Brasil
Governo Dilma
Dilma e seus 70 ministros
Presidente se prepara para promover as últimas trocas em seu ministério nas próximas semanas. E o saldo da gigantesca equipe não é dos melhores
Gabriel Castro, de Brasília
Antonio Palocci, o primeiro homem forte de Dilma a cair
(Antonio Cruz/ABr)
Esta deve ser a última grande mudança na equipe ministerial. E o saldo do governo não é dos melhores. Desde 2011, sem contabilizar as próximas mudanças, o time de Dilma que ocupa os inacreditáveis 39 ministérios teve 60 nomes. Serão mais de 70 após a reforma. É verdade que alguns, como a paranaense Gleisi Hoffmann (Casa Civil), por exemplo, ganharam cacife durante a gestão petista. Mas, na balança, o governo foi marcado por ministros que se destacaram pelas trapalhadas ou foram defenestrados por envolvimento em irregularidades. Sete ministros caíram por causa de denúncias de corrupção – começando pelo primeiro homem forte do governo, Antonio Palocci (Casa Civil). Outros, como Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, só apareceram por causa de declarações inconvenientes. E alguns passaram em branco: Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, comanda o Bolsa Família, mas estava de férias quando a crise causada pelo boato do fim do programa estourou.
Refém das más escolhas e da aliança que garante uma base robusta no Congresso, Dilma teve dificuldades com sua equipe desde o começo da gestão. Durante os protestos de junho do ano passado, por exemplo, quem assumiu a interlocução pelo Palácio do Planalto foi Aloizio Mercadante, ministro da Educação. A articulação política com o Congresso Nacional nunca foi plenamente exercida pela pasta das Relações Institucionais, sob o instável comando de Ideli Salvatti.
As trocas constantes, por inépcia ou desvios éticos, tampouco permitiram que a presidente passasse mais de seis meses com o mesmo time de ministros. Antonio Palocci deixou a Casa Civil depois de não conseguir explicar as consultorias que prestou a companhias privadas quando já era coordenador de campanha de Dilma. Depois, caiu Alfredo Nascimento (Transportes), arrolado em um esquema de desvio de recursos públicos para abastecer o caixa do PR, como VEJA revelou. Em seguida, foram demitidos em série Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esporte), Carlos Lupi (Trabalho) e Mário Negromonte (Cidades). Dilma, aliás, até tentou usar a derrocada dos ministros para propagandear que havia promovido uma "faxina ética" no ministério. Mas o discurso caiu por terra quando ela teve de devolver, por exemplo, a pasta dos Transportes ao PR em troca de votos no Congresso.
A lista poderia ser maior: outros ministros flagrados em atitudes condenáveis resistiram por iniciativa da presidente. Foi o caso de Fernando Pimentel, que recebeu milhões de reais por consultorias prestadas enquanto já era um dos coordenadores da campanha presidencial.
Outros episódios se tornaram notórios: o chanceler Antonio Patriota perdeu o cargo após a fuga do senador boliviano Roger Molina para o Brasil. Já Nelson Jobim, que comandava a Defesa, deixou o posto porque falou demais – criticou colegas de ministério.
Trapalhadas – O time dos que se destacaram por suas trapalhadas tem como maior expoente a petista Maria do Rosário, incansável no metiê de dar declarações inoportunas. No ano passado, ela foi a primeira a acusar a oposição pelos boatos de que o Bolsa Família seria extinto. Depois que a tese se mostrou furada, não se preocupou em pedir desculpas.
A ministra também comandou a exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, propalando a suspeita de que ele foi envenenado – hipótese que nem mesmo a família do ex-presidente havia levantado. No mais recente episódio, Maria do Rosário divulgou uma nota afirmando que um jovem homossexual havia sido "brutalmente assassinado" em São Paulo, sem aguardar os resultados da investigação da Polícia Civil. Nesta semana, a própria família acabou admitindo que o rapaz cometeu suicídio, pulando de um viaduto no cento da capital paulista.
O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, tem como atribuição o contato do Executivo com os movimentos sociais. Mas, como mostraram os protestos de junho, falhou em detectar o crescimento da insatisfação popular (e depois teve auxiliares flagrados na linha de frente de um quebra-quebra contra a Copa das Confederações). O petista também usou o posto como palanque para atacar a oposição e se enrolou, por exemplo, ao disparar declarações descabidas sobre evangélicos (tratados como adversários do PT) e ao fracassar na interlocução do Planalto com indígenas.
Iriny Lopes, que passou treze meses à frente da Secretaria de Políticas para as Mulheres, também se lançou em batalhas quixotescas. Em uma delas, brigou para retirar do ar uma propaganda em que a modelo Gisele Bundchen aparecia de lingerie. Era machismo, bradou a ministra. Em outra ocasião, Iriny emitiu uma nota pública exigindo que o autor Aguinaldo Silva adaptasse uma novela da Globo para que uma personagem vítima de violência doméstica procurasse um serviço do governo.
A lista de nomes olvidáveis (e devidamente olvidados) é extensa. Alguém sabe, por exemplo, o que faz Marcelo Néri, o comandante da Secretaria de Assuntos Estratégicos? "São muitos descontroles que comprometem a eficiência do governo Dilma. A máquina está emperrada e há interesses difusos", afirma o cientista político Antonio Flávio Testa, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). Ele chama atenção para o fato de que o excesso de ministérios e o loteamento de cargos entre partidos e alas do PT comprometem a eficiência da gestão. Com a perspectiva de que a reforma ministerial seja usada para preparar o cenário eleitoral de outubro, há muito poucas chances de mudança.
As constantes alterações na equipe favoreceram alguns ministros, que conseguriam ganhar espaço na gestão de Dilma Rousseff. Entre eles, estão Gleisi Hoffmann, que estava no primeiro ano de mandato no Senado quando assumiu a Casa Civil e agora, com mais cacife político, vai se candidatar ao governo do Paraná. Aloizio Mercadante, por sua vez, começou o governo no Ministério de Ciência e Tecnologia, passou para a Educação e agora comandará o posto mais importante da equipe ministerial no lugar de Gleisi.
Os ministros enrolados de Dilma
Antonio Palocci
O ministro mais poderoso do governo também foi o que menos durou: Palocci caiu em junho de 2011, após sucessivas revelações sobre as nebulosas consultorias prestadas pelo petista quando ele coordenava a campanha eleitoral de Dilma Rousseff e já era visto como futuro ministro da Casa Civil. O patrimônio de Palocci aumentara 25 vezes em um período de quatro anos. O governo tentou blindá-lo, mas a pressão da opinião pública tornou-se insustentável.
Carlos Lupi
Não foi o único a cair por causa de denúncias de corrupção, mas se destacou pela quantidade de irregularidades e pelo cinismo com o qual reagiu ao episódio. Chegou a declarar seu "amor" pela presidente Dilma. Não adiantou: apesar da demora, a demissão veio quando o Comitê de Ética Pública da Presidência recomendou que o ministro perdesse o cargo.
Pedro Novais
Pedro Novais foi empossado ministro mesmo após a denúncia de que ele utilizou dinheiro da Câmara dos Deputados, para a qual foi eleito deputado, para custear uma farra em um motel de São Luís. Mas Dilma Rousseff não achou o caso suficientemente grave para tirar o cargo do peemedebista. Pedro Novais só caiu em setembro de 2011, depois de uma operação da Polícia Federal que desmontou um esquema de corrupção no ministério e prendeu o número dois da pasta.
Iriny Lopes
Enquanto esteve à frente da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes conseguiu ganhar os holofotes pelos motivos errados: a falta de bom senso da petista a levou a empreitadas como a censura a um comercial de televisão em que Gisele Bundchen aparecia de lingerie, uma tentativa de interferência no enredo de uma novela da TV Globo e a ataques a um quadro do humorístico Zorra Total. Aparentemente, Iriny assistiu a muita televisão e trabalhou pouco.
Antonio Patriota
O ministro das Relações Exteriores perdeu o cargo logo após a fuga do senador boliviano Roger Molina para o Brasil. Molina, perseguido pelo governo de seu país, havia permanecido quinze meses na embaixada brasileria na Bolívia. Com a ajuda de diplomatas brasileiros, ele viajou de carro até a fronteira, onde o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) o aguardava. Patriota disse não ter sido informado da operação, comandada por um funcionário da chancelaria. Mas isso não foi suficiente para garantir-se no cargo.
Maria do Rosário
Nenhum ministro se precipitou com tanta persistência e falta de autocrítica quanto a petista Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos. O padrão era tão destoante que, quando um blogueiro de humor publicou um texto afirmando que Maria do Rosário lamentava a morte de um bandido em um assalto, muita gente acreditou. Mas nem assim ela conseguiu agir adequadamente: reagiu de forma desproporcional e tentou retirar a página do ar. A última atitude inadequada da petisa se deu na semana passada, quando ela emitiu uma nota lamentando o que seria o "assassinato brutal" de um adolescente homossexual em São Paulo. Logo depois, a própria família reconheceu que ele havia se suicidado.
Os ministros que ninguém viu
Tereza Campello
A ministra do Desenvolvimento Social comanda o principal programa do governo, o Bolsa Família. Mas teve um desempenho apagado desde o início do mandato. Em maio do ano passado, enfim, surgiu a oportunidade de demonstrar capacidade de eficiência: boatos levaram milhares de pessoas a agências da Caixa Econômica Federal. Os rumores eram que o Bolsa Família seria extinto. De Tereza Campello, esperava-se uma reação frme. Mas a ministra não se incomodou: saiu de férias.
Moreira Franco
No início do governo, o peemedebista foi alocado na Secretaria de
Assuntos Estratégicos, criada anos antes pelo governo Lula para acomodar
Roberto Mangabeira Unger. Sem qualquer poder efetivo, o ministro de
Dilma passou em branco todo o seu período à frente da pasta. Em março de
2013, foi realocado para a Secretaria de Aviação Civil. Ninguém sabe
dizer se isso foi castigo ou promoção.
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