Brasil
Lava-Jato
Família de ex-diretor da Petrobras comprou 13 imóveis nos últimos cinco anos
Paulo Roberto Costa, com mulher e filhas, tem transações registradas de pelo menos 5,8 milhões de reais. Imóveis estão avaliados em 14,4 milhões
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras (Folhapress)
Acusado pela Polícia Federal de ser um dos líderes de um esquema de lavagem de cerca de 10 bilhões de reais, o engenheiro mecânico Paulo Roberto Costa teve, na Petrobras, uma carreira invejável. Funcionário de carreira, conseguiu, desde que entrou na estatal, em 1977, chegar ao posto de diretor de Abastecimento, em 2004. A carreira bem-sucedida teve, no entanto, uma fase meteórica de acúmulo de capital nos últimos cinco anos. Nesse período, de acordo com um levantamento feito pelo site de VEJA, Costa, a mulher, duas filhas e dois genros adquiriram nada menos que 13 imóveis no Rio de Janeiro – num período de preços nas alturas. Os valores das transações registrados em cartório chegam a 5,8 milhões de reais. Não estão na soma duas salas comerciais nas quais a família investiu uma parte de seu capital.
Costa está preso por suspeita de ter cometido crimes como lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e participação em organização criminosa – delitos pelos quais foi indiciado na última quarta-feira pela Polícia Federal com a conclusão da primeira etapa da operação Lava-Jato. Ele também é investigado por evasão de divisas e corrupção. Os investigadores suspeitam que o ex-diretor tenha se associado ao doleiro Alberto Youssef para articular negócios e que tenha recebido propina de fornecedores da estatal. Há indícios de que Costa recorria ao doleiro para ocultar recursos de origem ilícita. Já se sabe que Youssef comprou para o ex-diretor um Land Rover Evoque blindado, avaliado em 300.000 reais. A suspeita é que essa compra foi viabilizada por recursos mantidos por Costa no exterior, embora a defesa dele alegue que foi apenas a remuneração por serviço de consultoria prestado ao doleiro. Os policiais analisam se parte desse dinheiro foi utilizado para abastecer políticos e partidos. Vai ser verificado se Costa contava também com a ajuda da esposa (Marici Costa), das duas filhas (Arianna e Shanni Bachmann) e dos genros (Humberto Mesquita e Márcio Lewkowicz) para esconder o patrimônio.
Os registros em cartório mostram que o ex-diretor e a família fizeram uma rodada de compras de imóveis da Península, reduto de luxo na Barra da Tijuca monitorado por seguranças privados. O histórico de negociações inclui também a aquisição de um terreno em situação irregular de 2.800 metros quadrados, por 200.000 reais. A transferência de propriedade, no entanto, não foi concluída, porque a prefeitura do Rio considera o loteamento ilegal desde agosto de 2012.
Em diversas transações, os valores registrados em cartório ficaram abaixo da avaliação de mercado e da avaliação da Prefeitura do Rio de Janeiro na cobrança do Imposto de Transmissão de Bens Imobiliários (ITBI). Apesar de a compra de onze dos imóveis ter sido registrada por um gasto total de 5,8 milhões de reais, essas aquisições valiam 6,5 milhões de reais no momento em que foram feitas, de acordo com dados da Prefeitura do Rio. Uma avaliação feita pelo presidente da imobiliária Patrimóvel, Rubem Vasconcelos, a pedido do site de VEJA, estima valor atual de 14,4 milhões de reais aos imóveis adquiridos pela família de Costa desde 2009, sem considerar o terreno irregular em Vargem Pequena.
De acordo com investigadores ouvidos pelo site de VEJA, transações imobiliárias costumam ser subavaliadas em cartório para que o comprador efetue parte do pagamento com dinheiro de caixa dois, fora do sistema bancário, ou para que economize no gasto com impostos. Um dos indícios de que Costa mantinha uma espécie de “caixa dois” de recursos ilícitos foi a apreensão, na casa dele, de cerca de 1,2 milhão de reais, em notas de dólar, euro e real.
Costa tinha um salário alto como diretor de Abastecimento da Petrobras, cargo que ocupou de maio de 2004 a abril de 2012. Em 2011, a remuneração anual média dos sete diretores da estatal era de 1,7 milhão de reais, entre salário fixo e bônus. A atual residência de Costa, uma casa no condomínio Riomar IX, no Recreio dos Bandeirantes, foi adquirida em setembro de 2003 por 500.000 reais. Na época, ele era diretor-superintendente da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia Brasil. Em abril de 2005, Costa vendeu um apartamento de 214 metros quadrados que tinha no condomínio Villa di Genova pelo valor declarado de 400.000 reais.
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Mas foi em 1º abril de 2009 que começou a acumulação de imóveis como investimentos. Nessa data, a mulher de Paulo Roberto Costa, Marici, oficializou a compra de um apartamento do ex-senador Ney Suassuna (PMDB). O partido de Suassuna foi um dos padrinhos da manutenção de Costa como diretor da Petrobras, junto com o PP e o PT. Conforme o registro em cartório, Marici pagou 220.000 reais por um quarto e sala de 50 metros quadrados no flat Barra Royal Plaza, na Avenida Lúcio Costa, de frente para o mar. Foi, por assim dizer, um excelente negócio. Outros compradores tiveram de efetuar desembolso maior por uma unidade no mesmo local nesse período. Em 26 de fevereiro de 2009, um apartamento na mesma coluna do prédio, três andares acima, e do mesmo tamanho, foi vendido por 290.000 reais. Em 4 de maio daquele ano, outra unidade, com a mesma área habitável, foi negociada por 350.000 reais.
Entre março de 2012 e setembro de 2013, a família de Costa comprou quatro salas no condomínio comercial Península Office, na Barra da Tijuca. Paulo Roberto adquiriu uma das unidades com a mulher; a filha Shanni comprou outra; e Arianna, outra filha, com o marido Márcio levaram outras duas. A sala 913 do condomínio era considerada a sede da consultoria Costa Global, mantida pelo ex-diretor desde que deixou a Petrobras, e foi alvo de mandado de apreensão. No local, foram apreendidos documentos e um HD pela Polícia Federal.
Duas dessas salas foram vendidas pelas mesmas pessoas. Curiosamente, foi registrada na escritura a venda exatamente pelo mesmo valor pago por eles à construtora Cyrela, que lançou o empreendimento. Uma sala saiu por 219.095,10 e outra por 218.771,37. Ou seja, é como se os intermediários não tivessem lucrado na revenda, um indício de que a compra foi subfaturada, de acordo com fontes do mercado imobiliário.
Outra transação suspeita foi a aquisição de um apartamento de 107 metros quadrados, com dois quartos e uma vaga de garagem, no condomínio Península Saint Martin. A compra foi registrada em 27 de fevereiro de 2013 com o valor de 680.000 reais, exatamente o mesmo montante desembolsado um ano antes pelos vendedores. Arianna já revendeu o imóvel para a Troika Empreendimentos Imobiliários em 30 de setembro do ano passado, por 1,2 milhão de reais. Vasconcelos, presidente da Patrimóvel, estranhou a expressiva variação de preços em pouco mais de sete meses: “Um imóvel no condomínio Saint Martin não dobrou de preço no ano passado”.
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Nesse mesmo condomínio, Arianna e o marido Márcio compraram outros dois apartamentos, um com quatro quartos e outro com dois quartos. A menor unidade saiu por 497.205 reais em março de 2010 e a maior por 1,2 milhão de reais em outubro de 2013. Sem considerar a compra de uma sala comercial, o casal registrou gastos de pelo menos 3,9 milhões em imóveis nos últimos cinco anos. No mesmo período, Shanni, a outra filha de Paulo, e o marido Humberto fizeram aquisições com o valor declarado de 1,18 milhão de reais, sem considerar uma sala comercial no Península Office. Paulo e a esposa Marici aparecem nos documentos de cartórios como responsáveis pelo gasto de 639 mil reais desde 2009, a menor fatia das despesas imobiliárias da família.
Ocultar a propriedade de um Land Rover rendeu um indiciamento por falsidade ideológica a Paulo Roberto Costa. Se os policiais e o Ministério Público Federal constatarem que familiares ajudaram a ocultar outros bens, eles também podem ser acusados por lavagem de dinheiro, de acordo com fontes que acompanham as investigações da Lava-Jato. Em caso de condenação, somente esse crime dá até 10 anos de prisão.
Vista aérea da refinaria de Pasadena, comprada pela Petrobras no Texas - Gilberto Tadday
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