As principais emissões de poluentes agora vêm das usinas termelétricas
A fumaça das chaminés deverá ultrapassar o desmatamento da Amazônia como nossa maior fonte poluidora
ALEXANDRE MANSUR, COM FELIPE GERMANO
03/04/2014 07h00
- Atualizado em
03/04/2014 12h53
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Uma nova usina termelétrica entrou em operação em outubro do ano
passado. Batizada de Pecém II, funciona num complexo industrial e
portuário de mesmo nome, em São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Sua
capacidade, de 365 megawatts, permite iluminar 140 mil residências. A
peculiaridade dessa usina é que ela queima a carvão mineral, uma das
fontes mais poluidoras de energia. O carvão vem de navio da Colômbia.
Segundo a Eneva (antiga MPX, de Eike Batista),
dona da usina, Pecém II usa tecnologias para reduzir a descarga de
fuligem preta e enxofre nas imediações. Mas não diminui a emissão de gás
carbônico, o principal responsável pelas mudanças climáticas. O fato de
o Brasil,
um país rico em outras fontes de energia, inaugurar uma usina a carvão
mostra como apostamos nas termelétricas para gerar eletricidade. Acionar
essas usinas, que queimam também gás ou óleo combustível, é caro.
Obrigou o governo a gastar R$ 47 bilhões em dois anos para salvar as
distribuidoras de energia. E há um preço ambiental.
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Agora, as chaminés das termelétricas já rivalizam com a fumaça das queimadas como nossa maior contribuição para o aquecimento global. Em 1995, as queimadas respondiam por 77% de nossas emissões. Caíram para 32% em 2012. No mesmo período, a fumaça das usinas foi de 8% a 30% das emissões brasileiras. O dado é do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa, organizado pelo Observatório do Clima, uma coalizão de ONGs e centros de pesquisas. “Seguindo as tendências atuais, nos próximos dois anos as emissões da produção de energia devem superar o total de desmatamento, que historicamente foram nossa preocupação”, afirma Tasso Azevedo, coordenador do sistema.
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A mudança de perfil das emissões brasileiras é resultado em parte de uma boa notícia. O desmatamento da Amazônia é o mais baixo em décadas. Mas também reflete a redução da participação das hidrelétricas em nossa matriz de geração. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 1998 mais de 88% da capacidade instalada brasileira era hidrelétrica. Ela caiu para 73% em 2012. As termelétricas passaram de 12% para 27% nesse mesmo período. O Brasil, que ostentava uma economia baseada em energia limpa, provavelmente começará a se preocupar com quanto polui para alimentar a indústria e o comércio. A partir de agora, se o Brasil assumir metas ambiciosas de redução das emissões em tratados internacionais para o clima, terá de usar energia de forma mais eficiente. E também investir mais em energia limpa, como eólica e solar, além de novas hidrelétricas.
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