Saiba o que deixa as TVs gringas 'p da vida' com a Copa no Brasil
Carolina Juliano
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
- Carolina Juliano/UOLEmissoras de TV trabalham na cobertura de jogo da Copa das Confederações, no Mineirão, Belo Horizonte
"Para chegar a Manaus com uma unidade móvel precisamos três a quatro dias de estrada, cinco dias de balsa até Santarém e mais três dias em outra balsa até Manaus. Na volta, somam-se dois dias por problemas de horários nas balsas", explica Joao Carlos Serres, da SPTelefilm, produtora sediada em São Paulo. "Além disso, o seguro não cobre essa viagem fluvial e temos que colocar em risco equipamentos no valor de 5 milhões de dólares."
A própria Fifa já questionou a divisão feita pelo Brasil para abrigar os jogos da competição. O secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, disse em entrevista de dezembro passado que a Fifa não pediu ao Brasil 12 estádios e por isso não era a responsável pelos custos altos para a organização do Mundial. "O Brasil, baseado no tamanho do país, à época da presidência de Lula, decidiu junto com o comitê organizador que o país deveria ser dividido em quatro partes e que assim deveríamos basear a organização da Copa do Mundo", disse ele na ocasião.
Impostos e intermediários
Divide com as distâncias o papel de vilão dessa história as taxas de impostos. Serres lembra que o governo federal isentou de impostos apenas a Fifa e empresas estrangeiras detentora dos direitos de transmissão. Mas essas empresas muitas vezes procuram equipes locais para realizarem os trabalhos porque geralmente sai mais barato. "O problema é que nós, produtoras brasileiras que costumamos prestar serviços para essas emissoras estrangeiras não temos isenção alguma e nossa carga tributária chega a 30%".
De fato, a Presidência da República publicou em dezembro de 2010 lei que estabelece uma série de isenções de impostos federais para a realização da Copa do Mundo e da Copa das Confederações em 2013, segundo à qual a Fifa não precisa recolher impostos como o de Importação; sobre Produtos Industrializados (IPI); a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre bens e serviços importados; e a Contribuição para os Programas de Integração Social e Formação do Patrimônio do servidor Público (PIS-Pasep) sobre a importação.
Serres diz não discordar da reportagem do UOL Esporte que aponta os orçamentos abusivos, "mas gostaria de acrescentar que os preços estão nas alturas, além de todo o problema de logística e taxas, não por culpa das produtoras e sim pelo número assustador de intermediários", diz. "Para você entender, antes da Copa das Confederações nós recebemos mais de dez solicitações para a RAI SPORT, da Itália. Todas estas solicitações vieram por meio de terceiros, quartos etc. As TVs estrangeiras estão batendo nas portas erradas."
1,5 milhões de Euros por vista do Cristo
Para a produtora de uma corporação de TVs internacionais baseada no Rio de Janeiro, que prefere não divulgar seu nome por razões estratégicas, os problemas no Brasil são muitos e em vários âmbitos. "As TVs estrangeiras encontram problemas culturais, econômicos, geográficos. Isso tudo gera um enorme conflito e dificulta as negociações. Redes americanas e europeias não acreditam nos custos brasileiros, muitas vezes são três vezes mais altos que nos seus países sede", diz ela.
A produtora conta que fez parte do grupo que assessorou uma grande rede europeia em todo pré-projeto e sentiu na pele a exploração da qual os estrangeiros vêm se queixando. "Fiz o location scounting, que é a busca de possíveis locações para montagem do estúdio de transmissão, e, acredite se quiser, alguns proprietários chegaram a pedir cifras de até 1, 5 milhão de Euros por 45 dias de locação de um imóvel com vista para o Pão de Açúcar e Cristo Redentor, fora o custo de montagem e adequação do espaço."
Essa rede, conta a produtora, acabou optando por outra locação um pouco mais barata, assinou contrato, fez vistorias técnicas, elaborações de projetos arquitetônicos, porém pouco mais de 6 meses depois de tudo assinado, a emissora rescindiu o contrato alegando problemas estruturais. "Em minha opinião desistiram porque os valores ficaram impagáveis diante de tantos ágios em todos os serviços pertinentes. Esta rede iria trazer todos os seus equipamentos e corpo técnico, e hoje não tenho nem notícias de sua atuação no Mundial."
João Carlos Serres afirma que a SPTelefilm está praticando os preços normais, sem abusos, mas admite que os profissionais free lancers que precisam contratar estão mais caros por conta de terem que ficar 45 dias fora de casa. "Isso é normal em qualquer grande evento. O erro está nesta loucura das distâncias." Ele conta ainda que na Copa das Confederações sua equipe saiu de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro e foi obrigada a parar no meio da estrada, gerar matérias e fazer uma entrada ao vivo na frente de uma placa que mostrava que o Rio estava a 200 km. "E a Fifa não permite montar os equipamentos no mesmo dia do jogo e montar no dia anterior representa custo direto."
A SP Telefilm já tem contrato fechado com a TV Azteca do México. Este contrato engloba a Copa das Confederações, o sorteio dos grupos na Costa do Sauipe, na Bahia, e Copa do Mundo. "Tivemos uma desistência da TV do Equador, mas foi em razão dos custos de logística, hotel etc. e estrutura para a equipe deles e não pelo nosso suporte broadcast. Ainda estamos em negociação, mas será algo bem menor."
Lucros sem serviços
Sobre os intermediários, a produtora representante das TVs internacionais concorda com Serres. "Muitas empresas se valem de uma pessoa da mesma nacionalidade dentro da sociedade para criar uma credibilidade nas emissoras estrangeiras, pois temos a grande deficiência de profissionais que falem ao menos dois idiomas nas empresas e isso acaba virando uma grande barreira", explica.
Esses agentes, segundo ela, subcontratam freelancers até para elaborarem os contratos e fazem com que assinem termos de sigilos para que o cliente final não saiba de todo o processo. "O mais engraçado, no caso dos agentes estrangeiros que atuam aqui, é que em seus países de origem não tomam atitudes semelhantes, se valem, então, do discurso que o Brasil é o país do "jeitinho", que é "praxe de mercado" e justificam suas atitudes dizendo que o Brasil é um país muito caro."
Em relação à Copa do Mundo, ela diz o estrangeiro está se deparando com abusos em muitos setores. "Hotéis com preço médio de R$ 300,00/dia cobram no período da Copa do Mundo, para grupos grandes de mais de 40 pessoas por mais de 30 dias, (na teoria, seriam praticados valores mais acessíveis) o valor de R$ 1.200,00/dia. Isso é propaganda negativa, faltam profissionais capacitados em todos os setores, do táxi nos aeroportos aos profissionais ditos de "informação" dos eventos."
O governo federal já percebeu esses abusos e um comitê para monitorar os preços de passagens aéreas, diárias em hotéis e refeições em restaurantes durante a Copa. Na semana passada, o grupo determinou que hotéis publiquem na internet tarifas praticadas no Réveillon e Carnaval para que o turista possa comprar com o que está sendo cobrado durante a Copa. Os valores não podem ser mais altos que os cobrados nestes feriados.
As emissoras estrangeiras, de acordo com a produtora representante delas na América Latina, acabam reféns de toda essa situação, pois precisam fazer a cobertura da Copa do Mundo e vão gastar cifras exorbitantes para tal. "O Mundial é o evento esportivo mais assistido no mundo e ninguém quer deixar de estar presente", diz. "As que não podem pagar estão mesmo se apoiando em empresas como a Eurovision, Associated Press and Globecast para tentar compartilhar estruturas e desta forma amenizar um pouco os gastos."
Leia mais em: http://zip.net/bkl9ZT
O link tem mais.
http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/esporte/2014/01/23/onze-dias-para-chegar-a-manaus-e-15-milhao-de-euros-por-vista-do-cristo.htm
Para a produtora de uma corporação de TVs internacionais baseada no Rio de Janeiro, que prefere não divulgar seu nome por razões estratégicas, os problemas no Brasil são muitos e em vários âmbitos. "As TVs estrangeiras encontram problemas culturais, econômicos, geográficos. Isso tudo gera um enorme conflito e dificulta as negociações. Redes americanas e europeias não acreditam nos custos brasileiros, muitas vezes são três vezes mais altos que nos seus países sede", diz ela.
A produtora conta que fez parte do grupo que assessorou uma grande rede europeia em todo pré-projeto e sentiu na pele a exploração da qual os estrangeiros vêm se queixando. "Fiz o location scounting, que é a busca de possíveis locações para montagem do estúdio de transmissão, e, acredite se quiser, alguns proprietários chegaram a pedir cifras de até 1, 5 milhão de Euros por 45 dias de locação de um imóvel com vista para o Pão de Açúcar e Cristo Redentor, fora o custo de montagem e adequação do espaço."
Essa rede, conta a produtora, acabou optando por outra locação um pouco mais barata, assinou contrato, fez vistorias técnicas, elaborações de projetos arquitetônicos, porém pouco mais de 6 meses depois de tudo assinado, a emissora rescindiu o contrato alegando problemas estruturais. "Em minha opinião desistiram porque os valores ficaram impagáveis diante de tantos ágios em todos os serviços pertinentes. Esta rede iria trazer todos os seus equipamentos e corpo técnico, e hoje não tenho nem notícias de sua atuação no Mundial."
João Carlos Serres afirma que a SPTelefilm está praticando os preços normais, sem abusos, mas admite que os profissionais free lancers que precisam contratar estão mais caros por conta de terem que ficar 45 dias fora de casa. "Isso é normal em qualquer grande evento. O erro está nesta loucura das distâncias." Ele conta ainda que na Copa das Confederações sua equipe saiu de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro e foi obrigada a parar no meio da estrada, gerar matérias e fazer uma entrada ao vivo na frente de uma placa que mostrava que o Rio estava a 200 km. "E a Fifa não permite montar os equipamentos no mesmo dia do jogo e montar no dia anterior representa custo direto."
A SP Telefilm já tem contrato fechado com a TV Azteca do México. Este contrato engloba a Copa das Confederações, o sorteio dos grupos na Costa do Sauipe, na Bahia, e Copa do Mundo. "Tivemos uma desistência da TV do Equador, mas foi em razão dos custos de logística, hotel etc. e estrutura para a equipe deles e não pelo nosso suporte broadcast. Ainda estamos em negociação, mas será algo bem menor."
Lucros sem serviços
Sobre os intermediários, a produtora representante das TVs internacionais concorda com Serres. "Muitas empresas se valem de uma pessoa da mesma nacionalidade dentro da sociedade para criar uma credibilidade nas emissoras estrangeiras, pois temos a grande deficiência de profissionais que falem ao menos dois idiomas nas empresas e isso acaba virando uma grande barreira", explica.
Esses agentes, segundo ela, subcontratam freelancers até para elaborarem os contratos e fazem com que assinem termos de sigilos para que o cliente final não saiba de todo o processo. "O mais engraçado, no caso dos agentes estrangeiros que atuam aqui, é que em seus países de origem não tomam atitudes semelhantes, se valem, então, do discurso que o Brasil é o país do "jeitinho", que é "praxe de mercado" e justificam suas atitudes dizendo que o Brasil é um país muito caro."
Em relação à Copa do Mundo, ela diz o estrangeiro está se deparando com abusos em muitos setores. "Hotéis com preço médio de R$ 300,00/dia cobram no período da Copa do Mundo, para grupos grandes de mais de 40 pessoas por mais de 30 dias, (na teoria, seriam praticados valores mais acessíveis) o valor de R$ 1.200,00/dia. Isso é propaganda negativa, faltam profissionais capacitados em todos os setores, do táxi nos aeroportos aos profissionais ditos de "informação" dos eventos."
O governo federal já percebeu esses abusos e um comitê para monitorar os preços de passagens aéreas, diárias em hotéis e refeições em restaurantes durante a Copa. Na semana passada, o grupo determinou que hotéis publiquem na internet tarifas praticadas no Réveillon e Carnaval para que o turista possa comprar com o que está sendo cobrado durante a Copa. Os valores não podem ser mais altos que os cobrados nestes feriados.
As emissoras estrangeiras, de acordo com a produtora representante delas na América Latina, acabam reféns de toda essa situação, pois precisam fazer a cobertura da Copa do Mundo e vão gastar cifras exorbitantes para tal. "O Mundial é o evento esportivo mais assistido no mundo e ninguém quer deixar de estar presente", diz. "As que não podem pagar estão mesmo se apoiando em empresas como a Eurovision, Associated Press and Globecast para tentar compartilhar estruturas e desta forma amenizar um pouco os gastos."
Leia mais em: http://zip.net/bkl9ZT
O link tem mais.
http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/esporte/2014/01/23/onze-dias-para-chegar-a-manaus-e-15-milhao-de-euros-por-vista-do-cristo.htm
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