sábado, 22 de março de 2014

Tá fedendo e vai feder mais.???????????????

O poder e a influência do ex-diretor da Petrobras preso pela polícia

Como a PF prendeu o homem dos políticos na estatal – e quem é o novo lobista que pode levar a investigação ao caixa dois das campanhas eleitorais

DIEGO ESCOSTEGUY, COM MURILO RAMOS E ISABEL CLEMENTE
21/03/2014 21h34 - Atualizado em 21/03/2014 22h27
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HERANÇA MALDITA Da direita para a esquerda, em foto de 2006 no Palácio do Planalto: Lula, Dilma, o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e o diretor de abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. Dilma não gostava de Paulo Roberto Costa, mas não conseguia derrubá-lo   (Foto: Ed Ferreira/Estadão Conteúdo)
Ao chegarem ao luxuoso condomínio Rio Mar IX, na Barra da Tijuca, na manhã da segunda-feira (17), os agentes da Polícia Federal no Rio de Janeiro provavelmente não sabiam que bateriam à porta de um dos homens mais poderosos da política brasileira. Para eles e os delegados que haviam obtido um mandado de busca e apreensão para vasculhar aquele nobre endereço, o engenheiro Paulo Roberto Costa era apenas mais um beneficiário – ainda que um beneficiário importante, por ter sido executivo da Petrobras – de um esquema de lavagem de dinheiro que movimentara cerca de R$ 10 bilhões nos últimos anos. Os policiais haviam descoberto que Costa era um cliente VIP de Alberto Youssef, um dos principais doleiros do país, apontado como chefe da organização criminosa desmontada, nos últimos dias, pela operação batizada pela PF de Lava-Jato.
>> Ex-diretor da Petrobras é preso acusado de lavagem de dinheiro
Mas Paulo Roberto Costa não era apenas mais um ex-executivo da Petrobras. Ou um mero cliente de Youssef – doleiro ligado historicamente ao PP, um dos partidos da base aliada do governo Dilma, que lavou dinheiro para os deputados da sigla durante o mensalão. Entre 2004 e 2012, Costa foi o mais influente diretor da Petrobras. Não no Rio, onde funciona a sede da empresa. Mas em Brasília, onde funciona a sede do poder. Especificamente, naquele nicho em que dinheiro e política se combinam para conduzir os destinos do país. Costa era o principal elo da Petrobras com esse mundo. Comandava a área de abastecimento e refino da estatal. Controlava operações de compra e venda de combustível e obras em refinarias. Negociava contratos para a construção de novas usinas e para reparos nas antigas.
Funcionário de carreira da Petrobras, Costa chegara ao cargo por indicação do PP, num momento em que o doleiro Youssef já lavava dinheiro para deputados do partido, com o aval do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, do PT. Com a crise do mensalão, Costa não caiu. Ficou ainda mais forte. O segredo? Entender – e atender, segundo seis pessoas próximas a ele, entre amigos, políticos e parceiros de negócios – as necessidades de Brasília. Passou a ter o apoio não apenas do PP e do PT. Mas também da turma do PMDB do Senado, a turma mais poderosa do PMDB. Com o tempo e o acúmulo de favores prestados aos políticos, ganhou a confiança do então presidente Lula, com quem mantinha uma linha direta de comunicação. Nunca recusava um pedido político.
Paulo Roberto Costa não precisava de autorização para fechar os contratos que os políticos queriam
Para os políticos, a diretoria de Costa na Petrobras era uma Disneylândia, repleta de ricas possibilidades. Quão ricas? Nos próximos quatro anos, a Petrobras pretende gastar US$ 39 bilhões nessa área. Supera a soma dos orçamentos de todos os ministérios comandados pelo PMDB. E a Diretoria de Abastecimento sempre apresentou uma vantagem essencial. Embora tenha um orçamento ligeiramente menor que a Diretoria de Exploração, concentra mais oportunidades de fazer dinheiro. Costa não precisava de autorização de mais ninguém para fechar centenas de contratos milionários de compra e venda de combustível. E tinha permissão de Lula para tocar os contratos bilionários de construção – todos com indícios de superfaturamento, segundo o Tribunal de Contas da União – das refinarias que a Petrobras ergue, bem lentamente e com sucessivos atrasos, no Brasil. A presidente Dilma Rousseff, que não gostava de Costa, tentava derrubá-lo desde o começo de seu governo. Encontrava resistências de todos os políticos, mesmo indiretamente, de Lula. Conseguiu apeá-lo apenas em 2012, para desespero da base aliada.
Nada disso, claro, era de conhecimento dos policiais que entravam no condomínio de Costa na última segunda. Eles encontraram o que procuravam antes mesmo de subir ao apartamento dele. Após deixar a Petrobras pela porta dos fundos, tentava voltar pela porta da frente, como lobista. Na garagem dele, estava estacionado um Land Rover, avaliado em R$ 200 mil. Segundo telefonemas e e-mails interceptados pela PF, ele fora presenteado a Costa pelo doleiro Youssef. A mesma investigação mostrou que Youssef se unira a Costa para fazer negócios na Petrobras, por meio de uma empresa de produtos químicos. Diante desses fatos, os policiais estavam no condomínio de Costa em busca de provas que demonstrassem o alcance da parceria entre ele e Youssef.
Assim que os policiais se anunciaram na portaria, Costa correu ao telefone e, sem saber que era monitorado pela PF, determinou a familiares que fossem a seu escritório e destruíssem todos os documentos e computadores que lá estivessem. Os policiais subiram ao apartamento e apreenderam o equivalente a R$ 1,2 milhão em dólares e euros. Em seguida, outra equipe da PF encaminhou-se ao escritório de Costa. Já estava vazio, mas os policiais confirmaram, graças às câmeras internas do prédio, que os familiares dele haviam deixado o local carregando documentos e computadores. Com as evidências de que Costa obstruía as investigações, a PF conseguiu uma ordem judicial para prendê-lo por alguns dias.
Na manhã da quinta-feira, os policias voltaram ao condomínio Rio Mar IX para levar Costa em cana. Assim que a notícia da prisão se espalhou, o mundo político desabou. Os políticos sabem que, se Costa falar, terá muito a dizer. Há, ainda, a possibilidade de que o doleiro Youssef colabore com as investigações. Ele já fez isso quando foi processado em outro caso de lavagem de dinheiro. O caminho do dinheiro de Youssef, sabem os políticos, não termina em Costa. Um nome fundamental nessa investigação, embora ainda inédito, é o lobista Fernando Soares, conhecido no Rio e em Brasília como Fernando Baiano. De acordo com oito pessoas ouvidas por ÉPOCA nos últimos meses, entre ex-diretores e ex-funcionários da Petrobras, lobistas da estatal que atuam em parceria com ele e amigos de Costa, Fernando Baiano era o intermediário entre Costa e os empresários interessados em fazer negócios na Diretoria de Abastecimento. Segundo eles, Baiano desempenhava uma função semelhante à do lobista João Augusto Henriques. Conforme revelou ÉPOCA no ano passado, João Augusto intermediava, no mesmo período, os negócios na Diretoria Internacional da Petrobras, comandada pelo PMDB (leia abaixo).
>> João Henriques denuncia os responsáveis pela entrega de propina a políticos em Brasília
>> As denúncias do operador do PMDB na Petrobras

É perfurar e achar: a Petrobras e seu pré-sal de escândalos  (Foto: Richard Carson/Petrobras, reprodução (3))

Procurado por ÉPOCA, Fernando Baiano minimizou sua relação com Costa e seus contatos na Petrobras. Admitiu conhecer Costa. Afirmou apenas ser representante de uma empresa espanhola e ter tentado marcar há dois anos, quando Costa estava na Petrobras, reuniões de dirigentes dessa empresa com ele. “A empresa queria desenvolver negócios com a Petrobras, inclusive na construção das refinarias Premium I e II. Fui informado por ele (Paulo Roberto) que havia uma dificuldade de as empresas estrangeiras participarem, porque a Petrobras priorizava as empresas nacionais. Até tentei umas parcerias com empresas brasileiras, mas a história não vingou”, disse. Baiano afirmou que, mais recentemente, manteve contato com Costa para tratar de um projeto de minirrefinarias, conduzido por ele. “Eu via a possibilidade de trazer empresas estrangeiras para participar desses projetos.” Baiano não quis declinar o nome de tais empresas.
A prisão de Costa não poderia acontecer num momento pior para o governo Dilma – e para a Petrobras, seriamente endividada e em meio a uma grave crise de confiança dos investidores. Dilma é obrigada a pagar uma dívida política contraída por Lula, da qual também foi signatária. Ela era presidente do Conselho de Administração da Petrobras no segundo mandato do governo Lula – no período em que a perigosa conurbação da política com a estatal atingia seu ápice. A fotografia que abre esta reportagem, tirada em 2006 no Palácio do Planalto, é precisamente dessa época. O Conselho de Administração analisa somente os grandes contratos da Petrobras, aqueles em que haja questões estratégicas em jogo. Dilma nunca escondeu que detestava a mistura de política com os negócios da Petrobras. Mas nunca jogou seriamente contra esses interesses até se tornar presidente.
Por uma incrível coincidência, a responsabilidade de Dilma no enorme passivo político da Petrobras no governo Lula veio a público um dia antes da prisão de Costa. Procurada pelo jornal O Estado de S.Paulo para comentar por que aprovara em 2006, quando presidente do Conselho de Administração, a operação com a refinaria Pasadena, nos Estados Unidos, que custara à Petrobras US$ 1,2 bilhão, Dilma deu um bico verbal nos antigos diretores da empresa. Disse que votara favoravelmente pela operação Pasadena com base num parecer “técnica e juridicamente falho”. Afirmou ter recebido, na ocasião, “informações incompletas”. A presidente disse ainda que o negócio não seria aprovado caso tivesse recebido as informações completas.
As declarações de Dilma contrariaram a versão mantida pela Petrobras nos últimos anos, desde que se descobriu o descalabro da operação Pasadena. A Petrobras sempre tentou amenizar os prejuízos com o negócio. Num momento em que boa parte do Congresso está contra Dilma, e em que a Petrobras sofre para manter seu valor de mercado, as palavras dela desencadearam uma crise instantânea em Brasília e na estatal. Segundo um ministro próximo a Dilma, a polêmica nota da presidente deve-se a duas razões. A primeira é o temperamento da presidente, que não suporta que sua probidade seja questionada. A indignação sincera que resulta dessa característica levou Dilma a reagir com excessiva altivez. A segunda razão envolve um cálculo político. O Planalto sabia que a oposição exploraria o assunto na campanha. Quis antecipar uma crise que, neste momento, ainda pode ser enfrentada, embora com dificuldades, no Congresso. Numa eleição, controlar danos provocados por uma crise como essa seria mais difícil.
Se Dilma queria antecipar a crise, não poderia ter dado mais certo. A CPI da Petrobras virou uma possibilidade. Mas ainda não é provável. Uma investigação sobre os negócios políticos na Petrobras não atingiria apenas o PT. Políticos do PMDB, do PP e de outros partidos correriam igualmente risco. “Se for preciso sacrificar quatro ou cinco peões do partido, valerá a pena”, diz um dos principais líderes do PMDB. Não deixa de ser um cálculo arriscado no xadrez político de 2014. Peões podem dar xeque-mate.

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