Unidos e acaba de sequestrar a filha de uma senadora. A trama avança na caçada ao criminoso, com reviravoltas, cenas de ação e, principalmente, diálogos tensos entre Starling e Lecter.
O fascínio dos leitores pela figura de Hannibal lançou holofotes aos três outros romances protagonizados pelo personagem. Dragão vermelho, Hannibal e Hannibal – a origem do mal (ed. Record) são interessantes, mas apenas repisam o modelo da obra principal. É em O silêncio dos inocentes que o estilo “serial killer”, subgênero do romance policial, é realizado em sua potência máxima: estão presentes a jovem policial determinada; a corrida contra o tempo; o perfil psicológico do criminoso traçado através de pistas; a mente brilhante do assassino. Hannibal é um mestre na manipulação e, não à toa, são suas as melhores frases do livro.
Justamente esta atração/repulsão pelo psicopata instiga os leitores, que acabam, por vezes, torcendo pela sorte do vilão. É o caso de Dexter Morgan (ed. Planeta), da série de livros escrita por Jeff Lindsay; de Jean-Baptiste Grenouille (ed. Record), do clássico alemão Perfume – a história de um assassino e de Gretchen Lowell, uma espécie de Hannibal feminino, criada por Chelsea Cain em Coração ferido (ed. Suma de Letras).
Até em terras brasileiras os serial killers têm vez. Jô Soares criou divertidos mistérios em Xangô de Baker Street e As esganadas (ed. Companhia das Letras). Mário Prata iniciou sua série policial com o agente Ugo Fioravanti em Sete de paus (ed. Planeta) e Ricardo Ragazzo realiza um ótimo thriller em 72 horas para morrer (ed. Novo Século).
Mas nem só de assassinos geniais, irônicos e requintados vive o romance de “serial killer”. Por ser um subgênero calcado no horror, muitos autores se espelham na realidade para escrever suas tramas. Jack, o estripador já foi recriado em centenas de obras. Zodíaco virou livro pelas mãos de Robert Graysmith (ed. Novo Conceito) assim como o psicopata Jean Claude Romand, retratado em O adversário de Emmanuel Carrère (ed. Record). Baseado no estripador de Yorkshire, David Peace iniciou a elogiada série Red riding com o livro 1974 (ed. Benvirá). No Brasil, Ilana Casoy escreveu Serial killers – made in Brasil, que busca listar alguns psicopatas nacionais. Além disso, um jornalista brasiliense está escrevendo uma investigação jornalística sobre O manco, criminoso que matou operários quando da construção de Brasília e foi esquecido (escondido?) pela nossa História.
Vale lembrar que Ed Gein, que matava e exumava mulheres nos anos 50, inspirou a criação de Buffalo Bill em O silêncio dos inocentes e também do famoso Norman Bates em Psicose (ed. Record), filmado por Hitchcock. Mistérios com serial killers são tão populares e atraentes que a maioria das obras supracitadas recebeu adaptações televisivas ou cinematográficas. Agora, com grande expectativa, uma série sobre Hannibal Lecter, abordando os momentos antes de ele ser preso, estreou dia 4 deste mês nos Estados Unidos pela NBC e chega ao Brasil no dia 16 de abril pela AXN. O trailer pode ser conferido aqui.
Além disso, uma série televisiva sobre Norman Bates também foi lançada: Motel Bates estreou em 18 de março deste ano, mas não tem previsão de chegar ao Brasil. Como se vê, tem sangue para todos os gostos.
Aos que ficaram tensos depois da leitura da coluna de hoje, um aviso: segundo definição do FBI, serial killer é aquele que mata três ou mais vítimas, com períodos de calmaria entre os assassinatos. Geralmente trabalham sozinhos, matam estranhos e sem motivo. Os serial killers costumam demonstrar três comportamentos durante a infância, conhecidos como a tríade MacDonald: fazem xixi na cama, causam incêndios e são cruéis com animais. Agora, ficar de olho nos vizinhos e nos familiares.
* Raphael Montes é escritor e escreve a coluna "Mistérios para ler antes de morrer (ou ser morto)" aos sábados
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