Em uma corda sobre o abismo
'Riesending' (Coisa gigantesca) é como se denomina a maior caverna da Alemanha. O termo singelo representa um reino de escuridão, descoberto há poucos anos, e ainda muito longe de ser compreendido em toda a sua dimensão. Uma equipe de GEO desceu por cordas no misterioso labirinto, e ajudou a instalar um sistema de comunicação, para que os pesquisadores possam avançar rumo ao desconhecido
Por Lars Abromeit (Texto) e Carsten Peter (Fotos)
Com base em todos esses cálculos, estima-se que a profundidade do nível desse espelho d'água, escavado no calcário da maior caverna da Alemanha, "poderia estar localizado a, pelo menos, mais uns 50, ou até 100m abaixo, nas entranhas da Terra", conforme diz Meyer. Avaliar sua extensão longitudinal é mais complicado. Para isso só existem indícios, fornecidos pelos isótopos de radônio, por exemplo, nas regiões mais profundas da caverna. A composição desse elemento químico sofre alterações quando ele perde contato, por um período mais longo, com a luz solar, desse modo, eles fornecem uma estimativa do verdadeiro tamanho da gigantesca caverna. Resultado: até o momento, provavelmente só se mapeou um terço da Riesending.
A equipe presume que existam túneis e passagens de conexão com outras cavernas sob o maciço de Untersberg; talvez até outros poços de entrada. Só é preciso encontrá-los.
Depois do êxtase das profundezas, todas as cores parecem mais brilhantes, dizem os espeleológos. E o primeiro vislumbre das terras montanhosas do sul da Alemanha compensa toda a fadiga |
"Sim, sim, está tudo certo", sua voz ecoa de algum lugar. "Minha lâmpada morreu. Você está com a sua reposição à mão? A minha ainda está na mochila". Ele parece tão calmo.
Deixo a minha head lamp sobressalente pendurada em um gancho de segurança no paredão. "Obrigado!", grita sua voz em algum momento abaixo de mim. Claro. Não por isso. Sem problemas. Estou com os nervos à flor da pele.
NOVENTA METROS. O último trecho fica muito estreito, apertado. No labirinto do poço, no qual as últimas cordas da Riesending se estendem, enormes terraços de gelo se projetam no vazio; água do degelo despenca sobre nós como uma chuva de granizo cada vez mais intensa. As passagens se afunilam em fendas opressivas. É preciso empurrar, pressionar, encolher, contorcer o corpo. E não esquecer de travar os ganchos de segurança na corda; arrastar a mochila atrás de si, pela fenda. É um caminho de vertiginoso arrasto vertical.
Mais 30m. Vejo a luz. Não há mais frio, minha roupa felpuda de lã está ensopada de suor; meu macacão todo rasgado, e imundo de lama e argila. Meus braços estão adormecidos, insensíveis. Só mais algumas puxadas para cima.
"Só se entra em cavernas quando se ama o sol", diz um ditado dos espeleólogos. E talvez isso seja verdade. Assim como alpinistas escalam picos, os amantes das profundidades insondáveis da Terra descem nesse submundo porque, após seu retorno à superfície, a vida e todas as suas cores têm um novo brilho. As rajadas de vento, o calor, as plantas, a luz diurna: tudo que tomamos como a realidade que a natureza nos garante no dia a dia.
Alguns meses depois, já estou de volta há tempos em Hamburgo, recebo, por volta das 22h00, um torpedo pelo celular: "Medimos mais terra incógnita. Extensão total agora: 12.800m. Subiremos amanhã". A mensagem, enviada das profundezas da Terra via Cavelink chegou até mim sem problemas: a Riesending não é apenas a caverna mais profunda, mas também a mais extensa da Alemanha.
Mentalmente, eu me parabenizo. Engraçado. Agora eu gostaria de estar lá embaixo.
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