N° Edição: 2197
| 16.Dez.11 - 21:00
| Atualizado em 17.Dez.11 - 07:35
“O sonho de São José”, de Francesco Solimena (1754).
Em sonho, anjo alerta José da fúria de Herodes, que quer matar Jesus
“Miguel Arcanjo”, de Luca Giordano (1663).
São Miguel Arcanjo pisa nos anjos caídos de Satanás em representação barroca
“A beleza dos anjos se mistura a todas as tradições, culturas e
religiões”, afirma Doreen Virtue, doutora em psicologia e autora de
“Manual da Terapia dos Anjos” (Ed. Madras) e outros três títulos sobre o
assunto. Doreen é uma desbravadora desse novo mercado. Em seu site,
além dos livros, vende baralhos de tarô angélico – são oito, sempre com
44 cartas, disponíveis a US$ 15,95 (R$ 29) cada –, um aplicativo para
celular que, por US$ 6,99 (R$ 13), envia mensagens diárias de anjos a
quem o adquire, e até joias com representações consagradas desses seres.
A onipresença deles ajuda a alastrar o fenômeno. Na “Bíblia” de Hazel
Raven, fazem sucesso as curiosas seções que descrevem a ação dos anjos
que podem ser invocados em nosso cotidiano. Ali, por exemplo,
encontra-se um suposto “anjo da cozinha”, chamado Isda, que teria o
poder de assegurar que os nutrientes dos alimentos sejam plenamente
absorvidos pelo corpo ou garantiria o sucesso de uma complicada receita.
Há também os “anjos de estacionamento”, que intercederiam na hora de
achar uma vaga para parar o carro. Todos eles seriam uma espécie de
genérico do mais famoso dos anjos, o da guarda, que passa a assumir
responsabilidades estranhamente prosaicas. O livro segue adiante e
apresenta, ainda, os cristais que representam cada anjo e ensina como
montar um altar e escrever cartas a eles.
Outro fenômeno de nossos tempos, a cabala, lado místico do judaísmo que angaria um número cada vez maior de adeptos, também resolveu temperar sua filosofia com os anjos. O valor numérico da palavra anjo, em hebraico, representa “um canal”. E é nesse sentido que a cabala vê o anjo: uma forma de canalizar a energia positiva. Uma das maneiras de invocar os anjos é pelos 72 nomes de Deus. A pessoa repete os nomes e os anjos ajudam a alcançar o objetivo. Cada um corresponderia a uma intercessão divina: cura, amor, pujança, etc. Yonatan Shani, representante do Kabbalah Centre no Brasil, afirma ter vivido uma experiência angelical quando morava nos Estados Unidos. Certa vez, chegando a um consultório médico, ele viu um homem se aproximar com uma arma. “Primeiro pensei em como fugir, mas vi que não tinha jeito”, diz Shani. Então, ele começou a meditar e a pensar nos 72 nomes de Deus. “O homem chegou a 50 centímetros de mim, com a arma engatilhada e apontada. Parou, olhou no meu olho, colocou a mão no meu ombro e disse: ‘Me desculpa, não sei o que deu em mim.’” O rabino tem certeza de que foi seu anjo da guarda que o salvou.
Os anjos cultuados e invocados nesta Nova Era têm pouco a ver com os relatados nas histórias do Novo Testamento. Aqueles estavam muito distantes e perderam o apelo por se apresentarem em situações identificadas com um tempo que já não existe mais. Mesmo assim, as correntes esotéricas e místicas costumam fazer associações com os tradicionais arcanjos católicos presentes nos afrescos. Na astronomia, Miguel é o Sol e Gabriel a Lua. No terreno dos cristais, o primeiro vira lápis-lazuli e o segundo Danburita. Já na cromoterapia, técnica que utiliza cores na cura das doenças, Miguel é o “raio azul-safira”, recomendado para aumentar a capacidade de comunicação e o desapego dos problemas mundanos, e Gabriel o “raio laranja”, para amenizar o estresse gerado por perdas e medos e estimular a criatividade e o otimismo. Até o hinduísmo entrou na onda – segundo ele, o primeiro representaria o chakra da garganta e o segundo seria o do sacro. Há também os óleos essenciais, as estações do ano... Cada arcanjo tradicional é associado a algum elemento. Basta a pessoa saber qual seu anjo correspondente e adquirir, no mercado esotérico, o produto correto.
“A ascensão”, de Andreas Herman Hunaeus (1840).
Durante a ascensão de Cristo, os apóstolos testemunham o trabalho dos anjos
Esses seres também estão incorporados ao Reiki, terapia que se baseia
na imposição das mãos como forma de se restabelecer o equilíbrio
energético. O centro de terapia Rikiangelos, que difunde a prática no
mundo, promove cursos regulares, presenciais e a distância sobre o tema.
Pelas técnicas ensinadas, a pessoa que faz a imposição das mãos invoca o
“Angel Reiki” para guiá-lo aos pontos vulneráveis do corpo do paciente.
Mesmo aí os arcanjos bíblicos entram em ação: Rafael, Gabriel, Miguel e
Uriel. Há até Reiki de Anjos para crianças. Nesse curso, 20 anjos
ajudaram a orientar os pequenos em seu desenvolvimento pessoal.
O resgate dos anjos trouxe à tona personagens que viveram o boom desse mercado nos anos 1990 e depois entraram numa espécie de ostracismo. Mônica Buonfiglio é o caso mais notório. Há cerca de duas décadas criou o Tarô dos Anjos, transformado em livro que vendeu nada menos que 2,5 milhões de cópias. Quando o fenômento esfriou, ela deixou até de dar consultas. Nos últimos meses, voltou a ser procurada. “Agora, faço por dia de três a quatro mapas astrais por meio do tarô que criei”, conta. A astrologia, é claro, também compôs uma tabela com 72 anjos, divididos em 12 signos, sendo seis para cada signo.
A nova era angelical propõe um novo jeito de invocar os anjos. O contato agora está pouco ritualizado e menos regido por regras, como era na década de 1990, quando houve a chamada primeira onda angelical. Muito do que foi produzido sobre o assunto àquela época tinha como objetivo mecanizar a comunicação com esses seres, por meio da repetição de palavras, por exemplo, ou a utilização de velas e incensos para canalizá-los. “Hoje a conversa parte de um mergulho que cada um faz na própria consciência”, diz a especialista Liane Alves. Em seu curso, ela faz reuniões com até sete pessoas, onde há a leitura da obra “Diálogo com os Anjos”, escrita pela húngara Gitta Mallasz durante a Segunda Guerra Mundial, que deve se tornar um documentário dirigido pela atriz francesa Juliette Binoche, uma adepta dos anjos.
“O êxtase de Maria Madalena”, de Peter Paul Rubens (1619).
Maria Madalena, em êxtase, é amparada por anjos
Gitta e um grupo de três amigos se refugiaram em uma pequena cidade
do interior da Hungria. Enquanto os exércitos de Hitler marchavam pelo
país, os quatro jovens começaram a buscar respostas interiores sobre o
que tinham a ver com todo aquele horror. Foram 17 meses de retiro,
durante os quais Gitta elaborou o conteúdo do livro – usado como uma
espécie de guia de perguntas para se estabelecer o diálogo com o anjo.
Relançado no Brasil há seis meses, vendeu 4,1 mil exemplares. “Durante
esses encontros, as pessoas buscam as passagens que as tocam, que têm a
ver com o momento que elas estão vivendo”, diz Liane. Essas pequenas
frases servem como uma espécie de caminho para o diálogo com o anjo. Ele
pode ocorrer por meio de uma lembrança de infância ou de algo que chama
a atenção. O importante, diz Liane, é estar atento para essas mensagens
que vêm sob a forma de insights em que a pessoa consegue vislumbrar
respostas para os problemas pelos quais está passando. Recebida essa
espécie de sinal, o passo seguinte é dar uma resposta por meio de um
ato, simbólico ou concreto.
De acordo com os especialistas, os anjos dessa chamada Nova Era são mais humanizados, estão próximos das pessoas e, portanto, mais acessíveis. Os rituais de invocação são mais livres e diversos. “Pouco há em comum com o que se via nas décadas passadas, mas prevalece a necessidade da meditação”, explica Sônia Café, autora do livro “Meditando com os Anjos”. Segundo diversos especialistas ouvidos por ISTOÉ, não existe uma única forma de se estabelecer contato com os anjos. A invocação, segundo eles, pode variar de pessoa para pessoa, de crença para crença, mas há um primeiro passo a ser seguido comum às diversas correntes: a manutenção do silêncio. “A mente precisa estar distante de qualquer pensamento para que a pessoa estabeleça uma sintonia com os anjos, que permita uma clareza de consciência”, diz Sônia.
Assim como a maneira de interpretar e encarar os anjos e a forma de se estabelecer uma conexão com eles muda de tempos em tempos, também são diferentes os motivos que levam as pessoas a buscar esse contato. “A humanidade está mais confusa do que nunca e os anjos são canais de comunicação com o conforto divino”, avalia Mirna Grzich, autora de “Anjos”, livro que vendeu mais de 20 mil exemplares apenas em 2011. “Hoje vivemos o que os filósofos e os antropólogos vêm chamando de cansaço da razão”, diz o padre Márcio Fabri, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e professor de moral e ética cristã. Segundo ele, as atuais gerações cresceram sob o domínio dos entusiastas da razão, com a promessa de que o progresso da ciência faria tudo ficar melhor. “O problema é que, apesar de toda a evolução, percebemos que ainda temos que conviver com a doença, a maldade, a privação e o desamor”, afirma Fabri. A nova era de apelo aos anjos, de acordo com o padre, se baseia nessa frustração. “Aqueles que se desencantam com a razão carregam uma vontade quase incontrolável de se reencantar por alguma coisa”, complementa Luiz Alexandre Solano Rossi, doutor em ciências da religião pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). É nessa busca de explicações e conforto que as pessoas acabam mergulhando no mercado religioso. Nesse sentido, os anjos ganham visibilidade ainda maior, pois são aceitos e cultuados pela maioria das religiões tradicionais, como católica, protestante, judaica e muçulmana, embora nenhuma delas admita oficialmente uma versão mais moderna de seus anjos. “A existência desses seres espirituais não corporais, alguns servidores e mensageiros de Deus e outros de Satanás é uma verdade de fé”, afirma o padre Valdeir dos Santos Goulart, assessor e membro do secretariado-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
O poder dos anjos
Redescobertos por pessoas de diversos credos, ganham uma face mais humana e se tornam um novo fenômeno de mercado
João Loes
Assista ao vídeo:
Um dos destaques desta edição de ISTOÉ
é a reportagem de capa sobre anjos. Assista ao vídeo com o repórter
João Loes e descubra quais são as perguntas mais comuns feitas a
respeito desses seres celestiais
“O sonho de São José”, de Francesco Solimena (1754).
Em sonho, anjo alerta José da fúria de Herodes, que quer matar Jesus
O fenômeno envolve gente de todos os
credos e religiões, promove uma espécie de sincretismo e produz campeões
de vendas. A inglesa Hazel Raven, por exemplo, já vendeu mais de três
milhões de exemplares de sua obra “A Bíblia dos Anjos”, em que explora
justamente a receita da mistura de várias linhas místicas aos poderes
desses ajudantes celestiais. No livro, ela utiliza fontes respeitadas de
informação em várias correntes religiosas e místicas e elabora uma
espécie de hierarquia dos anjos (leia quadro na pág. 87). Trata também
de como eles possuem papel relevante nos ensinamentos e práticas nos
mais diversos cultos.
“Como filão na área do misticismo e esoterismo, pouca coisa é tão promissora quanto a retomada dos anjos”, afirma Arlete Genari, gerente editorial da Editora Madras, que lançou três novos títulos do gênero em 2011. “A volta do interesse por eles proporciona uma espécie de remix da angeologia”, diz o historiador Adilson Silva Ramachandra, editor do Grupo Editorial Pensamento-Cultrix, que tem 35 livros sobre o tema em seu catálogo e estuda reeditar alguns dos clássicos que foram sucesso de vendas nos anos 1990, na chamada primeira onda angelical. Por remix entenda-se essa adaptação de diversas áreas ao novo filão dos anjos. Até mesmo adeptos de práticas já consagradas recorrem a eles em busca de renovação e diferenciação em seus mercados. Em São Paulo, por exemplo, há academias de ioga que incorporaram os anjos às suas rotinas de exercícios e meditação. Pela ioga, o anjo pode ser invocado com movimentos que ativam diferentes centros de energia do corpo. “Essencialmente, com a meditação e a ioga que propomos, queremos que as pessoas se tornem anjos”, afirma Ivana Tamagaya, professora da sede nacional da Organização Brahma Kumaris Brasil.
“Como filão na área do misticismo e esoterismo, pouca coisa é tão promissora quanto a retomada dos anjos”, afirma Arlete Genari, gerente editorial da Editora Madras, que lançou três novos títulos do gênero em 2011. “A volta do interesse por eles proporciona uma espécie de remix da angeologia”, diz o historiador Adilson Silva Ramachandra, editor do Grupo Editorial Pensamento-Cultrix, que tem 35 livros sobre o tema em seu catálogo e estuda reeditar alguns dos clássicos que foram sucesso de vendas nos anos 1990, na chamada primeira onda angelical. Por remix entenda-se essa adaptação de diversas áreas ao novo filão dos anjos. Até mesmo adeptos de práticas já consagradas recorrem a eles em busca de renovação e diferenciação em seus mercados. Em São Paulo, por exemplo, há academias de ioga que incorporaram os anjos às suas rotinas de exercícios e meditação. Pela ioga, o anjo pode ser invocado com movimentos que ativam diferentes centros de energia do corpo. “Essencialmente, com a meditação e a ioga que propomos, queremos que as pessoas se tornem anjos”, afirma Ivana Tamagaya, professora da sede nacional da Organização Brahma Kumaris Brasil.
“Miguel Arcanjo”, de Luca Giordano (1663).
São Miguel Arcanjo pisa nos anjos caídos de Satanás em representação barroca
Outro fenômeno de nossos tempos, a cabala, lado místico do judaísmo que angaria um número cada vez maior de adeptos, também resolveu temperar sua filosofia com os anjos. O valor numérico da palavra anjo, em hebraico, representa “um canal”. E é nesse sentido que a cabala vê o anjo: uma forma de canalizar a energia positiva. Uma das maneiras de invocar os anjos é pelos 72 nomes de Deus. A pessoa repete os nomes e os anjos ajudam a alcançar o objetivo. Cada um corresponderia a uma intercessão divina: cura, amor, pujança, etc. Yonatan Shani, representante do Kabbalah Centre no Brasil, afirma ter vivido uma experiência angelical quando morava nos Estados Unidos. Certa vez, chegando a um consultório médico, ele viu um homem se aproximar com uma arma. “Primeiro pensei em como fugir, mas vi que não tinha jeito”, diz Shani. Então, ele começou a meditar e a pensar nos 72 nomes de Deus. “O homem chegou a 50 centímetros de mim, com a arma engatilhada e apontada. Parou, olhou no meu olho, colocou a mão no meu ombro e disse: ‘Me desculpa, não sei o que deu em mim.’” O rabino tem certeza de que foi seu anjo da guarda que o salvou.
Os anjos cultuados e invocados nesta Nova Era têm pouco a ver com os relatados nas histórias do Novo Testamento. Aqueles estavam muito distantes e perderam o apelo por se apresentarem em situações identificadas com um tempo que já não existe mais. Mesmo assim, as correntes esotéricas e místicas costumam fazer associações com os tradicionais arcanjos católicos presentes nos afrescos. Na astronomia, Miguel é o Sol e Gabriel a Lua. No terreno dos cristais, o primeiro vira lápis-lazuli e o segundo Danburita. Já na cromoterapia, técnica que utiliza cores na cura das doenças, Miguel é o “raio azul-safira”, recomendado para aumentar a capacidade de comunicação e o desapego dos problemas mundanos, e Gabriel o “raio laranja”, para amenizar o estresse gerado por perdas e medos e estimular a criatividade e o otimismo. Até o hinduísmo entrou na onda – segundo ele, o primeiro representaria o chakra da garganta e o segundo seria o do sacro. Há também os óleos essenciais, as estações do ano... Cada arcanjo tradicional é associado a algum elemento. Basta a pessoa saber qual seu anjo correspondente e adquirir, no mercado esotérico, o produto correto.
“A ascensão”, de Andreas Herman Hunaeus (1840).
Durante a ascensão de Cristo, os apóstolos testemunham o trabalho dos anjos
O resgate dos anjos trouxe à tona personagens que viveram o boom desse mercado nos anos 1990 e depois entraram numa espécie de ostracismo. Mônica Buonfiglio é o caso mais notório. Há cerca de duas décadas criou o Tarô dos Anjos, transformado em livro que vendeu nada menos que 2,5 milhões de cópias. Quando o fenômento esfriou, ela deixou até de dar consultas. Nos últimos meses, voltou a ser procurada. “Agora, faço por dia de três a quatro mapas astrais por meio do tarô que criei”, conta. A astrologia, é claro, também compôs uma tabela com 72 anjos, divididos em 12 signos, sendo seis para cada signo.
A nova era angelical propõe um novo jeito de invocar os anjos. O contato agora está pouco ritualizado e menos regido por regras, como era na década de 1990, quando houve a chamada primeira onda angelical. Muito do que foi produzido sobre o assunto àquela época tinha como objetivo mecanizar a comunicação com esses seres, por meio da repetição de palavras, por exemplo, ou a utilização de velas e incensos para canalizá-los. “Hoje a conversa parte de um mergulho que cada um faz na própria consciência”, diz a especialista Liane Alves. Em seu curso, ela faz reuniões com até sete pessoas, onde há a leitura da obra “Diálogo com os Anjos”, escrita pela húngara Gitta Mallasz durante a Segunda Guerra Mundial, que deve se tornar um documentário dirigido pela atriz francesa Juliette Binoche, uma adepta dos anjos.
“O êxtase de Maria Madalena”, de Peter Paul Rubens (1619).
Maria Madalena, em êxtase, é amparada por anjos
De acordo com os especialistas, os anjos dessa chamada Nova Era são mais humanizados, estão próximos das pessoas e, portanto, mais acessíveis. Os rituais de invocação são mais livres e diversos. “Pouco há em comum com o que se via nas décadas passadas, mas prevalece a necessidade da meditação”, explica Sônia Café, autora do livro “Meditando com os Anjos”. Segundo diversos especialistas ouvidos por ISTOÉ, não existe uma única forma de se estabelecer contato com os anjos. A invocação, segundo eles, pode variar de pessoa para pessoa, de crença para crença, mas há um primeiro passo a ser seguido comum às diversas correntes: a manutenção do silêncio. “A mente precisa estar distante de qualquer pensamento para que a pessoa estabeleça uma sintonia com os anjos, que permita uma clareza de consciência”, diz Sônia.
Assim como a maneira de interpretar e encarar os anjos e a forma de se estabelecer uma conexão com eles muda de tempos em tempos, também são diferentes os motivos que levam as pessoas a buscar esse contato. “A humanidade está mais confusa do que nunca e os anjos são canais de comunicação com o conforto divino”, avalia Mirna Grzich, autora de “Anjos”, livro que vendeu mais de 20 mil exemplares apenas em 2011. “Hoje vivemos o que os filósofos e os antropólogos vêm chamando de cansaço da razão”, diz o padre Márcio Fabri, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e professor de moral e ética cristã. Segundo ele, as atuais gerações cresceram sob o domínio dos entusiastas da razão, com a promessa de que o progresso da ciência faria tudo ficar melhor. “O problema é que, apesar de toda a evolução, percebemos que ainda temos que conviver com a doença, a maldade, a privação e o desamor”, afirma Fabri. A nova era de apelo aos anjos, de acordo com o padre, se baseia nessa frustração. “Aqueles que se desencantam com a razão carregam uma vontade quase incontrolável de se reencantar por alguma coisa”, complementa Luiz Alexandre Solano Rossi, doutor em ciências da religião pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). É nessa busca de explicações e conforto que as pessoas acabam mergulhando no mercado religioso. Nesse sentido, os anjos ganham visibilidade ainda maior, pois são aceitos e cultuados pela maioria das religiões tradicionais, como católica, protestante, judaica e muçulmana, embora nenhuma delas admita oficialmente uma versão mais moderna de seus anjos. “A existência desses seres espirituais não corporais, alguns servidores e mensageiros de Deus e outros de Satanás é uma verdade de fé”, afirma o padre Valdeir dos Santos Goulart, assessor e membro do secretariado-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
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