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Cerveró defende compra de refinaria sem trombar com Dilma
Ex-diretor defendeu a compra da refinaria de Pasadena, dividiu responsabilidades pela decisão com a cúpula da empresa, mas, para alívio dos petistas, não comprometeu mais ninguém da estatal ou do governo
Laryssa Borges, de Brasília
Ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, participa de audiência pública na Câmara para explicar compra da refinaria de Pasadena
(Evaristo Sá/AFP)
Cerveró procurou se defender sem trombar com declarações de Dilma. A presidente afirmou que o colegiado não tinha conhecimento das cláusulas Marlim e Put Option, ou não teria aprovado o negócio. A cláusula Marlim previa à belga Astra Oil, parceira inicial da Petrobras, um lucro de 6,9% ao ano, independentemente das condições de mercado, e a Put Option obrigava a empresa brasileira a comprar a outra metade da refinaria caso houvesse desentendimento com a parceira da Bélgica. O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, chegou a negar a versão de Dilma, dizendo que o conselho recebera com 15 dias de antecedência a documentação completa sobre a refinaria do Texas, voltando depois atrás, em entrevista ao site de VEJA. Nesta quarta-feira, Cerveró disse que seu advogado se precipitou, mas não chegou a esclarecer o caminho das informações sobre a transação até a mesa do conselho. “Qualquer aquisição é submetida à diretoria toda. No caso de Pasadena, um conjunto de documentos ficou submetido à aprovação da área tributária e da área jurídica. Daí em diante a diretora encaminha aos conselheiros, mas não tenho certeza se passou ao conselho. A diretoria, quando aprova [uma transação], recebe toda a documentação e ela depois é encaminhada ao conselho, mas não sou eu [que encaminho]. É praxe que seja encaminhado”, relatou.
O ex-diretor da Petrobras evitou responder a perguntas mais controversas, como a identidade de seus padrinhos políticos, ou as críticas que a presidente fez a seu “parecer falho”, mas afirmou que “não enganou” nenhum conselheiro da Petrobras com o resumo executivo em que relatou os principais pontos da compra da refinaria de Pasadena. “De forma nenhuma [enganei Dilma]. Apresentei um trabalho desenvolvido ao longo de mais de um ano para essa refinaria. Não houve nenhuma intenção de enganar ninguém. Não há nenhum sentido de enganar a ninguém. A posição [sobre a compra] não é só minha, é da diretoria e o conselho aprovou esse projeto. Não existem decisões individuais nem na diretoria nem no conselho. Foi tudo baseado em uma série de consultorias e trabalhos técnicos ao longo de mais de um ano”, completou. “Sobre indicação política, acho uma desconsideração. Isso é extremamente ofensivo. Tenho 39 anos de Petrobras. Sou um técnico. Fui indicado pela minha capacitação e competência. Se preferem reduzir a mera indicação política, não posso fazer nada”, reclamou o depoente. Cerveró foi indicado ao cargo de diretor da Área Internacional da Petrobras pelo senador petista Delcídio Amaral (PT-MS) e mantém laços políticos com o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL).
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De acordo com Cerveró, a aquisição da refinaria atendia uma necessidade de expansão da Petrobras no mercado internacional. Segundo eler, o valor pago pela refinaria ficou abaixo da média de mercado mesmo após a companhia brasileira desembolsar 1,23 bilhão de dólares na transação. Para ele, ainda com prejuízo contábil, a aquisição da unidade de Pasadena era um bom negócio em 2006, antes da “mudança drástica” provocada pela crise econômica mundial de 2008. “Houve equívocos ou foi o melhor projeto do mundo? Evidente que não foi, mas não foi uma operação malfadada. Hoje temos um ativo. Não é justo classificar essa operação como malfadada e classificá-la como um grande prejuízo para a Petrobras. Não foi um projeto malsucedido. As condições e situações do mercado mudaram e o projeto não pode ser concluído”, relatou. “Isso não foi uma operação desastrosa. Seria se tivesse explodido ou não tivesse condições de operar. Não há desastre nenhum nesse processo”, disse.
Ao contrário do sugeriu a presidente Graça Foster, em depoimento na terça-feira, Cerveró disse que não foi “rebaixado” ao assumir a BR Distribuidora e tampouco demitido. “Não fui rebaixado, fui substituído em um processo normal na história da Petrobras. É uma questão de conveniência e não houve nenhuma punição”, disse. Questionado, Cerveró ainda evitou polêmicas envolvendo o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Ex-responsável pela área de Refino e Abastecimento, Costa participou das reuniões de discussão sobre a compra da refinaria de Pasadena. “Paulo Roberto participou [de reuniões sobre Pasadena], como toda a diretoria, que é colegiada”, explicou ele. Em seu depoimento, ele negou ter conhecimento das atividades de Costa e da parceria dele com o doleiro Alberto Youssef, também detido na Lava-Jato.
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