O Brasil pede água
O país tem chuvas abundantes, os maiores rios do mundo, a maior quantidade de mananciais do mundo, litoral extenso – e vive sob o espectro de falta de água e energia. O que fazer para sair dessa?
MARCOS CORONATO E ALINE IMERCIO, COM FELIPE GERMANO
21/03/2014 21h58
- Atualizado em
21/03/2014 22h36
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>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:
Imagine um futuro assim: em 2044, o Brasil celebra uma nova redução no
número de mananciais poluídos. A grande seca que afetou o Sudeste entre
2013 e 2016 mudou para sempre as políticas públicas. A cada eleição, os
candidatos debatem como cuidarão da água. Há anos, avançam por todo o
país projetos de despoluição de rios, lagos e represas, assim como o
reflorestamento de suas margens. Os depósitos subterrâneos estão
protegidos. Quase toda a população conta com água limpa e serviço de
saneamento. Não há mais paranoia a respeito dos perigos de exportar
água. Como cuida bem de seus mananciais, o país tem água mais que
suficiente para produzir a carne, os grãos e as frutas que vende ao
mundo. Estudos internacionais confirmam: ao fazer isso, o Brasil
beneficia o meio ambiente global e os próprios brasileiros. A exportação
evita que países mais pobres em água esgotem seus poucos mananciais. Em
paz e alimentadas, nações mais ameaçadas por secas fecham acordos e
investem em tecnologia. Conseguem baratear cada vez mais a
dessalinização da água do mar. Vários países africanos em rápido
desenvolvimento se beneficiam desse avanço.Agora, imagine outro futuro.
Em 2044, o Brasil lamenta um novo aumento no número de mananciais poluídos. Mais de dois terços dos rios, lagos e represas têm agora água ruim ou péssima, que exige tratamento caro e demorado antes de ser usada. Governo, empresas e cidadãos se ressentem dos erros de décadas. O país se tornou um pesadelo de favelas sem saneamento, reservatórios contaminados e água cara demais. O sistema de represas da Cantareira, em São Paulo, nunca se recuperou da grande seca de 2013 a 2016. Por causa das críticas da sociedade e da atuação de políticos e da Justiça, torna-se difícil destinar mais água à produção agrícola. E mais difícil ainda exportar essa água sob a forma de carne, grãos e frutas. Esse medo encontra eco na situação global. Na Ásia e na África, nações trocam ameaças e se engalfinham em guerras por causa de mananciais cada vez mais ressequidos.
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Ambos os futuros, neste momento, são igualmente possíveis. O Brasil é uma potência da água. Não precisa sustentar nem 3% da população mundial, mas abriga 12% da água doce disponível no globo. Essa parcela aumenta para 18%, se contarmos a água que flui dos países vizinhos para o território nacional. Como um país desses pode comemorar o Dia da Água (22 de março) mergulhado numa crise energética e à beira do racionamento nas torneiras? A resposta está no mau uso do recurso.
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