N° Edição: 2197
| 16.Dez.11 - 21:00
| Atualizado em 17.Dez.11 - 07:33
ESTADISTA: A ex-primeira-ministra do Reino Unido (esquerda) reverteu o declínio econômico do país
TECNOCRATA: A chanceler da Alemanha investe em fórmula clássica para combater a crise
PARCERIAS
Margaret Thatcher com Ronald Reagan no jardim da Casa
Branca (acima) e Angela Merkel com Nicolas Sarkozy na França
Ao contrário da chanceler alemã, a ex-primeira-ministra do Reino
Unido era dona de grande capacidade de mobilização, influenciando até
mesmo os adversários. Não por acaso, durante a era Thatcher o Partido
Trabalhista radicalizou sua posição quanto ao aumento da intervenção do
Estado na economia. A Dama de Ferro, por sua vez, manteve a trajetória
que traçou para salvar a economia – cortou impostos, privatizou
estatais, afrouxou as regras do setor financeiro e, na sequência, atraiu
investimentos. Nos embates externos, ela também não titubeou. Em 1982,
quando o general-presidente Leopoldo Galtieri, da Argentina, ocupou pela
força as Ilhas Malvinas, no Atlântico Sul, Margaret Thatcher despachou
27 mil homens para o território. “Derrota é uma possibilidade que não
existe”, disse, parafraseando a rainha Vitória.
Com posicionamentos tão distintos, Angela Merkel e Margaret Thatcher têm também pontos em comum na trajetória. Um deles é preferir trabalhar com homens e estabelecer uma parceria marcante com repercussões na geopolítica mundial. No caso da Dama de Ferro, a afinidade foi com o então presidente americano Ronald Reagan, que certa vez chegou a declarar que ela “tinha olhos de Calígula e lábios de Marilyn Monroe”. Na tentativa sem rumo de salvar a União Europeia, Angela Merkel se aliou de tal forma ao presidente da França, Nicolas Sarkozy, que a dupla ganhou o epíteto Merkozy (que ela detesta). Ambas também tiveram a figura paterna como principal referência durante a sua formação, foram estudantes brilhantes e começaram a trajetória como cientistas.
ESTRELA
A atriz Meryl Streep interpreta Margaret Thatcher no filme “A Dama de Ferro”
Nascida em Hamburgo, Angela Merkel mudou-se com apenas 3 anos para a
Alemanha Oriental, onde o pai, pastor luterano, assumiu uma paróquia.
Doutorada em física quântica, ela trabalhava como pesquisadora quando o
muro de Berlim foi derrubado. Com a reunificação da Alemanha, em 1990,
entrou para o Partido Democrata Cristão, mas ainda vive na parte
oriental de Berlim. Já Margaret Thatcher nasceu em Grantham, na
Inglaterra, cidade na qual o pai era comerciante e pregador metodista.
Após formar-se em química em Oxford, ela começou a trabalhar em Essex,
estudou direito tributário e ganhou sua primeira eleição – para a Câmara
dos Comuns, pelo Partido Conservador. Hoje, com 86 anos, Margaret
Thatcher vive reclusa, devido a problemas de saúde. Sua trajetória
chegará em breve aos cinemas, com o filme “A Dama de Ferro”, estrelado
por Meryl Streep, que acaba de ser indicada como melhor atriz para o
Globo de Ouro, a premiação que costuma direcionar o Oscar. Com uma
sucessão de desafios pela frente, Angela Merkel pode até reverter o
atual cenário e no futuro se tornar uma estadista como Margaret
Thatcher. Hoje, no entanto, é difícil imaginá-la como personagem de uma
superprodução cotada para o Oscar.
A dama de ferro...e a dama sem rumo
A Europa em crise sonha com Margaret Thatcher enquanto é paralisada pela liderança hesitante de Angela Merkel
Luiza VillaméaESTADISTA: A ex-primeira-ministra do Reino Unido (esquerda) reverteu o declínio econômico do país
TECNOCRATA: A chanceler da Alemanha investe em fórmula clássica para combater a crise
Quando Margaret Thatcher chegou ao número
10 da Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro em
Londres, o Reino Unido contabilizava a cada ano 29,5 milhões de jornadas
de trabalho perdidas por causa de greves. Sete anos depois, as perdas
haviam baixado para 1,9 milhão de jornadas/ano, levando em conta o
número de trabalhadores parados. “Assim que assumiu como
primeira-ministra, Margareth Thatcher começou a brigar”, lembra o
biógrafo Charles Moore. Com o país em declínio econômico, ela não
hesitou em adotar medidas impopulares, a começar por enfraquecer o poder
dos sindicatos. Colecionou críticos, ganhou fama como a Dama de Ferro,
mas reverteu a situação econômica com postura de estadista. Três décadas
depois, com a crise econômica incendiando a Europa inteira, Margaret
Thatcher vem sendo lembrada mais do que nunca. Principalmente porque na
atual temporada de incertezas que atinge a União Europeia é outra dama –
muito diferente da baronesa Margaret Thatcher – que tem a tarefa de
encontrar saídas. A protagonista agora é a vacilante chanceler alemã
Angela Merkel.
Com uma receita clássica para combater a crise – que não vai além da contenção de despesas e do ajuste fiscal –, Angela Merkel é alvo de críticas pela postura tecnocrata e demora em tomar decisões. Dona de pouco carisma e sem desenvoltura para se expressar, a chanceler parece seguir uma regra imobilizadora: na dúvida, siga o protocolo. Acaba ficando sem rumo. Preocupada em equacionar os problemas do seu próprio país, ela insiste apenas em expandir para a União Europeia o modelo alemão de seguir a lei e ser cauteloso com os déficits e os gastos. Embora não faltem alertas sobre a necessidade de incrementar as economias da Espanha, Grécia, Itália e Portugal, para salvar a zona do euro, Angela Merkel não tenta nenhuma alternativa nesse sentido. O mantra contenção-ajuste foi repetido até no momento da maior festa dos conservadores espanhóis em 30 anos. Logo após a vitória de Mariano Rojoy nas eleições presidenciais, a chanceler despachou um telegrama para a Espanha convocando os novos governantes a atuar rápido para diminuir a dívida do país.
Ambas conservadoras clássicas, Angela Merkel e Margaret Thatcher representam, no entanto, duas faces distintas desse campo político. As receitas da alemã são apenas contencionistas e não permitem uma visão de futuro para a economia do continente. Já Margaret Thatcher foi essencialmente mobilizadora. Ela deu aos investidores britânicos uma confiança que eles não tinham desde a rainha Vitória, quase um século antes, e assim garantiu-lhes um país atraente para o progresso. É o que falta hoje à Europa.
Angela Merkel enfrenta ainda dificuldades para agregar lideranças em torno de suas propostas, o que sinaliza tempos nebulosos no continente. Na semana passada, ela reagiu timidamente ao veto do primeiro-ministro David Cameron, do Reino Unido, a um acordo para reforçar a disciplina fiscal e financeira na União Europeia. “Lamento que o Reino Unido não tenha sido capaz de se unir a esta viagem”, disse a chanceler na quarta-feira 14, no Parlamento alemão, acrescentando que o país continua sendo um “sócio essencial” à União Europeia. O veto de Cameron, por sua vez, foi aprovado por 57% dos britânicos, segundo pesquisa do jornal “Times”, por entenderem que o acordo arquitetado por Angela Merkel só atendia aos interesses dos países da zona do euro. Como não adotou a moeda comum europeia, o Reino Unido não integra a zona do euro.
Com uma receita clássica para combater a crise – que não vai além da contenção de despesas e do ajuste fiscal –, Angela Merkel é alvo de críticas pela postura tecnocrata e demora em tomar decisões. Dona de pouco carisma e sem desenvoltura para se expressar, a chanceler parece seguir uma regra imobilizadora: na dúvida, siga o protocolo. Acaba ficando sem rumo. Preocupada em equacionar os problemas do seu próprio país, ela insiste apenas em expandir para a União Europeia o modelo alemão de seguir a lei e ser cauteloso com os déficits e os gastos. Embora não faltem alertas sobre a necessidade de incrementar as economias da Espanha, Grécia, Itália e Portugal, para salvar a zona do euro, Angela Merkel não tenta nenhuma alternativa nesse sentido. O mantra contenção-ajuste foi repetido até no momento da maior festa dos conservadores espanhóis em 30 anos. Logo após a vitória de Mariano Rojoy nas eleições presidenciais, a chanceler despachou um telegrama para a Espanha convocando os novos governantes a atuar rápido para diminuir a dívida do país.
Ambas conservadoras clássicas, Angela Merkel e Margaret Thatcher representam, no entanto, duas faces distintas desse campo político. As receitas da alemã são apenas contencionistas e não permitem uma visão de futuro para a economia do continente. Já Margaret Thatcher foi essencialmente mobilizadora. Ela deu aos investidores britânicos uma confiança que eles não tinham desde a rainha Vitória, quase um século antes, e assim garantiu-lhes um país atraente para o progresso. É o que falta hoje à Europa.
Angela Merkel enfrenta ainda dificuldades para agregar lideranças em torno de suas propostas, o que sinaliza tempos nebulosos no continente. Na semana passada, ela reagiu timidamente ao veto do primeiro-ministro David Cameron, do Reino Unido, a um acordo para reforçar a disciplina fiscal e financeira na União Europeia. “Lamento que o Reino Unido não tenha sido capaz de se unir a esta viagem”, disse a chanceler na quarta-feira 14, no Parlamento alemão, acrescentando que o país continua sendo um “sócio essencial” à União Europeia. O veto de Cameron, por sua vez, foi aprovado por 57% dos britânicos, segundo pesquisa do jornal “Times”, por entenderem que o acordo arquitetado por Angela Merkel só atendia aos interesses dos países da zona do euro. Como não adotou a moeda comum europeia, o Reino Unido não integra a zona do euro.
PARCERIAS
Margaret Thatcher com Ronald Reagan no jardim da Casa
Branca (acima) e Angela Merkel com Nicolas Sarkozy na França
Com posicionamentos tão distintos, Angela Merkel e Margaret Thatcher têm também pontos em comum na trajetória. Um deles é preferir trabalhar com homens e estabelecer uma parceria marcante com repercussões na geopolítica mundial. No caso da Dama de Ferro, a afinidade foi com o então presidente americano Ronald Reagan, que certa vez chegou a declarar que ela “tinha olhos de Calígula e lábios de Marilyn Monroe”. Na tentativa sem rumo de salvar a União Europeia, Angela Merkel se aliou de tal forma ao presidente da França, Nicolas Sarkozy, que a dupla ganhou o epíteto Merkozy (que ela detesta). Ambas também tiveram a figura paterna como principal referência durante a sua formação, foram estudantes brilhantes e começaram a trajetória como cientistas.
ESTRELA
A atriz Meryl Streep interpreta Margaret Thatcher no filme “A Dama de Ferro”
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