ISTOÉ Online
| 31.Mar.14 - 10:50
| Atualizado em 31.Mar.14 - 14:24
Mudança climática não é um problema para o fim do século. Acontece
agora, causando impactos no ambiente e nos seres humanos em todos os
continentes e através dos oceanos. No futuro, amplificará os riscos já
relacionados ao clima e criará novas ameaças para os sistemas naturais e
humanos. E, por enquanto, o mundo está muito pouco preparado para lidar
com a situação.
Planeta já sofre impacto de mudanças climáticas
Segundo relatório da ONU, demora em combater aquecimento global gera mais riscos e mais custos
AE
Em poucas palavras, esse é o quadro pintado pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) na segunda parte do
seu quinto relatório, divulgado no domingo, 30, à noite (horário de
Brasília), em Yokohama, no Japão.
A mensagem está presente no Sumário para Formuladores de Políticas,
uma introdução não técnica do documento de mais de 2 mil páginas e 30
capítulos, que trata dos impactos, adaptação e vulnerabilidade às
mudanças climáticas.
Com a constatação de que o mundo já está pagando a conta pelas
emissões desenfreadas de gases do efeito estufa ocorridas desde a
Revolução Industrial, o relatório aponta que ainda há oportunidades para
lidar com os riscos. Na maior parte dos casos, medidas sérias de
adaptação podem fazer com que riscos que seriam de alto nível, se nada
for feito, sejam médio ou baixo.
No entanto, quanto mais tempo se levar para fazer isso, a
dificuldade vai aumentar, assim como os custos. "Magnitudes crescentes
de aquecimento aumentam a probabilidade de impactos severos,
generalizados e irreversíveis", afirma o sumário. E haverá um limite
além do qual talvez não haja mais o que fazer.
"A mensagem mais importante do relatório é que a gestão da mudança
climática é um desafio de gerenciamento de riscos. Vemos uma ampla gama
de possíveis resultados - alguns deles muito sérios. E vemos as mudanças
climáticas interagindo com outros fatores, muitas vezes agindo como
multiplicador das ameaças", disse ao Estado o pesquisador americano
Chris Field, co-chair do Grupo de Trabalho 2, que elaborou o texto.
"O problema real não é se teremos 2ºC ou 3ºC de aquecimento, mas se
uma seca, por exemplo, vai aumentar a propensão a incêndios - que, uma
vez que começam, se estendem por milhares de quilômetros quadrados. É
uma questão de gerenciamento de risco."
O relatório destaca experiências feitas ao redor do mundo, mas em
escala muito pequena. "As pessoas tendem a pensar que um passo gigante
vai resolver tudo. Porém, talvez sejam necessários 500 pequenos passos."
Dimensão humana
Os impactos já observados afetam a agricultura, a disponibilidade
de água, a saúde humana, os ecossistemas no continente e nos oceanos, e
alguns modos de vida. Em geral, os problemas têm ocorrido em todo o
mundo, sejam países ricos ou pobres, mas o grau de vulnerabilidade
varia.
Ao longo do século 21, as mudanças climáticas podem "desacelerar o
crescimento econômico, fazer com que a redução da pobreza seja mais
difícil, erodir ainda mais a segurança alimentar e criar novas
armadilhas da pobreza, particularmente nas áreas urbanas e pontos onde
há muita fome", diz o relatório.
Segundo Field, ao contrário dos textos anteriores do IPCC, este
teve um foco maior na "dimensão humana". "Mais atenção sobre como as
pessoas serão afetadas pode ajudar a garantir que elas saiam de uma
condição de fome ou violência e tenham uma vida mais confortável."
A iniciativa foi bem recebida por ONGs ambientalistas que acompanharam os trabalhos na semana que passou.
Um dos temas aprofundados foi a segurança alimentar. Em 2007, o
IPCC colocava, por exemplo, a possibilidade de que regiões mais altas e
frias poderiam se beneficiar se tornando mais aptas para a agricultura -
o que talvez compensasse perdas em outras regiões. Agora, o texto é
claro em mostrar que o que temos visto são apenas impactos negativos. E
destaca a relação mais abrangente do problema, relacionado com o aumento
de preços dos alimentos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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