12/04/2013 22h01
- Atualizado em
12/04/2013 22h01
Eu tenho dinheiro e faço tudo que quiser/eu gosto da bagaceira, forró, cachaça e mulher.
A letra é cantada em ritmo de forró pelo sanfoneiro Leo, de chapéu e
botas de vaqueiro. Leo lidera a banda Xenhenhém, uma máquina de produzir
shows e vender produtos. Bebe pra dormir/acorda pra beber/o futuro desses caras/é ver a galha crescer.
Enquanto Leo canta, Pônei toca triângulo e dança fantasiado de boneca.
Seu Madruga toca zabumba com uma cesta de palha na cabeça. No fundo do
palco, mais discretos, o baixista Shrek balança as orelhas de ogro, e o
baterista “3 em 1” veste um elmo viking. Com letras que falam de bebida,
mulheres, dinheiro e – acredite – exames proctológicos, as
apresentações da Xenhenhém fazem sucesso no interior do Piauí. Um de
seus ofícios é tocar em festivais bancados por prefeituras. O público
adora. Os políticos também. O senador Ciro Nogueira, do PP do Piauí,
eleito na semana passada presidente nacional do partido, é um dos mais
entusiasmados fãs da Xenhenhém.
Recentemente, a Controladoria-Geral da União descobriu que políticos como ele se acabam no xote antes mesmo de sair a primeira nota da sanfona de Leo. Dançam agarradinhos ao dinheiro público. A festa começa, como a plateia sempre espera, no Congresso. Em 2010, quando ainda era deputado, Ciro e alguns de seus colegas de bancada do Piauí destinaram suas emendas parlamentares a promover no Estado as festas da Xenhenhém e assemelhadas. Emendas são um instrumento de que os parlamentares dispõem para atender às mais urgentes necessidades de seus constituintes – normalmente por meio de obras, como construção de escolas e hospitais. Ciro e sua turma resolveram gastar esse dinheiro de outro modo. Apresentaram suas emendas ao Ministério do Turismo. A Pasta repassou o dinheiro das emendas a prefeituras piauienses. No papel, o repasse foi feito para “promoção de eventos para divulgação do turismo interno”. O que o “turismo interno” tem a ver com o batuque de Seu Madruga é um mistério que nem Pônei consegue explicar. A CGU detectou todo tipo de irregularidade nas festanças: ausência de licitação, conluio entre empresas, superfaturamento na contratação das bandas – e, por fim, ausência de comprovação de que alguns dos “eventos” de fato existiram.
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Dezoito prefeituras receberam dinheiro das emendas de Ciro e seus
colegas. Ao todo, R$ 2,8 milhões. Segundo a CGU, o dinheiro não apenas
saiu das emendas de Ciro, como foi parar nas contas de empresas ligadas a
ele, todas envolvidas nas fraudes descobertas pelos auditores. O elo
entre Ciro e as irregularidades chama-se Júlio Arcoverde, amigo de Ciro
e, até fevereiro, por indicação dele, diretor do Departamento Nacional
de Trânsito, o Denatran, órgão responsável por definir políticas de
trânsito para o país. Arcoverde e Ciro são tão próximos que já foram
sócios em três empresas. No caso Xenhenhém, quatro empresas de Arcoverde
ganharam dinheiro: elas aparecem em 18 dos 19 contratos considerados
suspeitos pela CGU. Receberam para contratar as bandas e montar a
infraestrutura das festas. A CGU suspeita que as empresas de Arcoverde
foram escolhidas graças a um arrasta-pé político. Certamente, ganharam
mais que o razoável. Numa festa no município de Regeneração, a Xenhenhém
recebeu R$ 24 mil para tocar por três horas sucessos como “Peruca de
corno”, “Toque retal” e “Bebe pra dormir”. Um mês depois, para tocar em
Amarante, a Xenhenhém pediu apenas R$ 6 mil por duas horas e meia de
show. Também em Regeneração, outra banda, a Reprise, recebeu R$ 43.700
pelo show. Mas pediu apenas R$ 12 mil para tocar em Amarante. Somente no
festival de Regeneração, a CGU estima os desvios em R$ 65 mil.
Na hora do bate-coxa com dinheiro público, Ciro sempre puxa Arcoverde juntinho. Entre janeiro de 2011, quando assumiu o mandato de senador, e janeiro deste ano, o gabinete de Ciro pagou R$ 163 mil à Trevo Locadora de Veículos, em Teresina, por “serviços de aluguel de carros”. A Trevo pertence à mulher de Arcoverde. No telefone atribuído à Trevo Locadora, a secretária atende com a frase: “Júlio Arcoverde Corretora de Seguros, boa tarde!”. A outra sócia da Trevo chama-se Lilian Ruth Martins. Lilian aparece como sócia em outra empresa, a Shopping do Automóvel, do próprio Ciro.
“Não sabia (que as empresas de arcoverde foram contratadas com dinheiro das emendas dele). O serviço foi prestado (pela Trevo)”, disse Ciro, dentro do elevador privativo do Senado. Assim que a porta se abriu, Ciro abandonou ÉPOCA no salão. Saiu rapidamente e entrou num carro – oficial, do Senado, não da Trevo Locadora. Em nota enviada depois, Ciro afirma que “não há, nem jamais houve, qualquer questionamento legal sobre os referidos serviços (da locadora de carros Trevo)”. “Sou correligionário de Ciro”, diz Arcoverde. Ele acaba de assumir o comando do PP no Piauí, para preparar a campanha de Ciro ao governo do Estado, no ano que vem. “Ciro não tem nada a ver com isso, viu? A Trevo presta serviço há 15 anos (a Ciro).” O vocalista Leo diz não saber da investigação da CGU nem por que é acusado de ter recebido das prefeituras um cachê gordo demais: “O valor (do cachê) é subjetivo. Prestei os serviços”. Leo e a turma da Xenhenhém sabem apenas que o forró do Ciro vai continuar: No toque da sanfona/o forrozão vai truar/Vem balançar/Remexe o bumbum/lentin, lentin/bote o corpo pra acelerar/pra lá e pra cá. Como o próprio Leo diria: “Arre, égua!”
O forró promovido pelo senador Ciro Nogueira com dinheiro público no Piauí
Em 2010, quando ainda era deputado, Ciro e alguns de seus colegas de bancada destinaram emendas parlamentares a promover no Estado as festas da banda Xenhenhém e assemelhadas
Recentemente, a Controladoria-Geral da União descobriu que políticos como ele se acabam no xote antes mesmo de sair a primeira nota da sanfona de Leo. Dançam agarradinhos ao dinheiro público. A festa começa, como a plateia sempre espera, no Congresso. Em 2010, quando ainda era deputado, Ciro e alguns de seus colegas de bancada do Piauí destinaram suas emendas parlamentares a promover no Estado as festas da Xenhenhém e assemelhadas. Emendas são um instrumento de que os parlamentares dispõem para atender às mais urgentes necessidades de seus constituintes – normalmente por meio de obras, como construção de escolas e hospitais. Ciro e sua turma resolveram gastar esse dinheiro de outro modo. Apresentaram suas emendas ao Ministério do Turismo. A Pasta repassou o dinheiro das emendas a prefeituras piauienses. No papel, o repasse foi feito para “promoção de eventos para divulgação do turismo interno”. O que o “turismo interno” tem a ver com o batuque de Seu Madruga é um mistério que nem Pônei consegue explicar. A CGU detectou todo tipo de irregularidade nas festanças: ausência de licitação, conluio entre empresas, superfaturamento na contratação das bandas – e, por fim, ausência de comprovação de que alguns dos “eventos” de fato existiram.
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Na hora do bate-coxa com dinheiro público, Ciro sempre puxa Arcoverde juntinho. Entre janeiro de 2011, quando assumiu o mandato de senador, e janeiro deste ano, o gabinete de Ciro pagou R$ 163 mil à Trevo Locadora de Veículos, em Teresina, por “serviços de aluguel de carros”. A Trevo pertence à mulher de Arcoverde. No telefone atribuído à Trevo Locadora, a secretária atende com a frase: “Júlio Arcoverde Corretora de Seguros, boa tarde!”. A outra sócia da Trevo chama-se Lilian Ruth Martins. Lilian aparece como sócia em outra empresa, a Shopping do Automóvel, do próprio Ciro.
“Não sabia (que as empresas de arcoverde foram contratadas com dinheiro das emendas dele). O serviço foi prestado (pela Trevo)”, disse Ciro, dentro do elevador privativo do Senado. Assim que a porta se abriu, Ciro abandonou ÉPOCA no salão. Saiu rapidamente e entrou num carro – oficial, do Senado, não da Trevo Locadora. Em nota enviada depois, Ciro afirma que “não há, nem jamais houve, qualquer questionamento legal sobre os referidos serviços (da locadora de carros Trevo)”. “Sou correligionário de Ciro”, diz Arcoverde. Ele acaba de assumir o comando do PP no Piauí, para preparar a campanha de Ciro ao governo do Estado, no ano que vem. “Ciro não tem nada a ver com isso, viu? A Trevo presta serviço há 15 anos (a Ciro).” O vocalista Leo diz não saber da investigação da CGU nem por que é acusado de ter recebido das prefeituras um cachê gordo demais: “O valor (do cachê) é subjetivo. Prestei os serviços”. Leo e a turma da Xenhenhém sabem apenas que o forró do Ciro vai continuar: No toque da sanfona/o forrozão vai truar/Vem balançar/Remexe o bumbum/lentin, lentin/bote o corpo pra acelerar/pra lá e pra cá. Como o próprio Leo diria: “Arre, égua!”
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