MPF pede suspensão de atividades nas usinas do Madeira por causa da cheia
Processo
acusa empresas gestoras de contribuir para situação de vítimas da
enchente, e vai pedir reparação coletiva no valor de R$ 100 milhões
Município de Humaitá, a 590 km de Manaus, é um dos mais afetados pela cheia histórica do Rio Madeira
O
Ministério Público Federal abriu um processo civil para a suspensão da
operação das atividades das hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no rio
Madeira, que atravessa cheia histórica e deixou milhares de
desabrigados. Ao mesmo tempo, o prefeito de Canutama (a 619 km de
Manaus), Ocivaldo Amorim, manifestou apreensão com a possibilidade da
usina de Santo Antônio atingir a capacidade máxima, o que pode provocar a
inundação de 50 a 70% do município.
O
processo foi aberto em conjunto com o Ministério Público do Estado
(MP/RO), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RO), Defensoria Pública da
União e a Defensoria Pública de Rondônia e pede que o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
suspenda imediatamente as licenças das usinas, “até que novos estudos
sobre os impactos das barragens sejam feitos”.
Além
do Ibama, as empresas Energia Sustentável do Brasil (Usina de Jirau) e a
Santo Antônio Energia (Usina de Santo Antônio) são citadas no processo,
que quer que todos os réus compensem o dano moral coletivo, estimado em
100 milhões de reais. O dinheiro será revertido para as vítimas das
enchentes e reconstrução de suas casas, afirma o processo.
Representantes das companhias não puderam ser contatados de imediato.
“As
instituições pedem que a Justiça Federal obrigue as hidrelétricas a
atender imediatamente as necessidades básicas de parte da população
atingida pela enchente do rio Madeira, enquanto durar a situação de
emergência e até que haja uma decisão definitiva sobre a compensação,
indenização ou realojamento”, afirma o MP em nota à imprensa.
Segundo
a Agência Brasil, a cheia do rio fez o governo boliviano cobrar
explicações do Brasil sobre uma suposta influência das hidrelétricas de
Santo Antônio e Jirau nas inundações que ocorrem na parte boliviana da
Amazônia.
O
chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, vai se reunir em 7 de
abril com o ministro das Relações Exteriores da Bolívia, David
Choquehuanca, para uma visita bilateral ampla, na qual o tema da
influência das hidrelétricas na cheia do rio Madeira poderá ser
discutido, segundo a agência.
Na
semana passada, a hidrelétrica Santo Antônio foi totalmente desligada
em consequência do nível elevado do rio. O Operador Nacional do Sistema
(ONS) elétrico do Brasil determinou o rebaixamento do reservatório de
Santo Antônio para evitar que, diante da cheia, estruturas provisórias
da construção da hidrelétrica Jirau, a outra usina do rio Madeira,
fossem afetadas.
Apreensão em Canutama
Pelo
menos quatro municípios do Sul do Amazonas estão sofrendo impactos
ambientais ocasionados pela construção da usina hidrelétrica de Santo
Antônio. A informação é do prefeito do município de Canutama, Ocivaldo
Amorim, que afirma que 2% dessa região já está alagada. Segundo o
prefeito, de 50% a 70% das zonas urbana e rural, respectivamente, irão
inundar quando a usina atingir capacidade máxima de operação.
A
implantação da hidrelétrica, iniciada em 2008, trouxe dois problemas: o
alargamento do rio, em virtude da elevação do lençol freático, e, em
consequência, a inundação de parte do território do estado do
Amazonas. Em agosto de 2013, o deputado estadual Sidney Leite (PROS) já
havia denunciado o caso na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado
do Amazonas (ALE-AM). Segundo o parlamentar, nas terras do território
amazonense a represa deixou áreas alagadas, gerando também impactos
sociais.
Leite
esteve na região acompanhado do prefeito Amorim e da secretária de
estado de Desenvolvimento Sustentável, Kamila Amaral. A equipe visitou
áreas antes ocupadas apenas por pequenos igarapés, que hoje formam
imensas áreas alagadas e com a vegetação morta. O município de Canutama
se encontra em situação de emergência por conta da cheia do rio.
Para
o deputado, a questão dos limites territoriais é outro ponto que
precisa ser melhor esclarecido, uma vez que o consórcio responsável
pelas obras da usina afirma que o território alagado pelo Madeira
pertence a Rondônia, mas a população que reside nos assentamentos dessa
região é considerada amazonense, atendida por políticas públicas do
Amazonas.
Com
base nesses impasses, o parlamentar irá entrar com quatro pedidos de
providências junto ao Ministério Público Estadual (MPE), Secretaria de
Estado de Política Fundiária (SPF), Procuradoria Geral do Estado (PGE) e
a Casa Civil.
Amorim
também irá propor uma audiência envolvendo a Secretaria de Defesa
Sustentável (SDS) e o Instituto de Proteção da Amazônia (IPAAM), para
discutir a realidade da região. “É preciso que os técnicos do IPAAM
venham aqui, umas vez que a administração de Santo Antônio nega que haja
interferência da usina quanto ao nível das águas do rio Madeira”,
comentou.
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