09/10/2011
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07h36
Para Tombini, que chegou a prever que o ponto mais alto da inflação em 2011 seria em agosto, nem mesmo uma piora no cenário externo muda sua previsão. "Não. Estamos acompanhando isso. Temos coletas diárias e elas estão vindo, na margem, entre 0,30% e 0,40%", contra uma taxa mensal no mês passado de 0,53% e de 0,75% em outubro do ano passado.
Inflação sobe 7,31% em 12 meses; maior resultado desde 2005
'Ajuste moderado' nos juros ainda é compatível com inflação, diz BC
Em entrevista à Folha, na sede do banco em São Paulo, Tombini tratou ainda de embates que tem protagonizado, incluindo as acusações de que o BC, sob sua administração, se tornou mais imprevisível, assumiu mais riscos e está mais moderado no combate à inflação.
Essa postura lhe rendeu o apelido de "pombini" no mercado financeiro -- referência ao jargão que classifica de "pombo" banqueiros centrais adeptos de uma política monetária mais suave no combate à inflação.
"Se é essa a avaliação, eu estou muito bem acompanhado no mundo hoje em dia", rebate Tombini, que acredita ter sido convidado pela presidente Dilma por ter "afinidades" com ela.
Ele diz ainda que o BC não pode adotar uma política de ser imprevisível e que, no curto prazo, o país não pode ter uma meta de inflação abaixo de 4,5%.
Presidente engresso do quadro de funcionários do banco, ele espera terminar seu mandato com inflação na meta de 4,5% e um crescimento sustentável para o país, que ele calcula estar hoje entre 4,5% e 5%.
A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha na última sexta-feira, quando voltou a afirmar que o banco seguirá nos "ajustes moderados" nas taxas de juros.
Folha - O BC está aceitando mais inflação para não sacrificar crescimento. Isso não vai contra os princípios do sistema de metas?
Alexandre Tombini - O BC nunca falou que inflação maior no curto prazo seria necessária para evitar que a economia deixasse de crescer. O BC tem por princípio que o dilema inflação versus crescimento é um falso dilema. Você não cresce mais porque tem mais inflação. O que ocorreu no mundo é que a inflação subiu em todos os países. É um fenômeno disseminado. O que dissemos em março deste ano foi que prevíamos inflação no centro da meta em dezembro de 2012.
Então o mundo todo está tolerando mais inflação?
Não é questão de tolerar. A inflação subiu e sabemos muito bem que a política monetária age do lado da demanda. Tivemos no mundo inteiro um choque de oferta: as commodities (alimentos, petróleo), a primavera árabe, todas as questões da África e do oriente médio e o preço da energia subindo bastante. Com choque de oferta negativo, os BCs reagem a isso. O BC do Brasil foi um dos que mais reagiu. Não é questão de tolerar mais inflação.
O BC então fez uma adaptação do sistema de metas e passou a olhar 12 meses à frente e não o ano calendário?
O BC, dentro do regime, sem fazer qualquer ajuste, definiu como ponta de ancoragem dezembro de 2012.
Mesmo sabendo que pode estourar a meta em 2011, o BC mira 2012, isso não é uma ajuste?
O regime não mudou. Se mudasse, teríamos alterado a meta desse ano e não alteramos.
Quanto o sr. teme ter que escrever essa carta?
No relatório de inflação colocamos 45% de probabilidade disso ocorrer.
Não é um percentual elevado?
A nossa perspectiva é de redução da inflação, passando abaixo do teto da meta com 55% de probabilidade. A inflação está no pico, 7,31% ao ano, e vai cair até maio do ano que vem em dois pontos de percentagem. Já trabalhamos com inflação mais na faixa de 5% ao ano. Todo o mundo tem inflação caindo. Teremos inflação abaixo do teto [em 2011]. Se os outros 45% se materializarem, a inflação passará ligeiramente acima do teto, mas com perspectiva de redução.
Qual o custo econômico e político de ultrapassar o teto da meta em 2011?
A expectativa do mercado está em 6,52%, ligeiramente acima do teto de 6,5%. Isso já tem repercutido. O regime está preparado para essas questões. Dos países que seguem o sistema de metas de inflação, várias economias (Inglaterra, Nova Zelândia e outras) estão com inflação acima da banda ou acima da meta. Temos uma situação global e pode-se dizer que o Brasil não é um caso isolado de ter que lidar nesse momento com inflação mais elevada.
O dólar mais alto não comprometerá o cenário?
O movimento do dólar contra o real não vem desacompanhado. Mas tudo isso é muito recente, muito novo. O que sabemos é que a volatilidade é grande nesse período. Há turbulência no cenário internacional. E sabemos também que a economia global vai crescer pouco por um período prolongado em função da naturaza do problema, que é de confiança e tem a ver com o peso da dívida pública que tem que ser dissipado.
Ao reduzir os juros em sua última reunião, o BC ousou, fez uma aposta?
O BC não faz aposta. Quem faz aposta são os agentes de mercado. O BC tem um plano de voo. Desde o início do ano, nosso plano de voo, junto com outras políticas, era moderar o crescimento da economia brasileira. Há sinais cada vez mais nítidos de que essa moderação veio. Mas dissemos também que a política monetária atua com defasagem e que, no segundo semestre, a ação dessas políticas seria mais fortemente sentida. Isso vem ocorrendo. Nossa projeção era de crescimento de 4% [para 2011] até o relatório da semana passada. Em função da revisão dramática que houve no crescimento dos EUA, na zona do euro, no mês de agosto revisamos esse crescimento da economia brasileira para 3,5%.
O sr. chegou a prever o pico da inflação inicialmente para agosto, agora passou para setembro, com o IPCA atingindo 0,53%. Não teme que isso seja transferido para outubro?
De jeito nenhum. A inflação de outubro do ano passado foi de 0,75%. O Focus [estimativas do mercado] está com previsão de 0,48% [para outubro deste ano].
Então, a partir de agora a inflação começará a cair. Não há nenhum advento externo que possa mudar isso?
Não. Estamos acompanhando isso. Temos coletas diárias e elas estão vindo, na margem, entre 0,30% e 0,40% de inflação. Nossa perspectiva será um pouco mais alta do que isso, mas comparado com 0,75% de outubro do ano passado, são quase 0,30 ponto de baixa. Nosso horizonte é dezembro de 2012, mas em outubro a inflação em doze meses vai começar a recuar em 0,30 ponto, um pouco mais ou um pouco menos.
O BC reduziu para 3,5% a previsão de crescimento para 2011. O ministro Guido Mantega (Fazenda) e a presidente Dilma continuam trabalhando com 4%. Quem está mais otimista ou pessimista? Porque essa diferença?
O BC tem as suas premissas. Nossas previsões de crescimento são mais imprecisas do que as demais projeções, mas são as melhroes que temos internamente e divulgamos. O BC trabalha com autonomia nas suas avaliações, análises, nas suas decisões.
O sr. voltou a falar dos ajustes moderados na taxa de juros. Ajuste de 0,5 ponto percentual é moderado?
Não vou falar em níveis, mas comunicamos na decisão de agosto, quando reduzimos a taxa básica de 12,5% para 12% ao ano, que ajustes moderados seriam consistentes com a convergência da inflação para a meta de 2012. Essa visão de agosto, que foi o que levou o Copom a fazer o ajuste na política, continua válida.
O BC está com problema de comunicação com o mercado ou há má vontade com sua gestão?
Comunicação sempre pode melhorar. Acho que o BC tem um nível de comunicação bastante forte. Agora, é um processo que pode sempre melhorar.
A reclamação do mercado é que o BC de Tombini é mais imprevisível do que os anteriores. Como o sr avalia isso?
O BC não pode adotar uma política de ser imprevisível. A previsibilidade tem ganhos. Naturalmente, quando há muita volatilidade, muita incerteza, é natural que ocorram diferenças. Não é anormal que ocorra isso. Temos que botar nessa nessa conta o peso da maior volatilidade. Várias coisas mudaram. Hoje temos bancos centrais com inflação de 2,5% a 3% e taxa de juros de 1,5%, que estão usando instrumentos não convencionais para tentar restabelecer a normalidade dos mercados.
Quando o sr. acha que chegaremos a um juro de 9% ao ano como chegaram a prever ministros?
Temos meta de inflação, não de juros.
Declarações da presidente Dilma e do ministro Guido Mantega na véspera da decisão do Copom de cortar os juros criaram a impressão de interferência política. Até que ponto essas declarações prejudicam o trabalho do Banco Central?
O importante em relação ao tema é que o Banco Central trabalha com autonomia. Desde quando fui convidado pela presidente Dilma, em novembro do ano passado para assumir o BC, sempre trabalhei com essa premissa.
Como é sua relação com a presidente Dilma?
O presidente do Banco Central é ministro de Estado. Portanto e, principalmente em momentos de grande volatilidade internacional, temos que dialogar sobre economia global, economia brasileira. É normal que a presidente converse com seu presidente do Banco Central, seu ministro da Fazenda, para construir seus cenários. Naturalmente não são as únicas fontes de informação da presidenta da República, mas quero crer, sim, que a informação do presidente do Banco Central é importante para a presidenta da República formar sua opinião.
Com que periodicidade o sr. fala com ela?
Não tem isso de periodicidade, falamos por telefone, principalmente nesses momentos de grande volatilidade do cenário econômico. Conversamos bem.
Em algum momento o sr. se sentiu pressionado nessas reuniões com a presidente Dilma para reduzir juros e aumentar crescimento?
Não, absolutamente não. Há certa pressão em relação a qual é a visão do Banco Central em relação ao que está acontecendo. Uma cobrança de como o Banco Central está vendo o cenário internacional, brasileiro, cobrança natural no sentido de melhor entender esses cenários que se movem com certa velocidade.
A presidente costuma dizer que gostaria de o BC não repetir erros do passado, como na crise de 2008, quando acredita que o banco deveria ter reduzido os juros. Ela conversa com o sr. sobre isso?
Nós conversamos sobre cenários de economia, de mudanças, de dados, de tendências. Não conversamos sobre decisões passadas nem futuras, mas sobre o que está ocorrendo.
O pensamento do sr. não é parecido com o dela, porque naquela época, quando era diretor do BC, o sr. chegou a defender um corte de juros que acabou não acontecendo?
Bem, se ela me convidou para ser presidente do Banco Central é porque deve haver alguma afinidade.
Como o sr. avalia a questão fiscal?
É uma variável exógena, que o Banco Central não controla. Nossa hipótese de trabalho, explicitada no relatório de inflação, é de um resultado fiscal de 3,15% do PIB neste ano e de cumprimento da meta cheia ao longo dos próximos anos, em torno de 3,10% do PIB.
O sr. não teme a questão fiscal no próximo ano por conta de pressões por gastos, como salário mínimo?
O Banco Central, de novo, trabalha com a hipótese de cumprimento da meta cheia do primário. Como isso vai ser alcançado, é decisão de governo.
Temos uma meta de inflação de 4,5%, uma das mais altas do mundo, quando o Brasil vai estar preparado para reduzi-la?
Nós vamos ter de avaliar o cenário global dos próximos anos para responder com precisão a essa sua pergunta. O cenário global mudou bastante, estamos entrando numa nova fase da crise. O que vai resultar lá na frente temos de avaliar ao longo do período.
No curto prazo não dá para reduzir essa meta.
Não, no curto prazo não.
O mercado faz definições sobre o comportamento dos banqueiros centrais. No seu caso, o sr. é avaliado como um economista com uma postura mais de pombo, adepto de uma política monetária mais suave, do que de falcão, mais conservador e ortodoxo. O que acha disso?
Se é essa a avaliação, estou muito bem acompanhado no mundo hoje em dia.
Por quê?
Porque no Brasil infelizmente ainda temos a taxa de juros mais elevada entre todos os países. Onde está a taxa de juros do Banco Central Europeu? Em 1,5%. Do Federal Reserve? Entre 0% e 0,25%. No Brasil, nós temos taxa de juros de quase 12%, a inflação acumulada em doze meses é de 7,3%, perspectiva nos próximos 15 meses de 5,5% pelo próprio mercado, uma taxa [real] positiva. Enfim, se eu sou classificado assim, eu estou muito bem acompanhado pelos meus pares.
Qual o Brasil o sr. espera deixar quando terminar seu mandato?
Um cenário de inflação estabilizada, na faixa que temos hoje, de 4,5%, que é a meta do Banco Central.
Não tem a ambição de ser menos do que 4,5% quando deixar o governo?
Estou falando nesse horizonte que estou atuando.
Mas no plano do desejo, do imaginário do sr., não técnico?
Inflação na meta, girando em torno da meta, uma economia crescendo de forma sustentável, um sistema financeiro robusto, bem capitalizado.
De quanto seria esse crescimento sustentável no final do seu mandato?
No plano ideal, você tem de elevar a poupança doméstica para permitir crescimento potencial maior da economia, não inflacionária.
Hoje nosso crescimento potencial está em 4,5%?
4,5%, talvez um pouco acima disso.
Quanto?
Entre 4,5% e 5%.
Dá para chegar ao final do seu mandato crescendo na casa de 5%?
De novo vai depender de como a economia vai se desenvolver.
'Inflação vai recuar em outubro', diz presidente do BC
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VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA
A inflação vai cair em outubro. A garantia é do presidente do Banco
Central, Alexandre Tombini, para quem "de jeito nenhum" o IPCA, índice
oficial da meta de inflação, ficará acima da taxa registrada em
setembro, quando atingiu o pico do ano ao bater em 7,31% no acumulado de
doze meses.
SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA
Para Tombini, que chegou a prever que o ponto mais alto da inflação em 2011 seria em agosto, nem mesmo uma piora no cenário externo muda sua previsão. "Não. Estamos acompanhando isso. Temos coletas diárias e elas estão vindo, na margem, entre 0,30% e 0,40%", contra uma taxa mensal no mês passado de 0,53% e de 0,75% em outubro do ano passado.
Inflação sobe 7,31% em 12 meses; maior resultado desde 2005
'Ajuste moderado' nos juros ainda é compatível com inflação, diz BC
Em entrevista à Folha, na sede do banco em São Paulo, Tombini tratou ainda de embates que tem protagonizado, incluindo as acusações de que o BC, sob sua administração, se tornou mais imprevisível, assumiu mais riscos e está mais moderado no combate à inflação.
Essa postura lhe rendeu o apelido de "pombini" no mercado financeiro -- referência ao jargão que classifica de "pombo" banqueiros centrais adeptos de uma política monetária mais suave no combate à inflação.
"Se é essa a avaliação, eu estou muito bem acompanhado no mundo hoje em dia", rebate Tombini, que acredita ter sido convidado pela presidente Dilma por ter "afinidades" com ela.
Ele diz ainda que o BC não pode adotar uma política de ser imprevisível e que, no curto prazo, o país não pode ter uma meta de inflação abaixo de 4,5%.
Presidente engresso do quadro de funcionários do banco, ele espera terminar seu mandato com inflação na meta de 4,5% e um crescimento sustentável para o país, que ele calcula estar hoje entre 4,5% e 5%.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Folha - O BC está aceitando mais inflação para não sacrificar crescimento. Isso não vai contra os princípios do sistema de metas?
Alexandre Tombini - O BC nunca falou que inflação maior no curto prazo seria necessária para evitar que a economia deixasse de crescer. O BC tem por princípio que o dilema inflação versus crescimento é um falso dilema. Você não cresce mais porque tem mais inflação. O que ocorreu no mundo é que a inflação subiu em todos os países. É um fenômeno disseminado. O que dissemos em março deste ano foi que prevíamos inflação no centro da meta em dezembro de 2012.
Então o mundo todo está tolerando mais inflação?
Não é questão de tolerar. A inflação subiu e sabemos muito bem que a política monetária age do lado da demanda. Tivemos no mundo inteiro um choque de oferta: as commodities (alimentos, petróleo), a primavera árabe, todas as questões da África e do oriente médio e o preço da energia subindo bastante. Com choque de oferta negativo, os BCs reagem a isso. O BC do Brasil foi um dos que mais reagiu. Não é questão de tolerar mais inflação.
O BC então fez uma adaptação do sistema de metas e passou a olhar 12 meses à frente e não o ano calendário?
O BC, dentro do regime, sem fazer qualquer ajuste, definiu como ponta de ancoragem dezembro de 2012.
Mesmo sabendo que pode estourar a meta em 2011, o BC mira 2012, isso não é uma ajuste?
O regime não mudou. Se mudasse, teríamos alterado a meta desse ano e não alteramos.
Quanto o sr. teme ter que escrever essa carta?
No relatório de inflação colocamos 45% de probabilidade disso ocorrer.
Não é um percentual elevado?
A nossa perspectiva é de redução da inflação, passando abaixo do teto da meta com 55% de probabilidade. A inflação está no pico, 7,31% ao ano, e vai cair até maio do ano que vem em dois pontos de percentagem. Já trabalhamos com inflação mais na faixa de 5% ao ano. Todo o mundo tem inflação caindo. Teremos inflação abaixo do teto [em 2011]. Se os outros 45% se materializarem, a inflação passará ligeiramente acima do teto, mas com perspectiva de redução.
Qual o custo econômico e político de ultrapassar o teto da meta em 2011?
A expectativa do mercado está em 6,52%, ligeiramente acima do teto de 6,5%. Isso já tem repercutido. O regime está preparado para essas questões. Dos países que seguem o sistema de metas de inflação, várias economias (Inglaterra, Nova Zelândia e outras) estão com inflação acima da banda ou acima da meta. Temos uma situação global e pode-se dizer que o Brasil não é um caso isolado de ter que lidar nesse momento com inflação mais elevada.
O dólar mais alto não comprometerá o cenário?
O movimento do dólar contra o real não vem desacompanhado. Mas tudo isso é muito recente, muito novo. O que sabemos é que a volatilidade é grande nesse período. Há turbulência no cenário internacional. E sabemos também que a economia global vai crescer pouco por um período prolongado em função da naturaza do problema, que é de confiança e tem a ver com o peso da dívida pública que tem que ser dissipado.
Ao reduzir os juros em sua última reunião, o BC ousou, fez uma aposta?
O BC não faz aposta. Quem faz aposta são os agentes de mercado. O BC tem um plano de voo. Desde o início do ano, nosso plano de voo, junto com outras políticas, era moderar o crescimento da economia brasileira. Há sinais cada vez mais nítidos de que essa moderação veio. Mas dissemos também que a política monetária atua com defasagem e que, no segundo semestre, a ação dessas políticas seria mais fortemente sentida. Isso vem ocorrendo. Nossa projeção era de crescimento de 4% [para 2011] até o relatório da semana passada. Em função da revisão dramática que houve no crescimento dos EUA, na zona do euro, no mês de agosto revisamos esse crescimento da economia brasileira para 3,5%.
O sr. chegou a prever o pico da inflação inicialmente para agosto, agora passou para setembro, com o IPCA atingindo 0,53%. Não teme que isso seja transferido para outubro?
De jeito nenhum. A inflação de outubro do ano passado foi de 0,75%. O Focus [estimativas do mercado] está com previsão de 0,48% [para outubro deste ano].
Então, a partir de agora a inflação começará a cair. Não há nenhum advento externo que possa mudar isso?
Não. Estamos acompanhando isso. Temos coletas diárias e elas estão vindo, na margem, entre 0,30% e 0,40% de inflação. Nossa perspectiva será um pouco mais alta do que isso, mas comparado com 0,75% de outubro do ano passado, são quase 0,30 ponto de baixa. Nosso horizonte é dezembro de 2012, mas em outubro a inflação em doze meses vai começar a recuar em 0,30 ponto, um pouco mais ou um pouco menos.
O BC reduziu para 3,5% a previsão de crescimento para 2011. O ministro Guido Mantega (Fazenda) e a presidente Dilma continuam trabalhando com 4%. Quem está mais otimista ou pessimista? Porque essa diferença?
O BC tem as suas premissas. Nossas previsões de crescimento são mais imprecisas do que as demais projeções, mas são as melhroes que temos internamente e divulgamos. O BC trabalha com autonomia nas suas avaliações, análises, nas suas decisões.
O sr. voltou a falar dos ajustes moderados na taxa de juros. Ajuste de 0,5 ponto percentual é moderado?
Não vou falar em níveis, mas comunicamos na decisão de agosto, quando reduzimos a taxa básica de 12,5% para 12% ao ano, que ajustes moderados seriam consistentes com a convergência da inflação para a meta de 2012. Essa visão de agosto, que foi o que levou o Copom a fazer o ajuste na política, continua válida.
O BC está com problema de comunicação com o mercado ou há má vontade com sua gestão?
Comunicação sempre pode melhorar. Acho que o BC tem um nível de comunicação bastante forte. Agora, é um processo que pode sempre melhorar.
A reclamação do mercado é que o BC de Tombini é mais imprevisível do que os anteriores. Como o sr avalia isso?
O BC não pode adotar uma política de ser imprevisível. A previsibilidade tem ganhos. Naturalmente, quando há muita volatilidade, muita incerteza, é natural que ocorram diferenças. Não é anormal que ocorra isso. Temos que botar nessa nessa conta o peso da maior volatilidade. Várias coisas mudaram. Hoje temos bancos centrais com inflação de 2,5% a 3% e taxa de juros de 1,5%, que estão usando instrumentos não convencionais para tentar restabelecer a normalidade dos mercados.
Quando o sr. acha que chegaremos a um juro de 9% ao ano como chegaram a prever ministros?
Temos meta de inflação, não de juros.
Declarações da presidente Dilma e do ministro Guido Mantega na véspera da decisão do Copom de cortar os juros criaram a impressão de interferência política. Até que ponto essas declarações prejudicam o trabalho do Banco Central?
O importante em relação ao tema é que o Banco Central trabalha com autonomia. Desde quando fui convidado pela presidente Dilma, em novembro do ano passado para assumir o BC, sempre trabalhei com essa premissa.
Como é sua relação com a presidente Dilma?
O presidente do Banco Central é ministro de Estado. Portanto e, principalmente em momentos de grande volatilidade internacional, temos que dialogar sobre economia global, economia brasileira. É normal que a presidente converse com seu presidente do Banco Central, seu ministro da Fazenda, para construir seus cenários. Naturalmente não são as únicas fontes de informação da presidenta da República, mas quero crer, sim, que a informação do presidente do Banco Central é importante para a presidenta da República formar sua opinião.
Com que periodicidade o sr. fala com ela?
Não tem isso de periodicidade, falamos por telefone, principalmente nesses momentos de grande volatilidade do cenário econômico. Conversamos bem.
Em algum momento o sr. se sentiu pressionado nessas reuniões com a presidente Dilma para reduzir juros e aumentar crescimento?
Não, absolutamente não. Há certa pressão em relação a qual é a visão do Banco Central em relação ao que está acontecendo. Uma cobrança de como o Banco Central está vendo o cenário internacional, brasileiro, cobrança natural no sentido de melhor entender esses cenários que se movem com certa velocidade.
A presidente costuma dizer que gostaria de o BC não repetir erros do passado, como na crise de 2008, quando acredita que o banco deveria ter reduzido os juros. Ela conversa com o sr. sobre isso?
Nós conversamos sobre cenários de economia, de mudanças, de dados, de tendências. Não conversamos sobre decisões passadas nem futuras, mas sobre o que está ocorrendo.
O pensamento do sr. não é parecido com o dela, porque naquela época, quando era diretor do BC, o sr. chegou a defender um corte de juros que acabou não acontecendo?
Bem, se ela me convidou para ser presidente do Banco Central é porque deve haver alguma afinidade.
Como o sr. avalia a questão fiscal?
É uma variável exógena, que o Banco Central não controla. Nossa hipótese de trabalho, explicitada no relatório de inflação, é de um resultado fiscal de 3,15% do PIB neste ano e de cumprimento da meta cheia ao longo dos próximos anos, em torno de 3,10% do PIB.
O sr. não teme a questão fiscal no próximo ano por conta de pressões por gastos, como salário mínimo?
O Banco Central, de novo, trabalha com a hipótese de cumprimento da meta cheia do primário. Como isso vai ser alcançado, é decisão de governo.
Temos uma meta de inflação de 4,5%, uma das mais altas do mundo, quando o Brasil vai estar preparado para reduzi-la?
Nós vamos ter de avaliar o cenário global dos próximos anos para responder com precisão a essa sua pergunta. O cenário global mudou bastante, estamos entrando numa nova fase da crise. O que vai resultar lá na frente temos de avaliar ao longo do período.
No curto prazo não dá para reduzir essa meta.
Não, no curto prazo não.
O mercado faz definições sobre o comportamento dos banqueiros centrais. No seu caso, o sr. é avaliado como um economista com uma postura mais de pombo, adepto de uma política monetária mais suave, do que de falcão, mais conservador e ortodoxo. O que acha disso?
Se é essa a avaliação, estou muito bem acompanhado no mundo hoje em dia.
Por quê?
Porque no Brasil infelizmente ainda temos a taxa de juros mais elevada entre todos os países. Onde está a taxa de juros do Banco Central Europeu? Em 1,5%. Do Federal Reserve? Entre 0% e 0,25%. No Brasil, nós temos taxa de juros de quase 12%, a inflação acumulada em doze meses é de 7,3%, perspectiva nos próximos 15 meses de 5,5% pelo próprio mercado, uma taxa [real] positiva. Enfim, se eu sou classificado assim, eu estou muito bem acompanhado pelos meus pares.
Qual o Brasil o sr. espera deixar quando terminar seu mandato?
Um cenário de inflação estabilizada, na faixa que temos hoje, de 4,5%, que é a meta do Banco Central.
Não tem a ambição de ser menos do que 4,5% quando deixar o governo?
Estou falando nesse horizonte que estou atuando.
Mas no plano do desejo, do imaginário do sr., não técnico?
Inflação na meta, girando em torno da meta, uma economia crescendo de forma sustentável, um sistema financeiro robusto, bem capitalizado.
De quanto seria esse crescimento sustentável no final do seu mandato?
No plano ideal, você tem de elevar a poupança doméstica para permitir crescimento potencial maior da economia, não inflacionária.
Hoje nosso crescimento potencial está em 4,5%?
4,5%, talvez um pouco acima disso.
Quanto?
Entre 4,5% e 5%.
Dá para chegar ao final do seu mandato crescendo na casa de 5%?
De novo vai depender de como a economia vai se desenvolver.
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