sexta-feira, 9 de julho de 2010

Caverna da Alemanha - Parte 02

Em uma corda sobre o abismo


'Riesending' (Coisa gigantesca) é como se denomina a maior caverna da Alemanha. O termo singelo representa um reino de escuridão, descoberto há poucos anos, e ainda muito longe de ser compreendido em toda a sua dimensão. Uma equipe de GEO desceu por cordas no misterioso labirinto, e ajudou a instalar um sistema de comunicação, para que os pesquisadores possam avançar rumo ao desconhecido


Por Lars Abromeit (Texto) e Carsten Peter (Fotos)



O MACIÇO DE UNTERSBERG ergue-se a 6km ao sul de Berchtesgaden, diretamente na fronteira entre a Alemanha e a Áustria: um formidável maciço de rocha calcária e dolomitas, de 1.972m de altura no cume, perfurado por centenas de cavernas. De acordo com as lendas, anões e outras criaturas fabulosas construíram lá embaixo castelos de mármores, ornamentados com tesouros de ouro e prata.
A tradição local presume que também os imperadores medievais Carlos, o Grande, e Barbarossa (ou Barba Ruiva) se esconderam nas cavernas de Untersberg, onde, como se dizia, eles aguardavam, dormindo, a batalha na qual se decidiria o destino do mundo. Místicos, por sua vez, atribuem à montanha poderes mágicos, próprios de um "portal do tempo".

Mas é principalmente do lado austríaco que os espeleólogos, pesquisadores do subterrâneo, de fato descobriram um fantástico mundo de sombras nas entranhas do Untersberg: labirintos gigantescos, como o Sistema Gamslöcher-Kolowrat, que já teve um total de 33km mapeados.
O lado alemão do maciço permaneceu enigmático. Há cerca de 20 anos, espeleólogos começaram a investigar sistematicamente o altiplano escarpado, mas o grande e fenomenal achado lhes foi negado. Até que, no verão de 2002, um grupo de oito jovens pesquisadores descobriu, em um esquecido funil rochoso, um sistema de corredores de dimensões tão colossais, que nem os peritos julgavam possível existir: a Riesending (a Coisa gigantesca), de longe a caverna mais profunda já descoberta na Alemanha.
"Um achado único", declara Thomas Matthalm. "um monstro. Uma obra de vida". E eu agora estou no fundo de suas entranhas.

De bote inflável a 875m de profundidade: só assim os pesquisadores conseguem explorar o grande lago subterrâneo e as passagens que ficam atrás dele. Virar o barco nessa água de 4ºC não é aconselhável
A RIESENDING penetra mais de 1.000m abaixo das rochas dos Alpes. A cada nova expedição, os exploradores vêm descobrindo novos túneis, cavernas abobadadas, precipícios. A pesquisa das entranhas mais profundas já se tornou tão onerosa e trabalhosa como as excursões aos picos mais altos do Himalaia. Para continuar investigando a caverna, os espeólogos são obrigados a passar quase uma semana na mais absoluta escuridão. Eles montaram uma rede de acampamentos, com sacos de dormir e mantimentos, instalaram mais de 6.000m de cordame, centenas de ganchos de segurança e investiram mais de 25.000 euros (o equivalente a R$ 60.650,00) em materiais para a exploração dos túneis e passagens.
Para futuramente coordenar ainda melhor suas expedições e, ao menos em casos de urgência, poder enviar das profundezas um pedido de socorro, os descobridores, subvencionados por GEO, querem instalar nos acampamentos da Riesending um sistema de comunicação especial, batizado de Cavelink. A meta de nossa excursão foi, precisamente, testá-lo. Para isso, no dia anterior, quatro de nós descemos até o acampamento 1. Três outros espeleólogos da equipe optaram por investigar pessoalmente um poço lateral nas partes superiores da caverna.

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