Espaço
Prepare-se para o eclipse total da Lua, que ocorre na próxima semana
Evento, visível a olho nu em todo o país, será na madrugada do dia 15 de abril
Juliana Santos
Lua avermelhada durante um eclipse lunar total
(Matt King/Getty Images)
Um dos
principais eventos
astronômicos do ano está se aproximando. Na madrugada de terça-feira,
15 de abril, a partir da 1h53 da manhã (horário de Brasília), começa o
eclipse total da Lua, aquele em que o satélite fica totalmente encoberto
pela parte mais escura da sombra da Terra. O fenômeno poderá ser
observado em todo território nacional e marca o início de uma série de
eclipses nos próximos dois anos.
A tétrade, como é chamado o conjunto de quatro eclipses totais da Lua
que ocorrem em uma sequência de dois anos, termina em setembro de 2015.
Esse evento é especial porque eclipses normalmente se intercalam entre
totais, parciais (quando a Lua fica parcialmente encoberta pela parte
mais escura da sombra da Terra) e penumbrais (quando a parte
mais clara
da sombra da Terra encobre a Lua). A tétrade é relativamente rara: no
século XXI haverá oito delas, sendo a que se inicia no dia 15 a segunda —
a primeira ocorreu de 2003 para 2004, e a terceira será em 2032 e 2033.
Todo o continente americano poderá
visualizar o eclipse na terça-
feira. Na primeira hora, no entanto, o fenômeno será praticamente invisível a
olho nu,
pois a Lua estará na parte externa e mais clara da sombra da Terra, a
penumbra. A partir das 2h58 (horário de Brasília), o satélite começa a
adentrar a umbra, parte central e mais escura da sombra, e poderá ser
visto "sumindo". Essa etapa será concluída às 4h06 da manhã, quando a
Lua estará totalmente encoberta pela umbra. Ela permanecerá assim por
mais de uma hora, e começará a sair da sombra às 5h24, reaparecendo no
céu.
O evento está previsto para chegar ao fim às 7h30, mas antes disso a
Lua já terá saído completamente da parte mais escura da sombra, além de
estar muito baixa do
horizonte,
dificultando a visão. "No Brasil, o melhor horário para observar o
eclipse será entre 3h e 4h30 da manhã, quando se visualizará toda a
primeira fase parcial e boa parte da totalidade", diz Gustavo Rojas,
astrofísico da
Universidade Federal de São Carlos.
Quem quiser ver o fenômeno deve olhar para o
lado oeste. Binóculos ou
telescópios amadores podem ser usados, embora o evento seja totalmente visível a olho nu. De
acordo com
o especialista, ao contrário dos eclipses solares, neste caso não é
necessário adotar nenhuma medida especial de proteção para os olhos.
Lua vermelha — Mesmo quando estiver totalmente encoberta pela sombra da Terra, a Lua não vai desaparecer no céu — ela ficará um pouco menos
brilhante e com um tom avermelhado. "No momento do eclipse, a
luz do Sol
não chega diretamente à Lua. A atmosfera da Terra age como uma lente e
desvia alguns raios solares até o satélite. Como a nossa atmosfera tem
partículas que espalham mais a luz azul e menos a vermelha, a luz que
atinge a Lua é predominantemente vermelha", explica Eduardo Cypriano,
professor e pesquisador do departamento de astronomia da Universidade de
São Paulo. Esse fenômeno também explica porque o Sol fica avermelhado
ao entardecer: nesse momento, a luz está atravessando uma camada mais
grossa de atmosfera, de modo que sobra mais luz vermelha.
Leia também:Astrônomo grava impacto de asteroide contra a LuaNasa divulga imagem interativa da face polar norte da Lua
Marte em oposição — Quem ficar acordado para ver o
eclipse pode procurar Marte no céu. O planeta é quase sempre visível a
olho nu da Terra, mas durante seu período de oposição ele se torna mais
brilhante e fácil de identificar. "Marte esteve em oposição no dia 8 de
abril, mas é possível observá-lo antes e depois dessa data. Ele estará
visível perto da Lua durante o eclipse, como uma esfera de cor vermelha
intensa", afirma Rojas.
Os próximos — Os três outros eclipses lunares que
completam a tétrade vão ocorrer em 8 de outubro de 2014, 4 de abril e 28
de setembro de 2015. Dentre eles, segundo Rojas, apenas o último terá
uma boa visibilidade no Brasil.
Os principais eventos astronômicos de 2014
Eclipse total da Lua
Um dos espetáculos mais bonitos esperados para este ano é o eclipse
total da Lua, previsto para 15 de abril. A Lua vai entrar na região de
sombra feita pela Terra, desaparecendo completamente do céu. O evento
poderá ser observado em todo o Brasil, exceto o fim do espetáculo,
quando a Lua reaparecer, pois já terá amanhecido por aqui.
O eclipse vai começar às 3h da manhã. Por volta das 4h, se inicia a
fase total do eclipse, quando a Lua some atrás da sombra da Terra. Às
5h24, o satélite começa a sair da escuridão, e ressurge inteiramente às
6h33.
No dia 8 de outubro haverá outro eclipse total da Lua. Mas este terá
início quando o dia estiver clareando para nós, por volta das 6 da
manhã, de modo que a maior parte do território nacional não vai ver
nada. Quem estiver no Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia e em parte do
Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará e Amapá pode conseguir observar o
comecinho do evento.
Segundo Gustavo Rojas, astrofísico da Universidade Federal de São
Carlos, apesar de comum, esse evento não ocorre anualmente, pois depende
das configurações de ciclo da Terra, da Lua e do Sol. Em 2013, por
exemplo, nenhum eclipse total lunar foi observado. Quando eles
acontecem, costumam ser dois no mesmo ano.
Eclipses solares
Dois elipses solares estão previstos para 2014, mas eles poderão ser
conferidos no Brasil apenas por fotos. O primeiro vai escurecer o céu da
Austrália em pleno dia, em 29 de abril. Será um eclipse anular,
fenômeno em que a Lua entra na frente do Sol e não o cobre totalmente,
deixando um anel de luz ao seu redor. Isso acontece porque a Lua estará
em um ponto mais distante da Terra, fazendo com que o satélite pareça
menor para nós. À luz do dia, animais começarão a agir como se começasse
a anoitecer e estrelas poderão ser vistas no céu.
O segundo eclipse solar, em 23 de outubro, será parcial, quando a Lua
não fica exatamente na frente dele, e poderá ser visto apenas no Oceano
Pacífico e no Alasca.
Chuvas de meteoros
Esses fenômenos anuais acontecem quando a Terra atravessa uma região que
já foi (ou ainda é) trajeto de um cometa. Isso porque, ao se aproximar
do Sol, o cometa perde matéria e deixa um rastro pelo caminho. Quando
essa matéria entra na atmosfera da Terra e queima, ela se torna uma
chuva de meteoros.
Os principais episódios vistos do Brasil serão Eta Aquarídeos, em 5 de
maio; Delta Aquiarídeos, em 28 de julho; Orionídeos, em 22 de outubro; e
Geminídeos, em 13 de dezembro. O fenômeno é visível a partir da
meia-noite – antes do amanhecer é o melhor horário para avistá-lo –
sempre na direção Leste.
Segundo Gustavo Rojas, é preciso olhar para o céu bastante tempo para
avistar as chuvas, pois os meteoros podem aparecer em intervalos de
tempo longos. Se a Lua iluminar o céu, a visão será prejudicada. As
chuvas dos Eta Aquarídeos, em maio, e a dos Orionídeos, em outubro,
ocorrem em virtude da passagem pelo rastro deixado pelo cometa Halley.
Planetas em oposição
Quando um planeta está em oposição em relação ao Sol, é o melhor momento
para observá-lo. Aqui da Terra, conseguimos ver a oposição de Marte,
Júpiter e Saturno, que ficam visíveis, cada um no seu período de
oposição, durante toda a noite. Urano e Netuno, mesmo ficando mais
brilhantes, não atingem o nível suficiente para serem vistos a olho nu,
enquanto Mercúrio e Vênus, por estarem mais perto do Sol do que a Terra,
nunca ficam em oposição para nós – embora ambos sejam normalmente
visíveis.
Para observar um planeta em oposição, deve-se olhar, no começo da
noite, na direção Leste, onde o Sol nasce. O ponto mais brilhante será o
planeta. Marte fica em oposição no dia 8 de abril, e Saturno em 10 de
maio. O período de oposição de Júpiter aconteceu no início desse ano, em
5 de janeiro. O fenômeno é mais visível duas semanas antes e depois da
data fixada.
Cometa Siding Spring
O cometa esperado para 2014 não vai passar perto da Terra, mas de Marte.
Trata-se do Siding Spring, que foi descoberto em 3 de janeiro de 2013
pelo astrônomo escocês-australiano Robert H. McNaught.
A princípio, pensava-se que ele poderia colidir com o planeta vermelho,
mas a Nasa já considera essa hipótese praticamente descartada: em abril
no ano passado, a chance de colisão foi estimada em uma para 120 000. A
aproximação máxima do cometa a Marte está prevista para 19 de outubro,
quando ele estará a 110.000 quilômetros do planeta. "Essa distância
equivale a pouco mais de um terço da existente entre a Terra e a Lua.
Nunca houve um cometa passando tão perto assim da Terra", explica
Gustavo Rojas.
A passagem do Siding Spring pode envolver Marte em uma nuvem de poeira e
pequenas rochas liberadas pelo cometa, o que pode provocar um efeito
visual bonito, mas também causar danos aos equipamentos que orbitam o
planeta vermelho, como a sonda Mars Orbiter, lançada em novembro do ano
passado pela Organização de Pesquisas Espaciais da Índia e os robôs
exploradores Opportunity e Curiosity.
Sonda Rosetta
O ano de 2014 prevê uma grande inovação para a ciência espacial: a sonda
Rosetta, desenvolvida pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em
inglês) vai realizar o primeiro pouso em um cometa. Em 20 de janeiro,
Rosetta foi reativada, depois de 957 dias "hibernando" no espaço.
Lançada em 2004, ela vai se aproximar em agosto do cometa
67P/Churyumov-Gerasimenko e, depois de analisar sua superfície, vai
liberar a sonda Philae, que deve pousar na superfície do cometa em
novembro deste ano. Rosetta vai acompanhar o cometa em sua viagem em
direção ao Sol, para monitorar as mudanças que acontecerão no corpo
celeste durante este trajeto, até que ele atinja o ponto mais próximo do
Sol, em agosto de 2015. Por serem "sobras" da formação do nosso Sistema
Solar, a composição dos cometas pode dar pistas importantes sobre o
surgimento da vida na Terra e a evolução do Universo.
Satélite Gaia
Conhecido como “cartógrafo da galáxia”, o satélite Gaia, da Agência
Espacial Europeia, foi lançado no dia 19 de dezembro do ano passado, a
bordo de um foguete russo Soyuz. Em uma missão que deve durar cinco
anos, seu principal objetivo é fazer o mais preciso mapa tridimensional
da Via Láctea, permitindo que os astrônomos determinem a origem e a
evolução de nossa galáxia. Gaia vai fazer observações de um bilhão de
estrelas, registrando sua posição e movimentação, bem como temperatura,
luminosidade composição. "Será uma pesquisa muito importante, porque a
gente não conhece muito bem a distância das estrelas, vamos poder ver
com precisão toda a galáxia. Vai levar um tempo para coletar os dados,
mas talvez até o fim do ano já seja feito algum anúncio importante
relacionado a este satélite", afirma Gustavo Rojas.
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