sexta-feira, 9 de julho de 2010

Caverna da Alemanha - Parte 01

Em uma corda sobre o abismo


'Riesending' (Coisa gigantesca) é como se denomina a maior caverna da Alemanha. O termo singelo representa um reino de escuridão, descoberto há poucos anos, e ainda muito longe de ser compreendido em toda a sua dimensão. Uma equipe de GEO desceu por cordas no misterioso labirinto, e ajudou a instalar um sistema de comunicação, para que os pesquisadores possam avançar rumo ao desconhecido


Por Lars Abromeit (Texto) e Carsten Peter (Fotos)

Entre dolinas de karst, região de formações calcárias, um precipício despenca 300m rumo à incerteza. "Que 'Coisa gigantesca' é essa?", perguntaram os descobridores. Foi assim que a caverna ganhou esse nome
Metro após metro os aventureiros e seus equipamentos penetram essa profundeza sinistra. Rochas pontiagudas e cachoeiras geladas os machucam, os esgotam e desgastam suas cordas de segurança
Em um Precipício, 350m abaixo da superfície terrestre, no sul da Alemanha, pende uma corda. Tufos de névoa a envolvem na luz projetada por nossas head lamps (lâmpadas instaladas no capacete para iluminar o caminho); pingos de neve derretida caem ao seu lado. Brotando de uma fenda nas rochas, uma cachoeira espirra água em nossa direção: gotículas brilham brevemente como estrelas cadentes no escuro. Sob o vento gelado, os dedos enrijecem. A temperatura, nessa época, meados de junho, é de 3ºC.
Esfrego argila para secar a umidade dos olhos, e observo fixamente a corda que se esgueira pelo paredão íngreme do cânion subterrâneo rumo à escuridão lá em cima. Uma corda de poliamida, de ridículos 10mm de espessura, presa em toneladas e mais toneladas de rochas. De fibras já dilatadas, ela há muito perdeu sua flexibilidade, exposta ao frio e à sujeira.

E é nisso que devo pendurar a minha vida?
Obviamente, não tenho alternativa. Até onde os olhos enxergam não vejo nenhuma projeção rochosa, na qual possa me agarrar e escalar pelo menos mais um metro para cima. Nenhum corredor lateral escondido. A corda é a única saída de volta à luz do sol.
Thomas Matthalm, meu companheiro, que descobriu essa parte do submundo há alguns anos com os espeleólogos Marcus Preißner e Johann Westhauser, e desde então já desceu com eles dezenas de vezes nas entranhas da Terra, revira sua mochila em busca de uma barra de cereais e a oferece a mim. "Vai ser bom para você", diz ele, completamente relaxado, "a subida será longa", prevê. Sua intenção é boa, só que não posso nem pensar em comer. Estou ocupado em controlar meu pânico.
Cinco horas de escaladas em cordas como estas nos separam da superfície terrestre.

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