Em uma corda sobre o abismo
'Riesending' (Coisa gigantesca) é como se denomina a maior caverna da Alemanha. O termo singelo representa um reino de escuridão, descoberto há poucos anos, e ainda muito longe de ser compreendido em toda a sua dimensão. Uma equipe de GEO desceu por cordas no misterioso labirinto, e ajudou a instalar um sistema de comunicação, para que os pesquisadores possam avançar rumo ao desconhecido
Por Lars Abromeit (Texto) e Carsten Peter (Fotos)
Lá em cima, a luz do dia acena: um membro da expedição na corda, no túnel de saída dentro do qual caberia a torre de uma catedral |
E então ela vem voando. Um naco enorme de rocha, grande como uma caixa de cerveja, passa zoando a 5m de mim, como um meteorito rumo ao cânion, no qual Matthalm e Westhauser ainda estão dependurados nas cordas. Ouço como ele colide com o paredão e se fragmenta. Alguns fragmentos menores despencam atrás do bombardeio principal. Durante alguns segundos hipóxicos reina o mais absoluto silêncio.
"Tudo... o ... kay!", finalmente ecoa lá de baixo até aqui. O naco, que Preißner soltou sem querer, passou direto por todos.
TREZENTOS METROS. Chegamos ao poço principal: um cânion subterrâneo, no qual seria possível, facilmente, esconder um arranha-céu. As paredes, perfeitamente lisas, despencam mais de 180m pela escuridão. Apenas uma faixa de rocha, de cerca de um metro de largura, recoberta de neve, interrompe seu curso.
O poço é tão enorme que a lâmpada do meu capacete não consegue sequer iluminar as paredes cobertas de formações de cristais. Preißner e Westhauser, que subiram antes, logo se transformam em fracos e bruxuleantes pontos de luz, que brilham como estrelas no céu noturno.
Abaixo de mim reina a mais densa escuridão; não consigo ver nada acima de mim, nem ao meu lado. É como se eu flutuasse em meio ao vazio do mar profundo.
No poço principal é preciso transpor 16 estações intermediárias. Cada uma delas me deixa nervoso; em cada uma eu testo três, quatro vezes, as minhas pegadas. Pelo menos estamos subindo. 260m. 230. 200.
A força física começa a ceder ao cansaço; a exaustão aumenta. As pausas se tornam cada vez mais longas, o ritmo cada vez mais hesitante. Preciso parar novamente, tomar fôlego, pendurado nesse imenso vão vazio. Quantos milênios a água pode ter precisado para escavar essa colossal garganta? Que caudais potentes devem ter sido esses que passaram por aqui? E, se foram capazes de escavar com tanta violência, quanto será que conseguiram penetrar nas camadas inferiores do solo? Quanto mais da Riesending está, de fato, ramificada, inexplorada ainda?
Perguntas como essas também não saem das mentes dos pesquisadores. Principalmente de Thomas Matthalme Ulrich Meyer, o chefe da equipe. Em casa, os dois muitas vezes ficam até tarde da noite debruçados sobre seus dados de medição. Verificam as anotações das expedições. Procuram em fotos aéreas e mapas indícios de chamados "pontos de rompimento pré-determinados", nos quais podem estar escondidos novos poços.
Em experimentos de tingimento, os espeleólogos descobriram que os rios de água de degelo da Riesending fluem, como todos os cursos d'água subterrâneos no maciço de Untersberg em direção noroeste. Para lá, aonde a nascente da caverna Fürstenbrunner, que até 1998 ainda constituía a mais importante fonte de abastecimento da metrópole austríaca de Salzburg, desponta do flanco de uma montanha.
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